Por que nossa Igreja não tem “louvorzão”, nem instrumentos, solos, conjuntos e corais?
20 set 2008 · Textos Reformados — Indique a um amigo
Rev. Josafá Vasconcelos
Não temos e nem teremos. A questão não é circunstancial, mas, de convicção. Como você já tomou conhecimento, quando falamos do cântico dos Salmos, nossa decisão foi adotar o Princípio Regulador do Culto, conforme nossa Confissão de Fé dispõe, a saber, “… o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade limitada pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens… ou qualquer outro modo não prescrito na Sua Palavra”. E uma vez que o culto neo-testamentário é destituído do elemento cerimonial , sacerdotal representativo, isto é, ninguém canta mais por ninguém, agora todos cantamos, por que, todos somos sacerdotes (I Ped 2:9).
No V.T, havia um coral de homens, sacerdotes levitas, e muitas outras cerimônias próprias do que Calvino chama de “a infância da Igreja”, mas estas coisas foram abolidas e instituído o culto simples do Novo Testamento. Quando a mulher samaritana questionou o Senhor Jesus sobre a adoração, Ele descartou a continuação do culto local e cerimonial de “Jerusalém” (Jó 4:20,21), daquele momento em diante, estava estabelecido, pelo Senhor da Igreja, uma nova maneira de adorar a Deus, em todo lugar e, “em Espírito e verdade”(Jô 4:23).
Na carta aos Hebreus, o autor se reporta a esta extraordinária mudança: “Tendo dito acima, sacrifícios, ofertas, holocaustos e oblações não quiseste, nem deles te deleitastes, coisas que se oferecem segundo a Lei, agora disse: eis me aqui para fazer a Tua vontade, tira o primeiro para estabelecer o segundo”(Heb 10:8,9). Sendo assim, toda e qualquer tentativa de se repetir os culto cerimonial da antiga aliança, está em total desagrado com a vontade do Pai. De agora em diante, excluindo a forma cerimonial, visível e representativa, os elementos do culto, tais como: Oração, Leitura das Escrituras, Cântico dos Salmos, Pregação e Administração dos Sacramentos, são os únicos componentes do culto simples que Deus mesmo instituiu para a Sua Igreja na nova dispensação. Portanto, Solos, Corais, Conjuntos, Bandas e Orquestras, tudo isso é estranho ao Culto do Novo Testamento. É muito difícil renunciar tudo isso, e, a não ser que Deus opere por sua graça e poder através da simples instrução de sua Palavra, jamais abandonaremos estas práticas, que não são ordenadas nas Escrituras, antes foram introduzidas pela vontade do homem, e que, “sacralizadas” através do tempo, fazem parte do nosso conceito de culto.
Particularmente para mim foi especialmente difícil. Filho de regente de coro, amante de quartetos e conjuntos, cantor evangélico com CDs gravados, passei grande parte da minha vida intimamente envolvida com a música na Igreja nos apreciados períodos de louvor!
De repente tudo vai por “água baixo”! Descobri que nada disso está ordenado nas Escrituras para o culto do Novo Testamento. O louvor é eminentemente congregacional! Ah! Como me causou surpresa saber que o “hino” que Jesus cantou ao instituir a Ceia foi um salmo do Hallel. E eu que estava quase certo que poderia ser um dos hinos do nosso hinário!. Foi difícil ter que concordar que os “salmos, hinos e cânticos espirituais” não eram os “salmos, hinos e corinhos” que conhecemos, e sim que o apóstolo Paulo estava utilizando os títulos (inspirados) comuns no livro os Salmos conforme se encontram em nossas Bíblias; e que era uma forma literária hebraica (triádica, sinonímica), repetir com palavras diferentes o mesmo sentido, como em vemos em Ex 34:7 “… que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado”. Mais difícil ainda, foi ter coragem de aplicar o Princípio Regulador do Culto, conforme os puritanos o aplicavam, e descobrir que não há uma ordem sequer para o uso de instrumentos no N.T. e que estes só foram introduzidos no culto após o século IX e nas sinagogas somente a partir de 1810.
Por que não há uma só referência no N.T. que apóie o uso dos instrumentos no culto? Não havia o uso deles abundantemente no culto do VT? Talvez você retruque dizendo: “não há referência no N.T., porque não é necessário, como algo que já teria sido regulado”. Contudo, por se tratar de duas dispensações diferentes quanto à administração, e elementos de natureza cerimonial, e, portanto, temporários que desapareceram no culto do N.T. e pelo fato de o culto ser de exclusiva prerrogativa do Senhor, assim como foi expressamente ordenado o uso de instrumentos no VT, teríamos que esperar ordem expressa, também no culto do N.T.
Para uma compreensão melhor, é necessário analisarmos um texto do V.T extremamente importante, vejamos:
“Então o rei Ezequias se levantou de madrugada, e ajuntou os príncipes da cidade e subiu à casa do Senhor. E trouxeram sete novilhos, sete carneiros, sete cordeiros e sete bodes, como oferta pelo pecado a favor do reino, e do santuário e de Judá; e o rei deu ordem aos sacerdotes, filhos de Arão, que os oferecessem sobre o altar do Senhor. Os sacerdotes, pois imolaram os novilhos, e tomando o sangue o espargiram sobre o altar; também imolaram os carneiros, e espargiram o sangue sobre o altar; semelhantemente imolaram os cordeiros, e aspergiram o sangue sobre o altar. Então trouxeram os bodes, como oferta pelo pecado, perante o rei e a congregação, que lhes impuseram as mãos; E os sacerdotes os imolaram, e com o seu sangue fizeram uma oferta pelo pecado, sobre o altar, para fazer expiação por todo o Israel. Porque o rei tinha ordenado que se fizesse aquele holocausto e aquela oferta pelo pecado por todo o Israel. Também dispôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas. conforme a ordem de Davi, e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque esta ordem viera do Senhor, por meio de seus profetas. E os levitas estavam em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes com as trombetas. E Ezequias ordenou que se oferecesse o holocausto sobre o altar; e quando começou o holocausto, começou também o canto do Senhor, ao som das trombetas e dos instrumentos de Davi, rei de Israel.
Então toda a congregação adorava, e os cantores cantavam, e os trombeteiros tocavam; tudo isso continuou até se acabar o holocausto. Tendo eles acabado de fazer a oferta, o rei e todos os que estavam com ele se prostraram e adoraram. E o rei Ezequias e os príncipes ordenaram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe, o vidente. E eles cantaram louvores com alegria, e se inclinaram e adoraram. Então o rei Ezequias se levantou de madrugada, e ajuntou os príncipes da cidade e subiu à casa do Senhor. E trouxeram sete novilhos, sete carneiros, sete cordeiros e sete bodes, como oferta pelo pecado a favor do reino, e do santuário e de Judá; e o rei deu ordem aos sacerdotes, filhos de Arão, que os oferecessem sobre o altar do Senhor. Os sacerdotes, pois imolaram os novilhos, e tomando o sangue o espargiram sobre o altar; também imolaram os carneiros, e espargiram o sangue sobre o altar; semelhantemente imolaram os cordeiros, e espargiram o sangue sobre o altar. Então trouxeram os bodes, como oferta pelo pecado, perante o rei e a congregação, que lhes impuseram as mãos; E os sacerdotes os imolaram, e com o seu sangue fizeram uma oferta pelo pecado, sobre o altar, para fazer expiação por todo o Israel. Porque o rei tinha ordenado que se fizesse aquele holocausto e aquela oferta pelo pecado por todo o Israel. Também dispôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, alaúdes e harpas conforme a ordem de Davi, e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque esta ordem viera do Senhor, por meio de seus profetas. E os levitas estavam em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes com as trombetas. E Ezequias ordenou que se oferecesse o holocausto sobre o altar; e quando começou o holocausto, começou também o canto do Senhor, ao som das trombetas e dos instrumentos de Davi, rei de Israel. Então toda a congregação adorava, e os cantores cantavam, e os trombeteiros tocavam; tudo isso continuou até se acabar o holocausto. Tendo eles acabado de fazer a oferta, o rei e todos os que estavam com ele se prostraram e adoraram. E o rei Ezequias e os príncipes ordenaram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras e Davi, e de Asafe, o vidente. “E eles cantaram louvores com alegria, e se inclinaram e adoraram.” (II Cr 9:20-30).
Analisando esse texto, notamos que, ao que tudo parece, não havia instrumentos no culto, até que foi ordenado pelo Senhor, através de Davi, Gade e o profeta Natã, e acrescenta, “esta ordem veio do Senhor, por meio dos seus profetas”(verso 25). Davi, portanto, introduziu instrumentos no culto do V.T porque recebera uma ordem expressa do Senhor.
Outra coisa que vemos nesse texto, é que eles foram introduzidos apenas para o período em que o holocausto acontecia:
“… E QUANDO COMEÇOU O HOLOCAUSTO, começou também o canto do Senhor, ao som das trombetas e dos instrumentos de Davi, rei de Israel. Então toda congregação adorava, e os cantores cantavam, e os trombeteiros tocavam; tudo isso continuou, ATÉ SE ACABAR O HOLOCAUSTO” (Vs. 27e28).
Podemos então concluir, que os instrumentos, bem como o canto de coral (levítico), estavam ligados, essencialmente, ao aspecto CERIMONIAL do culto, a saber, ao holocausto, que deixou de existir no culto do Novo Testamento.
Calvino coloca os instrumentos como parte desse aspecto cerimonial do culto, e reputando-os como parte da infância da Igreja. Vejamos o que é dito a seu respeito sobre o assunto:
“Até aqui, o que se viu é o pensamento de Calvino quanto ao canto, ao que se deve acrescentar ainda, que em seu entendimento não deveria ser exercitado pelos corais e conjuntos de vozes que não incluíssem toda a congregação. Contudo, não se vê muito o ensino de Calvino quanto aos instrumentos musicais, isso, certamente, é por ele não entender que os mesmos são necessários, ou melhor, devidos no culto. Em seu comentário ao Livro dos Salmos ele escreveu que o uso de instrumentos não era algo devido à dispensação do Evangelho. O instrumento consistia numa ajuda ao povo que ainda vivia à sombra do que haveria de vir, mas que hoje o cristão vive em plena maturidade e não precisa desse tipo de auxílio para entoar o cântico ao Senhor. Ele condenava veementemente o uso de instrumentos musicais por parte dos papistas, chamando-os de insensatos. Calvino apenas aprovava o uso das vozes como artifício musical, e que os salmos não ensinavam, ou exigiam o uso dos instrumentos, mas apenas faziam uma espécie de descrição, ou melhor, uma conclamação ao povo segundo o que era costume da época.” ( Moura Lopes Coelho, Ri cardo. Calvino e a Adoração Comunitária).
O Cântico no culto do Novo Testamento, na Igreja do nosso Senhor Jesus Cristo, deve ser, portanto, à capela, isto é, sem instrumentos, como diz o autor de Hebreus, “Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.” (Hb 13:15). As harpas mencionadas no livro do Apocalipse, e mesmo os cânticos, não servem de parâmetro para o nosso culto, pois é parte de uma dispensação futura, cuja experiência será da Igreja triunfante. Por enquanto, somos a Igreja militante e a nossa forma de cultuar deve ser estritamente como o Senhor no-lo ordenou e foi praticado pelos apóstolos enquanto viveram na terra. É digno de nota que o uso de instrumentos na Igreja, só foi registrado nos meados do século IX, isto é quando a igreja já estava degenerada pelas invenções dos papas e concílios. Por ocasião da Reforma, nem tudo foi reformado instantaneamente, os luteranos seguiram um vertente mais liberal e continuaram com os instrumentos, mas Zuínglio e, mais tarde, Calvino e os Puritanos tomaram o rumo mais restrito, do que chamamos hoje Princípio Regulador do Culto, e eliminaram o uso de instrumentos, por não encontrarem um texto sequer no N.T ordenando seu uso. E nós, que recebemos essa herança, fazemos o mesmo.
Conforme estamos vendo, a adoração na Igreja, até quase um milênio, foi absolutamente simples e bíblica, com cânticos dos Salmos e sem uso de instrumentos. Houve nos primeiros séculos uma tentativa de se agregar ao culto, hinos não inspirados, mas por parte de hereges que queriam impor suas idéias. O nosso irmão Thiago Baía, pesquisando sobre esse assunto diz:
“Veja o que o historiador Philip Schaff escreveu:
‘Até onde podemos juntar as nossas fontes, nada, exceto os Salmos e os hinos do NT foram como regra para serem cantados no culto público antes do século IV. Porém, meados do final daquele século, a prática de cantar outros hinos no culto da Igreja tornou-se comum, tanto no Leste quanto no Oeste’.
Há vários fatores que conspiram em provar que hinos não-inspirados foram pouco cantados no culto público durante os três primeiros séculos da era do Cristianismo. Registros extensos, por exemplo, de pesquisas feitas pelos livros dos cristãos durante os tempos da perseguição, não fazem menção de hinos, ao contrário, as Escrituras Canônicas e especialmente cópias do Saltério são freqüentemente mencionados. Na verdade, durante a igreja pós-apostólica os hereges gnósticos foram os primeiros escritores de hinos não-inspirados cuja teologia rejeitava os Salmos, escreveram hinos para propagarem a doutrina corrupta e inculcar em seus seguidores suas heresias. Preste atenção a que E. E. Ryden relatou:
‘Logo no começo do segundo século, um professor Gnóstico chamado Bardesanes, nascido em Edessa em 154 d.C., tinha ganhado muitos Cristãos a adotar suas heresias por meio de suas melodias e hinos encantadores’.
Bardesanes e seu filho Hamonius, na verdade, compuseram um saltério gnóstico contendo 150 hinos. Os Arianos fizeram o mesmo.
“Meados do século IV o hino tornou-se carro chefe da heresia Ariana”.
Este problema foi tão grande que uma série de concílios lidaram com a situação. Estes concílios reafirmaram a suficiência dos Salmos inspirados e tentaram prevenir a introdução de hinos não-inspirados dentro do culto da Igreja. O Concílio de Laodicéia em 381 d.C. proibiu o uso eclesiástico dos salmos não inspirados. O Concílio de Calcedônia em 451 d.C. confirmou este decreto. O Concílio de Braga também ordenou que as composições poéticas não poderiam ser usadas no serviço de louvor a Deus. Por último, o concílio de Toledo no século VII reiterou a mesma prescrição”
Como dissemos, na época da Reforma, os reformadores se dividiram quanto ao Princípio Regulador do Culto. Os Luteranos admitiram fazer o que a Bíblia não proíbe e os Calvinistas, somente o que a Bíblia ordena, por isso Lutero optou pelos hinos e Calvino pelos Salmos e com ele os Puritanos, que introduziram a mesma determinação nos nossos símbolos de Fé.
No século XVIII, com o “Grande Despertamento”, como foi chamado o grande avivamento que varreu a Inglaterra e Nova Inglaterra, foi que os hinos começaram a ser introduzidos no culto, como nos diz Michel Bushell:
“Na realidade as Igrejas Reformadas e Anglicanas não começaram a introduzir hinos não-inspirados no culto somente até o século XVIII, quando os hinos de Issac Watts e Charles Wesley ficaram famosos. Mas, no culto Reformado, o cântico congregacional consistia exclusivamente em cantar os salmos, voltamos a dizer, por causa do Princípio Regulador do Culto”.
Quando no século seguinte, o Evangelho chegou ao Brasil, pelos missionários, o Dr. Kalley, médico escocês presbiteriano, que se casou com Sara Pulton, congregacional, musicista, ambos influenciados pelo avivamento, haviam confeccionado um hinário para a Igreja de língua portuguesa, chamado “Salmos e Hinos Primitivo” contendo 50% de salmos e 50% de hinos. Este equilíbrio foi se desfazendo com significativo prejuízo para os Salmos, nas novas edições, a ponto de se reduzirem a pouquíssimos salmos hoje. O hinário Novo Cântico, de nossa Igreja, seguiu a mesma esteira do Hinário Evangélico, e os salmos que existem, nem são reconhecidos como tais.
O pior ainda estava por vir. Nos anos 60, nos E.U.A, ocorreu um movimento entre os jovens americanos, mais propriamente no meio dos chamados “hippie”, logo depois do grande evento do século no mundo da música o “Festival de Woodstock”, chamado “Jesus”. O famoso evangelista Billy Grahan escreveu um livro retratando este importante episódio que impactou a América. Foi desse movimento, entre os jovens, que surgiram aquelas canções curtas, com mensagens bíblicas repetitivas, ao rítmo do rock balada, que hoje chamamos de “corinhos”. Eles surgiram de encontros, desses jovens que, no campo ou nas praias, reunidos ao pé de uma fogueira, com um violão, cantavam esses cânticos, ao rítmo de palmas e balanço do corpo, e por isso foi também chamado de movimento “Wave” (Balançar como onda). Foi assim que nos cultos de nossas igrejas, aqui também no Brasil, foram introduzidos os tais corinhos, com pretexto de segurar os jovens nas Igrejas, tornaram-se tão populares, que os líderes se renderam e criaram, dentro da liturgia o momento do culto chamado “louvor”, que passou a ser o elemento principal e de maior duração. Eu mesmo fui protagonista desse triste acontecimento e me lembro bem quando pela primeira vez foi introduzido no culto da Igreja Presbiteriana da Penha os tais “corinhos”. O culto nunca mais foi o mesmo! Deixou de ser exclusivamente para Deus, e passou a ser para nosso entretenimento, depois vieram as bandas , com uma parafernália de instrumentos, mesas de som com seus múltiplos decibéis e por fim a coreografia e dança litúrgica. Quando vão parar? Não vão parar! Pois eles desprezam os limites que Deus colocou para o Seu culto nas Escrituras. Para eles o culto não pertence a Deus, mas a eles próprios, como o apóstolo Paulo chama de “culto da vontade” (Col 2:23).
Às duras penas estamos fazendo o caminho de volta. Aqui estamos nós, Igreja Presbiteriana da Herança Reformada, resgatando do culto puro das Escrituras, praticado pelos nossos irmãos da Igreja Primitiva e os reformados da esteira calvinista. Que Deus nos ajude! “Igreja Reformada sempre reformando!”
sábado, 30 de janeiro de 2010
O Louvor no Culto Cristão
"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo"; o Livro de Salmos e o louvor cristão
Gilson Santos
Qual o lugar das Escrituras Sagradas naquilo que cantamos em ato de culto ao Senhor? Creio que uma reflexão acerca do papel que as Escrituras devem ocupar em nosso canto no ato de culto é muito digna de ser feita, e devemos estar dispostos e abertos a aprender com ela. O Apóstolo Paulo diz em Colossenses 3.16: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração". Ao comentar este texto, João Calvino (1509-1564) relembra que "toda a Escritura é útil para o ensino" (II Timóteo 3.16). Ele insta a que façamos uso verdadeiro da Palavra de Cristo, e que cantemos poeticamente músicas apropriadas que sejam ricas em conteúdo bíblico.
Isto nos adverte do rigor teológico que deve ser aplicado à oração, ao canto e à pregação no culto cristão. Podemos dizer que a oração aceitável é aquela que Jesus Cristo pode encaminhá-la ao Pai em nosso nome. Isso está de acordo com o ensino sobre "tudo que pedirdes em meu nome", que alguns exegetas propõem significar não "por meu intermédio", mas "como meus porta-vozes". E o rigor teológico aplicado ao canto cristão não pode ser menor do que aquele que deve ser aplicado à pregação. Tanto um quanto outro devem estar rigidamente conformados à Palavra de Deus. Ninguém, pois, deve se sentir livre para ensinar outros a errar. Que a Palavra de Deus habite ricamente entre nós, e que, "enchendo-nos do Espírito", falemos "entre nós com salmos, hinos e cânticos espirituais" (Efésios 5.19-20).
O Saltério
O Livro dos Salmos é o livro litúrgico por excelência da religião judaica, contendo cantos e orações coletados ao longo dos séculos. Trata-se de uma coletânea de 150 cânticos ou poemas espirituais, muitos dos quais foram compostos para adoração, por meio da música, no Tabernáculo e no Templo. Tornou-se o livro de cânticos de Israel, e o cerne da sua adoração religiosa.
Denise Cordeiro de Souza Frederico, em sua obra Cantos para o Culto Cristão, traz uma boa introdução:
O Livro de Salmos recebeu o nome hebraico seper tehillîm, livro de louvores, usado principalmente sob a responsabilidade dos músicos levitas durante a liturgia hebraica. O nome "Salmos" veio da versão grega do AT. Sua estrutura atual só foi definida no século IV da era cristã, quando passou a ser lido como extensão da lei mosaica e dividido em cinco livros. Essa divisão levou em consideração a expressão "Bendito seja o Senhor Deus de Israel", elemento divisor dos cinco livros dos Salmos, por analogia com o Pentateuco. Sua colocação litúrgica poderia ser ou no início ou no fim de uma oração. Supõe-se que os escribas a tenham registrado no final de pequenas coleções de salmos. O Livro I abarca os Salmos 1 a 41 e a grande maioria deles pode ser catalogada como "orações de pequenos grupos"; o Livro II, contendo os Salmos 42 a 72, é conhecido como o saltério "eloístico", porque há 164 ocorrências da palavra Elohim, em contraste com 30 menções de "Javé"; o Livro III tem duas seções: de 73 a 83 são salmos eloísticos e de 74 a 89 são javísticos; os Livros IV (Salmos 90 a 106) e V (Salmos 107 a 150) englobam uma série de salmos dos mais variados assuntos. O último bloco mostra uma linguagem de júbilo, na sua maioria, sendo que os cinco últimos salientam o tom de louvor enaltecedor a Javé. No Templo, um salmo era destacado para cada culto diário e, nas grandes festas, o grupo dos salmos conhecidos como Hallel ganhava destaque. As autorias dos salmos são atribuídas a Davi (73), a Salomão (salmos 72 e 127), aos filhos de Coré (42-49, 84-85, 87-88), a Asafe (50, 73-83), a Hemã (88), a Etã (89) e a Moisés (90).[1]
Os Salmos revelam a atitude da alma na presença de Deus, quando contempla a história vivida, a experiência presente e a esperança profética. Cada salmo é a expressão dum consciencioso auto-exame da alma frente a seu Deus, sentido e conhecido profundamente. Cada salmo é uma expressão viva do conhecimento de Deus. Nenhum outro livro da Bíblia magnífica tanto a Palavra de Deus. Há muita evidência substanciando a inspiração das Escrituras. Lutero chegou a referir-se aos Salmos como "a Bíblia em miniatura". Todos os cristãos devem conhecer bem esse livro de orações, porque ele foi escrito por inspiração do Espírito Santo. Ele contém modelos de orações, meditações, cânticos e bênçãos; confissões, queixas, petições, ações de graças, aspirações – todas as vibrações e sentimentos da alma acham uma linguagem nos Salmos. E se alguém deseja saber como se aproximar de Deus em adoração, de um modo aceitável, este é o melhor manual para se oferecer.
Como temos dito, os Salmos foram escritos, em grande parte, com o objetivo de serem cantados com acompanhamento musical, especialmente instrumental. Muitos instrumentos eram usados, inclusive os de sopro, tais como a corneta ou chifre de carneiro; de cordas, harpa; de percussão, tamborim e címbalos. Muitos salmos eram acrósticos (a letra inicial de cada verso era uma letra do alfabeto), tais como os de números 9, 10, 25, 34. 37, 111, 112, 119, 145. Os salmos de "romagem" eram geralmente cantados por ocasião das romarias feitas às festas do templo. Muitos salmos eram cantados de forma antifonal, responsiva, valendo-se da estrutura característica de paralelismo da poesia hebraica.
C. H. Spurgeon (1834-1892) gastou vinte anos de sua vida envolvido numa obra sobre os Salmos – "O Tesouro de Davi".[2] Depois que terminou seu grande comentário sobre esse livro, eis o teor do seu testemunho:
Mística tristeza pesa em meu espírito ao completar o "Tesouro de Davi", visto que, jamais encontrarei na terra repositório mais rico, embora tenha aberto, para mim, todo o palácio da Revelação. Abençoados têm sido os dias despendidos em meditar, prantear, esperar, crer e exultar com Davi. Posso esperar usufruir dias mais alegres aquém da porta dourada? O livro dos Salmos nos instruiu, tanto no uso das asas como no uso das palavras. Ele nos prepara tanto para voar como para cantar.
Alguns sugerem que a palavra chave do livro de Salmos é "adoração", e sua mensagem central poderia ser resumida em "Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome...". Os salmos de louvor são os mais numerosos. Essas expressões de exultação e gratidão com freqüência surgiram como seqüência natural de algum grande livramento. Um tema importante é a pessoa e a obra de Cristo, que se vê claramente em muitos Salmos. Nosso Senhor o sugere em Lucas 24.44. Os Salmos são mencionados noventa vezes no Novo Testamento. O próprio Jesus, na cruz, achou nos Salmos palavras para a sua hora mais difícil e para seu último suspiro (22.1; 31.5). Assim, o cantor por excelência dos Salmos é o próprio Jesus (e não David ou Moisés). O texto dos Salmos é o Verbo, pelo Verbo e para o Verbo, ainda que, neste sentido, toda a Escritura é a Palavra de Deus, e toda a Escritura é digna de ser exposta, ensinada, meditada, orada... Os que têm dons para metrificar e musicar a sã doutrina devem fazê-lo.
Um exame dos Salmos nos conduz à conclusão de que o cântico dos hebreus no Antigo Testamento era teologicamente muito rico. Além disto, eram hinos fortemente "encarnados", isto é, algo substancial na realidade de quem cantava. Como temos dito, os Salmos retratam a história vivida. Há vinte e um salmos que se referem à história de Israel, desde os tempos do Êxodo até os dias da restauração. Nos Salmos históricos, os salmistas meditam sobre o modo como Deus tratou com Israel nos dias passados. Por todos esses salmos há inúmeras referências aos livramentos miraculosos e aos favores divinos conferidos a Israel em tempos idos. Também tratam intensamente da experiência presente. Muitos foram escritos em época de grande crise. O Salmo 51 foi por ocasião do grande pecado de Davi; o Salmo 18, da libertação de Davi. E os Salmos estão plenos da esperança profética. De alguma maneira, o Evangelho está nos Salmos. Os Salmos vislumbraram a Nova Aliança, ainda que não em sua plenitude, porém como uma sombra. Os salmos messiânicos indicam profeticamente certos aspectos do Messias, conforme Ele foi revelado no Novo Testamento. Notabilizando-se dentro dessa classificação acha-se o Salmo 22, que contém várias referências paralelas à paixão de Jesus Cristo – focalizada nos quatro Evangelhos.
A Igreja Cristã, portanto, deve incorporar os Salmos em seus cultos. Deve usá-los para leitura particular e pública, para meditação, para pregação, e para o canto na adoração pública. Em um de seus artigos, o Dr. W. Gary Crampton diz que "é um rico privilégio, rendendo bênçãos espirituais, ser capaz de cantar os cânticos inspirados de Sião como encontrados no Saltério. Se desejamos aprender como cantar - e como orar - bem, precisamos estudar os Salmos". Ele chega mesmo a endossar a opinião do teólogo e filósofo Gordon H. Clark (1902-1985) quando disse que "um hinário sem uma boa proporção de Salmos não é apropriado para o culto da Igreja".[3]
No Diretório de Culto de Westminster, publicado no século XVII, lemos alguma instrução na seção acerca "Do Cântico dos Salmos". Diz-se que "é dever dos cristãos louvar a Deus publicamente cantando Salmos juntos na Igreja, e também em particular na Família". Conquanto manifeste preocupação com os aspectos técnicos do canto, o diretório recomenda que "o cuidado maior precisa ser o de cantar com entendimento e com Graça no coração, erguendo melodias no Senhor".[4]
Atente para este fato: se o Saltério era o hinário hebreu, então o menor dos cânticos era o Salmo 117.
Aleluia!
Louvai ao Senhor, vós todos os gentios,
Louvai-o, todos os povos.
Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco,
E a fidelidade do Senhor subsiste para sempre.
Amém.
"Este salmo minúsculo é grande na sua fé, e seu alcance é enorme", observa Kidner. E arremata: "O salmo mais curto revela-se, na realidade, como um dos mais possantes e germinais".[5] Sua mensagem ainda era grande demais para alguns dos leitores de Paulo compreenderem (Romanos 15.7-12). No menor dos cânticos hebreus, o foco está nos atributos de Deus. A causa do louvor é a grande misericórdia do Senhor e a sua eterna fidelidade – misericórdia e verdade, aliás, são pilares de nossa salvação. Se sua misericórdia é grande e sua fidelidade é eterna, isto não quer dizer que as duas se coloquem em contraste, pois são aspectos da mesma graça.
No menor dos Salmos, o Deus que é louvado tem nome e personalidade, em toda a riqueza descritiva do nome Iahweh ("Senhor" em caixas altas em nossa tradução portuguesa). Iahweh é digno de ser louvado por todos. E, por isto, uma proclamação e convite são dirigidos a todas as nações, com um testemunho muito vivo da realidade do Senhor, na experiência deleitável de comunhão que desfruta o povo da aliança. Tal exortação, dirigida ao mundo inteiro, declara os direitos de Deus sobre os homens. Mesmo assim, esta exortação ficará vazia em grande parte, a não ser que as nações e as tribos a ouçam como uma chamada genuína e inteligível. A convocação, portanto, recai sobre aqueles que a empregam, com a obrigação de fazer com que o convite seja ouvido além das paredes e círculo imediato daqueles. O que é mais surpreendente neste salmo é a declaração de que todas as nações haveriam de achar bênçãos em Abraão. E, na realidade, elas estão achando. Os gentios estão louvando a Iahweh, e dentre todos os povos O estamos glorificando.
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Gilson Santos é pastor da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos - SP.
Gilson Santos
Qual o lugar das Escrituras Sagradas naquilo que cantamos em ato de culto ao Senhor? Creio que uma reflexão acerca do papel que as Escrituras devem ocupar em nosso canto no ato de culto é muito digna de ser feita, e devemos estar dispostos e abertos a aprender com ela. O Apóstolo Paulo diz em Colossenses 3.16: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração". Ao comentar este texto, João Calvino (1509-1564) relembra que "toda a Escritura é útil para o ensino" (II Timóteo 3.16). Ele insta a que façamos uso verdadeiro da Palavra de Cristo, e que cantemos poeticamente músicas apropriadas que sejam ricas em conteúdo bíblico.
Isto nos adverte do rigor teológico que deve ser aplicado à oração, ao canto e à pregação no culto cristão. Podemos dizer que a oração aceitável é aquela que Jesus Cristo pode encaminhá-la ao Pai em nosso nome. Isso está de acordo com o ensino sobre "tudo que pedirdes em meu nome", que alguns exegetas propõem significar não "por meu intermédio", mas "como meus porta-vozes". E o rigor teológico aplicado ao canto cristão não pode ser menor do que aquele que deve ser aplicado à pregação. Tanto um quanto outro devem estar rigidamente conformados à Palavra de Deus. Ninguém, pois, deve se sentir livre para ensinar outros a errar. Que a Palavra de Deus habite ricamente entre nós, e que, "enchendo-nos do Espírito", falemos "entre nós com salmos, hinos e cânticos espirituais" (Efésios 5.19-20).
O Saltério
O Livro dos Salmos é o livro litúrgico por excelência da religião judaica, contendo cantos e orações coletados ao longo dos séculos. Trata-se de uma coletânea de 150 cânticos ou poemas espirituais, muitos dos quais foram compostos para adoração, por meio da música, no Tabernáculo e no Templo. Tornou-se o livro de cânticos de Israel, e o cerne da sua adoração religiosa.
Denise Cordeiro de Souza Frederico, em sua obra Cantos para o Culto Cristão, traz uma boa introdução:
O Livro de Salmos recebeu o nome hebraico seper tehillîm, livro de louvores, usado principalmente sob a responsabilidade dos músicos levitas durante a liturgia hebraica. O nome "Salmos" veio da versão grega do AT. Sua estrutura atual só foi definida no século IV da era cristã, quando passou a ser lido como extensão da lei mosaica e dividido em cinco livros. Essa divisão levou em consideração a expressão "Bendito seja o Senhor Deus de Israel", elemento divisor dos cinco livros dos Salmos, por analogia com o Pentateuco. Sua colocação litúrgica poderia ser ou no início ou no fim de uma oração. Supõe-se que os escribas a tenham registrado no final de pequenas coleções de salmos. O Livro I abarca os Salmos 1 a 41 e a grande maioria deles pode ser catalogada como "orações de pequenos grupos"; o Livro II, contendo os Salmos 42 a 72, é conhecido como o saltério "eloístico", porque há 164 ocorrências da palavra Elohim, em contraste com 30 menções de "Javé"; o Livro III tem duas seções: de 73 a 83 são salmos eloísticos e de 74 a 89 são javísticos; os Livros IV (Salmos 90 a 106) e V (Salmos 107 a 150) englobam uma série de salmos dos mais variados assuntos. O último bloco mostra uma linguagem de júbilo, na sua maioria, sendo que os cinco últimos salientam o tom de louvor enaltecedor a Javé. No Templo, um salmo era destacado para cada culto diário e, nas grandes festas, o grupo dos salmos conhecidos como Hallel ganhava destaque. As autorias dos salmos são atribuídas a Davi (73), a Salomão (salmos 72 e 127), aos filhos de Coré (42-49, 84-85, 87-88), a Asafe (50, 73-83), a Hemã (88), a Etã (89) e a Moisés (90).[1]
Os Salmos revelam a atitude da alma na presença de Deus, quando contempla a história vivida, a experiência presente e a esperança profética. Cada salmo é a expressão dum consciencioso auto-exame da alma frente a seu Deus, sentido e conhecido profundamente. Cada salmo é uma expressão viva do conhecimento de Deus. Nenhum outro livro da Bíblia magnífica tanto a Palavra de Deus. Há muita evidência substanciando a inspiração das Escrituras. Lutero chegou a referir-se aos Salmos como "a Bíblia em miniatura". Todos os cristãos devem conhecer bem esse livro de orações, porque ele foi escrito por inspiração do Espírito Santo. Ele contém modelos de orações, meditações, cânticos e bênçãos; confissões, queixas, petições, ações de graças, aspirações – todas as vibrações e sentimentos da alma acham uma linguagem nos Salmos. E se alguém deseja saber como se aproximar de Deus em adoração, de um modo aceitável, este é o melhor manual para se oferecer.
Como temos dito, os Salmos foram escritos, em grande parte, com o objetivo de serem cantados com acompanhamento musical, especialmente instrumental. Muitos instrumentos eram usados, inclusive os de sopro, tais como a corneta ou chifre de carneiro; de cordas, harpa; de percussão, tamborim e címbalos. Muitos salmos eram acrósticos (a letra inicial de cada verso era uma letra do alfabeto), tais como os de números 9, 10, 25, 34. 37, 111, 112, 119, 145. Os salmos de "romagem" eram geralmente cantados por ocasião das romarias feitas às festas do templo. Muitos salmos eram cantados de forma antifonal, responsiva, valendo-se da estrutura característica de paralelismo da poesia hebraica.
C. H. Spurgeon (1834-1892) gastou vinte anos de sua vida envolvido numa obra sobre os Salmos – "O Tesouro de Davi".[2] Depois que terminou seu grande comentário sobre esse livro, eis o teor do seu testemunho:
Mística tristeza pesa em meu espírito ao completar o "Tesouro de Davi", visto que, jamais encontrarei na terra repositório mais rico, embora tenha aberto, para mim, todo o palácio da Revelação. Abençoados têm sido os dias despendidos em meditar, prantear, esperar, crer e exultar com Davi. Posso esperar usufruir dias mais alegres aquém da porta dourada? O livro dos Salmos nos instruiu, tanto no uso das asas como no uso das palavras. Ele nos prepara tanto para voar como para cantar.
Alguns sugerem que a palavra chave do livro de Salmos é "adoração", e sua mensagem central poderia ser resumida em "Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome...". Os salmos de louvor são os mais numerosos. Essas expressões de exultação e gratidão com freqüência surgiram como seqüência natural de algum grande livramento. Um tema importante é a pessoa e a obra de Cristo, que se vê claramente em muitos Salmos. Nosso Senhor o sugere em Lucas 24.44. Os Salmos são mencionados noventa vezes no Novo Testamento. O próprio Jesus, na cruz, achou nos Salmos palavras para a sua hora mais difícil e para seu último suspiro (22.1; 31.5). Assim, o cantor por excelência dos Salmos é o próprio Jesus (e não David ou Moisés). O texto dos Salmos é o Verbo, pelo Verbo e para o Verbo, ainda que, neste sentido, toda a Escritura é a Palavra de Deus, e toda a Escritura é digna de ser exposta, ensinada, meditada, orada... Os que têm dons para metrificar e musicar a sã doutrina devem fazê-lo.
Um exame dos Salmos nos conduz à conclusão de que o cântico dos hebreus no Antigo Testamento era teologicamente muito rico. Além disto, eram hinos fortemente "encarnados", isto é, algo substancial na realidade de quem cantava. Como temos dito, os Salmos retratam a história vivida. Há vinte e um salmos que se referem à história de Israel, desde os tempos do Êxodo até os dias da restauração. Nos Salmos históricos, os salmistas meditam sobre o modo como Deus tratou com Israel nos dias passados. Por todos esses salmos há inúmeras referências aos livramentos miraculosos e aos favores divinos conferidos a Israel em tempos idos. Também tratam intensamente da experiência presente. Muitos foram escritos em época de grande crise. O Salmo 51 foi por ocasião do grande pecado de Davi; o Salmo 18, da libertação de Davi. E os Salmos estão plenos da esperança profética. De alguma maneira, o Evangelho está nos Salmos. Os Salmos vislumbraram a Nova Aliança, ainda que não em sua plenitude, porém como uma sombra. Os salmos messiânicos indicam profeticamente certos aspectos do Messias, conforme Ele foi revelado no Novo Testamento. Notabilizando-se dentro dessa classificação acha-se o Salmo 22, que contém várias referências paralelas à paixão de Jesus Cristo – focalizada nos quatro Evangelhos.
A Igreja Cristã, portanto, deve incorporar os Salmos em seus cultos. Deve usá-los para leitura particular e pública, para meditação, para pregação, e para o canto na adoração pública. Em um de seus artigos, o Dr. W. Gary Crampton diz que "é um rico privilégio, rendendo bênçãos espirituais, ser capaz de cantar os cânticos inspirados de Sião como encontrados no Saltério. Se desejamos aprender como cantar - e como orar - bem, precisamos estudar os Salmos". Ele chega mesmo a endossar a opinião do teólogo e filósofo Gordon H. Clark (1902-1985) quando disse que "um hinário sem uma boa proporção de Salmos não é apropriado para o culto da Igreja".[3]
No Diretório de Culto de Westminster, publicado no século XVII, lemos alguma instrução na seção acerca "Do Cântico dos Salmos". Diz-se que "é dever dos cristãos louvar a Deus publicamente cantando Salmos juntos na Igreja, e também em particular na Família". Conquanto manifeste preocupação com os aspectos técnicos do canto, o diretório recomenda que "o cuidado maior precisa ser o de cantar com entendimento e com Graça no coração, erguendo melodias no Senhor".[4]
Atente para este fato: se o Saltério era o hinário hebreu, então o menor dos cânticos era o Salmo 117.
Aleluia!
Louvai ao Senhor, vós todos os gentios,
Louvai-o, todos os povos.
Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco,
E a fidelidade do Senhor subsiste para sempre.
Amém.
"Este salmo minúsculo é grande na sua fé, e seu alcance é enorme", observa Kidner. E arremata: "O salmo mais curto revela-se, na realidade, como um dos mais possantes e germinais".[5] Sua mensagem ainda era grande demais para alguns dos leitores de Paulo compreenderem (Romanos 15.7-12). No menor dos cânticos hebreus, o foco está nos atributos de Deus. A causa do louvor é a grande misericórdia do Senhor e a sua eterna fidelidade – misericórdia e verdade, aliás, são pilares de nossa salvação. Se sua misericórdia é grande e sua fidelidade é eterna, isto não quer dizer que as duas se coloquem em contraste, pois são aspectos da mesma graça.
No menor dos Salmos, o Deus que é louvado tem nome e personalidade, em toda a riqueza descritiva do nome Iahweh ("Senhor" em caixas altas em nossa tradução portuguesa). Iahweh é digno de ser louvado por todos. E, por isto, uma proclamação e convite são dirigidos a todas as nações, com um testemunho muito vivo da realidade do Senhor, na experiência deleitável de comunhão que desfruta o povo da aliança. Tal exortação, dirigida ao mundo inteiro, declara os direitos de Deus sobre os homens. Mesmo assim, esta exortação ficará vazia em grande parte, a não ser que as nações e as tribos a ouçam como uma chamada genuína e inteligível. A convocação, portanto, recai sobre aqueles que a empregam, com a obrigação de fazer com que o convite seja ouvido além das paredes e círculo imediato daqueles. O que é mais surpreendente neste salmo é a declaração de que todas as nações haveriam de achar bênçãos em Abraão. E, na realidade, elas estão achando. Os gentios estão louvando a Iahweh, e dentre todos os povos O estamos glorificando.
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Gilson Santos é pastor da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos - SP.
A Música Aceitável a Deus
A Música Aceitável a Deus
Dr. W. Robert Godfrey
Na guerra da adoração dos anos recentes, batalhas as mais sórdidas têm surgido com ímpeto em relação à música. O que devemos cantar? Quem deve cantar? Quais melodias devemos cantar? Quais instrumentos devem acompanhar o cântico da igreja – se algum? Via de regra parece que exércitos que se prepararam nos lados diversificados da questão têm lutado debaixo da bandeira da preferência. O que gostamos e o que nos toca? Preferências têm levado a tendência de colocar pessoas mais velhas contra as mais jovens e as experientes contra as inexperientes.
Mas, quão seriamente temos pensado teológica e biblicamente sobre a música? Em que quantidade as nossas convicções e práticas são moldadas pelo Novo Testamento? Neste artigo, examinaremos alguns dos ensinamentos-chave da Bíblia sobre música e cântico, e tentaremos relacioná-los com a história da reflexão reformada e assuntos contemporâneos.
Música na Bíblia:
A música não é um elemento proeminente no Novo Testamento. Bandas e corais não acompanhavam a pregação de Jesus. Não há evidência de instrumentos musicais nas sinagogas descritas no Novo Testamento. Música na igreja parece estar ausente nos Atos dos apóstolos – embora Paulo tenha cantado na prisão e louvores tenham sido apresentados nas igrejas. A única referência, não ambígua, de música nas igrejas é em I Coríntios 14:26 – embora Colossenses 3:16 (e.g., Efésios 5:19) possa muito bem refletir as atividades de adoração pública. Nenhum instrumento é mencionado em relação com o culto das igrejas do Novo Testamento.
A música parece de alguma forma mais proeminente no culto celestial descrito no livro de Apocalipse. Esta proeminência adicionada reflete provavelmente a correspondência entre o templo celestial e a música do templo terreno do Antigo Testamento. No templo veterotestamentário , instrumentos musicais e corais acompanhavam especialmente a oferta de sacrifícios (II Crônicas 29:25-36). Mesmo assim, na adoração celestial como descrito no livro de Apocalipse, o único instrumento musical citado é a harpa (e.g., Apocalipse 5:8.) – e a harpa é provavelmente colocada como um símbolo de louvor ao invés de uma referência literal de harpas no céu (ver Apocalipse 14:2).
Se o culto da igreja do Novo testamento é um modelo para a igreja de hoje, sério re-exame de práticas contemporâneas se faz necessário. A música – tão periférica no Novo Testamento – tornou-se central e crucial em nossos dias. Corais, solos e música especial ocupam um tempo considerável no culto. Debates logo "pegam fogo" no que diz respeito ao estilo de música entre os campeões desde o clássico ao contemporâneo.
Para muitos membros das igrejas parece que a música tem se tornado um novo sacramento. Um cântico intenso e prolongado é visto como um meio em que Deus vem abençoar o adorador e em que o cantor busca experiências transcendentais com Deus. Esta experiência é tão importante que muitos julgam uma igreja com base no caráter e qualidade de sua música. Em muitas igrejas a quantidade de tempo gasto em oração, leitura da Bíblia e pregação são reduzidos para que mais tempo possa ser dado à música.
Cristãos reformados em particular têm buscado seguir o ensinamento da Escritura na adoração. Eles acreditam que apenas as orientações ou exemplos da Bíblia podem guiar nossa adoração. Esta convicção flui das palavras da própria Bíblia (e.g., Colossenses 2:23 e Mateus 15:6) . Teologicamente, a paixão reformada pelo culto fiel e bíblico flui de avisos fortes na Escritura contra a idolatria. Idolatria é tanto o culto a um falso deus quanto o culto falso ao verdadeiro Deus. Idolatria é uma violação do primeiro ou do segundo dos Dez Mandamentos. O compromisso reformado com o culto bíblico deve ser aplicado à música como a todos os outros aspectos do culto.
Embora a música pareça ser um elemento relativamente secundário no Novo Testamento, é ainda um dos elementos. Jesus cantou com seus discípulos na Última Ceia e a Igreja de Corinto claramente cantou (como a Igreja de Colossos muito provavelmente cantou). Cantar é um elemento que tem sua propriedade, um ato distintivo na adoração. Pode funcionar de um jeito similar aos outros elementos. Pode compartilhar funções com o ensino e a pregação, por exemplo, mas mesmo assim permanece como um elemento distinto (Do mesmo modo, a leitura da Bíblia, pregação e a benção podem todos usar as mesmas palavras da Bíblia e todos têm em parte uma função de ensinamento, embora permaneçam elementos distintos de adoração). Como um elemento distinto, precisa ser entendido em termos de sua função singular no culto sendo dirigido pelas Escrituras.
Que tipo de cântico deve ser um elemento do culto Cristão? As palavras usadas para cântico no Novo Testamento ("salmos", "hinos" e "cânticos") não são termos técnicos, mas simplesmente parecem referir-se a músicas. (No grego do Antigo Testamento, estas três palavras são usadas para referir-se aos Salmos Canônicos.) Por exemplo, é dito que Jesus contou um hino (Mateus 26:30) em que certamente um dos salmos canônicos foi utilizado. Em contra partida, o salmo citado em I Coríntios 14:26 provavelmente não é um salmo canônico (alguns acham que se tratava de um cântico revelacional – NE). Veja também as referências de cânticos em Romanos 15:9, I Coríntios 14:15 e Tiago 5:13. O tipo de cântico usado no Novo Testamento não pode ser confirmado pelas palavras disponíveis. Outras indicações são necessárias para saber o que deve ser cantado.
Muitos argumentam que os cristãos estão livres para compor e cantar qualquer música que seja ortodoxa em seu conteúdo. O argumento permeia o raciocínio de que cantar louvores ao Senhor é semelhante à oração. Visto que estamos livres para formular nossas orações, estamos livres para compor músicas. Mas não é auto-evidente que a música deva ser semelhante a oração. Talvez deva ser similar à leitura das Escrituras. [1] O elemento cúltico da leitura da Escritura é limitado à leitura da Palavra inspirada, canônica. Tal limitação pode não parecer ser necessariamente severa, logicamente. Muitos escritos ortodoxos e edificantes produzidos por cristãos podem talvez ser lidos no culto. Porém, a maioria concordaria que deveríamos ter como um ato de culto a leitura das palavras inspiradas de Deus (veja I Timóteo 4:13).
Como reflexão, pelo menos na adoração veterotestamentária , cantar parece mais com a leitura da Escritura do que com a oração, porque enquanto o Velho Testamento não tem um livro de oração, ele tem um livro de cânticos. Deus, por uma razão que possa nos frustrar, providencia cânticos inspirados para o culto, mas não orações. Verdadeiras razões podem ser levadas em conta para a necessidade de músicas inspiradas. A música é uma atividade do povo de Deus que os une em uma atividade de resposta altamente emocional a Deus. A emoção elevada da música e seu potencial para abusos talvez possam ser uma razão para que Deus tenha inspirado as palavras para aquela resposta do povo de Deus. Também, a oração e pregação no culto público nas igrejas reformadas são elementos executados por líderes ordenados. A igreja separou líderes que são vocacionados, examinados, chamados e ordenados para a obra. Os cânticos que são "livres" raramente possuem estes padrões de cuidado e supervisão.
Claramente os Salmos canônicos foram designados para cantar, o que Jesus e seus discípulos fizeram na última ceia. Certamente, a chamada de Paulo para cantar "salmos, hinos e cânticos espirituais" abrange o convite para cantar Salmos canônicos [2]. No mínimo, portanto, devemos concluir dos exemplos e ensinamentos da Escritura que cantar os Salmos canônicos devem ser uma parte significativa do cântico da Igreja.
Demonstrações do Valor em Cantar os Salmos.
Deixe-me listar alguns dos argumentos mais fortes para se cantar os Salmos:
Os Salmos são inspirados, foram feitos para serem cantados, e são certamente ortodoxos no conteúdo. Cantar Salmos é ordenado por Deus; é certo que Lhe é agradável e é um excelente meio de guardar Sua Palavra em nossos corações. Pelo menos os Salmos precisam ser um elemento central do cântico da igreja e deve ser um modelo para tudo que é cantado. Eles são o padrão inspirado de louvor.
Os Salmos são cânticos equilibrados. Eles equilibram a declaração da verdade de Deus e Sua obra com nossa resposta emocional. O equilíbrio entre verdade e resposta do coração é delicado e difícil. Nossos cânticos podem ser ou muito informativos e doutrinários ou muito subjetivos e antropocêntricos.
Os Salmos nos providenciam cânticos que têm o alcance completo das respostas emocionais apropriadas para com a obra de Deus e nossa situação. Em algumas épocas da Igreja, hinos pareciam primariamente cheios de arrependimento. Em nossa época, eles parecem primariamente cheios de alegria. Os Salmos equilibram a confusão humana, frustração, aflição, tristeza e raiva com alegria, louvor, benção e ações de graça.
Os Salmos nos relembram que vivemos em um mundo de conflito. Eles imprimem em nós um mundo bíblico de pensamento em que há uma antítese já presente entre o justo e o ímpio, o santo e o iníquo. (Apenas dois Salmos, acredito, não fazem esta oposição explicitamente). Quão infrequentemente esta antítese é encontrada em muitos hinos.
Os Salmos nos relembram que somos o verdadeiro Israel de Deus. Nós herdamos a história, as promessas e a condição de Israel do Velho Testamento e devemos nos identificar com aquele Israel (cf. Efésios 2-3, Romanos 9-11, Hebreus 11-12, I Pedro 1-2, Tiago 1:1, Gálatas 6:16). Especialmente quando nos encontramos num mundo politeísta crescente, o foco monoteísta dos Salmos é valioso para a Igreja.
Os Salmos são cristocêntricos. Jesus testificou que os Salmos foram escritos sobre Ele (Lucas 24:44-45). Martinho Lutero chamou o Salmo de "uma pequena Bíblia" e o achou cheio de Cristo. Um ditado antigo da Igreja declara: " Sempre in ore psalmus, sempre in corde Christus " ("sempre um salmo na boca, sempre Cristo no coração"). Os Salmos contêm profecias explícitas de Cristo (e.g., Salmos 22 e 110). Eles são cheios de tipos que iluminam a pessoa e obra de Cristo. Eles descortinam sua obra redentiva em várias perspectivas. A Igreja deve evitar a tendência do liberalismo e dispensacionalismo, de ambos, e perder de vista Cristo nos Salmos além de perder a continuidade de Israel do Velho Testamento no Novo Testamento.
João Calvino reconhecia o valor de se cantar os Salmos. Ele instituiu grandes reformas litúrgicas na Igreja de Genebra depois da reflexão cuidadosa no caráter e papel da música na Igreja. (Em Genebra, a Igreja cantava os Salmos em uníssono sem qualquer acompanhamento musical). A maioria das igrejas reformadas na Europa seguiu a prática de Genebra e o cântico de Salmos tornou-se uma das marcas distintivas das igrejas Reformadas.
Alguns Calvinistas foram além de Calvino, argumentando que os Salmos eram os únicos cânticos permitidos no culto divino. Esta posição era argumentada com um particular vigor na Escócia, onde os Presbiterianos enfrentaram repetidas pressões governamentais para abandonarem suas formas distintivas de culto. Os escoceses responderam que deveriam obedecer a Deus ao invés do homem e aplicaram este princípio na defesa da salmodia exclusiva. Sérios debates nesta questão tomaram lugar entre os Calvinistas nos séculos XVIII e XIX quando algumas Igrejas Reformadas introduziram o uso de hinos no culto.
Objeções contra Maior Uso da Salmodia:
Pode ser útil considerar seis objeções comuns contra o maior (ou possivelmente até exclusivo) uso dos Salmos, e oferecer respostas justas a elas.
Objeção 1: "As imprecações dos Salmos (i.e., aquelas frases chamando Deus para julgar seus inimigos) reflete uma posição ética sub-cristã".
Esta objeção falha em entender a natureza das imprecações bíblicas. As imprecações não são a oração pessoal do cristão contra inimigos pessoais, mas são as orações de Cristo e da Igreja contra os inimigos de Deus. Eles, realmente, não são diferentes das orações da Igreja para o retorno de Cristo que trará tanto benção quanto julgamento.
Objeção 2: "O Novo Testamento autoriza o uso de hinos não-inspirados: Colossenses 3:16 (Efésios 5:19), I Coríntios 14:26 e hinos fragmentados citados no Novo Testamento".
Esta objeção não é tão clara quanto parece. A) Nem Colossenses 3:16 nem Efésios 5:19 referem-se sem ambigüidade ao culto público ou uso livre de cânticos não-inspirados nesta adoração. As palavras nestes versos para cântico podem todas referissem aos Salmos canônicos – ver NE. B) I Coríntios 24:26, acredito, realmente refere-se a outros cânticos além dos Salmos canônicos. Mas, estes outros cânticos são muito provavelmente cânticos inspirados pelo Espírito por meio da liderança dotada pelo Espírito na igreja primitiva. (O salmo, doutrina, revelação, línguas e interpretação das línguas neste texto tudo parece para mim inspirados divinamente).[3] Aqueles cânticos inspirados, porém, não foram preservados como uma parte da Escritura para o uso da Igreja Universal. C) Fragmentos de poemas na realidade parecem ser referências de autores bíblicos em partes no Novo Testamento. Estes fragmentos não podem, com qualquer certeza, serem vistos como cânticos, muitos menos cânticos usados no culto público.
Objeção 3: "Os Salmos parecem estranhos quanto a sua forma poética e o fluir de pensamento".
Esta observação é verdadeira até certo ponto. Aqueles familiarizados com hinos estão acostumados com um fluir de pensamento e forma poética que são comuns ao mundo ocidental. Em tal mundo, os Salmos realmente parecem estranhos. Mas, visto que os Salmos são inspirados por Deus, devemos desprender mais esforços para apreciar o porquê deles terem a forma que possuem e o que podemos aprender deles. (Devemos resistir a tendência comum, com respeito as músicas da igreja, e apenas gostar do que é familiar porque é familiar! Esta tendência é encontrada entre os devotos a todos os tipos de música da igreja). Certamente, a própria estranheza dos Salmos pode revelar a nossa necessidade deles. Talvez John Updike tenha capturado este raciocínio quando escreveu sobre "as pontas dos dedos sensibilizados pela lixa de um credo abrasivo".[4]
Objeção 4: "Cantar os salmos metrificados não é o mesmo que cantar os verdadeiros Salmos canônicos".
Uma boa versão metrificada dos Salmos não apenas dá uma tradução bem próxima dos Salmos, mas também busca traduzir poesia hebraica em uma forma poética ocidental. Comunicar algo em forma poética juntamente com a tradução verbal é um ponto forte dos salmos metrificados.
Objeção 5: " Nós não temos melodias inspiradas para cantar os Salmos ".
Verdade, não temos melodias inspiradas. Deus deixou livre seu povo para compor melodias de várias culturas e bases históricas para ajudar no cântico dos Salmos. Dois critérios deveriam salvaguardar adequadamente a Igreja em escrever e escolher suas melodias: primeiro , as melodias devem ser apropriadas ao conteúdo dos Salmos, e segundo , elas devem ser fáceis de cantar pela congregação.
Objeção 6: "Os Salmos não são suficientemente Cristocêntricos".
A elaboração desta objeção sugere que em cada estágio da história da redenção no Velho Testamento (e.g., estabelecimento da economia Mosaica, a celebração do reinado Davídico e o exílio), novos cânticos foram adicionados no cânon. É mais provável, então, no mais importante desenvolvimento da história da redenção – a real revelação do Salvador – que novos cânticos acompanhariam a Nova Aliança em Cristo. A objeção argumenta que devemos obviamente celebrar o nome e obra do Salvador nos termos mais explícitos possíveis. Esta objeção é certamente a mais significativa e pesada contra qualquer salmodia exclusiva (ou quase na totalidade exclusiva). Várias respostas podem ser oferecidas.
Esta objeção, como dita, é abstrata e especulativa, uma falta na reflexão teológica Reformada. Apenas a Escritura pode nos falar quais cânticos são precisos para celebrarem a Nova Aliança. Muitos elementos no culto da Igreja serão explicitamente da Nova Aliança: algumas leituras da Bíblia, algumas bênçãos, sermões, orações, Sacramentos. Mas, devem todos ser? O culto como um todo deve ser explicitamente da Nova Aliança, mas todo elemento deve ser? Apenas a própria Escritura pode responder esta questão.
Os Salmos não são uma exposição completa e explícita e uma celebração da Antiga Aliança. Muitos aspectos da história de Israel, lei e sacrifícios não são mencionados nos Salmos. Instituições chaves como o Sábado cerimonial e os ofícios proféticos são quase que totalmente ausentes. Ninguém poderia realmente reconstruir a economia mosaica pela evidência apenas nos Salmos. Claramente, os Salmos não buscaram comportar o caráter inteiro da Antiga Aliança.
Os cânticos inspirados da Nova Aliança, tal como aqueles que estão no livro de Apocalipse, não são mais Cristocêntricos explicitamente do que os Salmos. O nome de Jesus não é usado e Ele é chamado de Cordeiro (Ap. 5 e 19), o Cristo (Ap. 11), Deus e Rei (Apocalipse 15). Tudo isto são títulos encontrados no Antigo Testamento. A distinção entre velho cântico da criação e o novo cântico da redenção, encontrados no livro de Apocalipse (caps. 4 e 5), é um distintivo tomado do Saltério (Salmos 40:3, 96:1, 98:1, 149:1). O Saltério é rico em novas canções da redenção.
Os títulos e tipos usados sobre Cristo no Antigo Testamento de forma genérica e no Saltério particularmente, não O esconde, mas na realidade O revela, explicando quem Ele é e o que Ele fez. (Títulos e tipos tais como: Senhor, Pastor, Rei, Sacerdote, templo, etc). Sem o rico pano de fundo da religião do Antigo Testamento, não entenderíamos a pessoa e obra de Cristo tão completos quanto conhecemos. Na verdade, estes títulos e tipos não são completamente compreensíveis até a vinda de Jesus. Neste sentido, o Saltério pertence mais a Nova Aliança do que a Velha. Também; neste sentido, o Saltério é mais útil para a Igreja do Novo Testamento do que era para o povo da Antiga Aliança.
Opiniões provavelmente continuarão a divergir sobre a persuasão dos argumentos para o uso exclusivo dos Salmos para o cântico no culto público. Espero que estas reflexões sobre o valor dos Salmos, contudo, encorajem todos os Cristãos para o maior uso dos Salmos. Minha própria experiência tem sido que quanto mais eu os canto, mais os amo e mais sinto a plenitude da expressão religiosa deles em louvor a Deus. Na guerra da música que assedia a Igreja hoje, os Salmos são pouco considerados ou apreciados. Certamente é irônico que aqueles que amam a Bíblia pareçam freqüentemente desinteressados em cantá-los – e aprendê-los daquela maneira. Nós certamente precisamos dos Salmos para o nosso bem-estar espiritual.
Notas:
[1] Ver os artigos do Sherman Isbell sobre o cântico dos Salmos na The Presbyterian Reformed Magazine , começando no verão, edição de 1993.
[2] Nota do Editor – Extraído de Exclusive Psalmody, Brian M. Schwertley, pp 19-25 – Duas passagens cruciais no debate sobre a exclusividade do cântico de Salmos, são Efésios5:19 e Colossenses 3:16. Essas passagens são importantes, porque são usadas por ambos os lados, os que defendem o uso exclusivo dos Salmos e os que defendem o uso de hinos não inspirados na adoração. Paulo escreveu:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos , entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais (Efésios 5:18-19).
"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais , com gratidão, em vosso coração" (Colossenses 3:16).
Antes de considerarmos a questão de como essas passagens estão relacionadas com a adoração pública, vamos considerar primeiro a questão "o que Paulo quis dizer com as expressões, Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais?" Estas questões são muito importantes para os defensores da hinodia não-inspirada (aqueles que dizem ser adeptos do Princípio Regulador) que apontam para essas passagens como prova de que os hinos não-inspirados são permitidos por Deus para serem utilizados na adoração pública. Quando examinamos passagens como Efésios 5:19 e Colossenses 3:16, não podemos cometer o erro comum de tomar o significado moderno de uma palavra, como "hino" hoje, aplicando-o àquele em que Paulo escreveu a dois mil anos atrás. Quando uma pessoa ouve a palavra "hino", ela imediatamente pensa nos hinos extrabíblicos, os hinos não-inspirados encontrados nos bancos das Igrejas de hoje. A única forma de se determinar o real significado do que Paulo quis dizer com as palavras, "salmos, e hinos, e cânticos espirituais", é determinar como esses termos foram usados pelos cristãos de língua grega no primeiro século.
Quando interpretamos a terminologia usada por Paulo em suas epístolas, há necessidade de observarmos algumas regras de interpretação.
Primeiro, o pensamento religioso que dominava a mente e a cosmovisão do Apóstolo, era a mesma do Velho Testamento e de Jesus Cristo, não a do paganismo grego. Portanto, quando Paulo discute doutrina ou adoração, o primeiro lugar onde devemos buscar auxílio para o entendimento dos termos religiosos, é no Velho Testamento. É comum encontramos expressões ou termos hebraicos expressos em grego coinê.
Segundo, temos que ter em mente, que as Igrejas que Paulo fundou na Ásia, consistia de judeus convertidos, gentios prosélitos do Velho Testamento (tementes a Deus) e gentios pagãos. Essas Igrejas possuíam a versão grega do Velho Testamento chamada de Septuaginta. Quando Paulo expressou idéias do Velho Testamento, para uma audiência de gentios de fala grega, ele usou a terminologia religiosa usada pela Septuaginta. Se os termos hinos (hymnois) e cânticos espirituais (odais pneumatikois), tivessem sido definidos dentro do Novo Testamento, não haveria necessidade de procurarmos significados para eles na Septuaginta. Mas, uma vez que esses termos são raramente usados no Novo Testamento e não podem ser definidos dentro do contexto imediato à parte do conhecimento do Velho Testamento, seria, no mínimo irresponsável exegeticamente, ignorar como essas palavras eram usadas na versão Septuaginta do Velho Testamento.
Quando examinamos a Septuaginta, verificamos que os termos salmos (psalmos), hinos (hymnos) e cânticos (odee), referem-se claramente ao livro dos Salmos do Antigo Testamento e não a antigos e modernos hinos ou cânticos não inspirados. Bushell escreve: " Psalmos (...) ocorre 87 vezes na Septuaginta, desses, 78 aparecem nos salmos mesmos, sendo que 67 são títulos de salmos. Da mesma forma, o título da versão grega do saltério (...) hymnos (...) ocorre 17 vezes na Septuaginta, 13 das quais estão nos Salmos, sendo que 6 são títulos. Em I Samuel , I e II Crônicas e Neemias há cerca de 16 exemplos nos quais os Salmos são chamados "hinos"( hymnoi ) ou "cânticos"( odai ) e para o cântico deles a palavra utilizada significa "cantar louvor" (hymneo, hymnodeo, hymnesis )N.T.. Odee (...) ocorre umas 80 vezes na Septuaginta, 45 das quais nos Salmos, 36 nos títulos dos Salmos (Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 85-86) . Em doze títulos nós encontramos ambos, "salmos" e "cânticos"; e em dois outros "salmos" e "hinos". O Salmo 76 é designado como "salmo, hino e cântico" (na versão portuguesa ARA não aparece a palavra hino, N.T.). No final dos primeiros setenta e dois salmos, nós lemos: " Findam-se os hinos(ARA: orações) de Davi, filho de Jessé " (Salmos72:20). Não há razão alguma para pensarmos que o Apóstolo Paulo estava se referindo a "salmos" como coisa diferente de "hinos e cânticos", pois todos os três termos se referem a salmos no próprio livro de Salmos (G.I. Williamson, The Singing of Praise in the Worship of God , p. 6.) . Ignorar como a audiência de Paulo, na época, teria entendido estes termos, bem como a forma como são definidos pela Bíblia, e aplicar-lhes significados modernos, não-bíblicos, seria uma prática exegética deficiente.
Uma das objeções mais comuns contra a idéia de que Paulo em Efésios5:19 e Colossenses 3:16, está falando do livro dos Salmos, é que seria absurdo ele dizer, "cantando salmos, salmos e salmos". Essa objeção falha ao considerarmos o fato que um método comum de se expressar na antiga literatura judaica, era a forma triádica de expressão para designar uma idéia, ação ou objetos. A Bíblia contém muitos exemplos da forma triádica de expressão, a saber: Ex.34:7 – " iniqüidade, transgressão e o pecado "; Deut 5:31 e 6:1 – " mandamentos, estatutos e juízos "; Mt 22:37 – " de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento " (Marcos 12:30; Lucas 10:27); Atos 2:22 – " milagres, prodígios e sinais "; Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 – " salmos, hinos e cânticos espirituais ". "A tríplice distinção usada por Paulo, seria prontamente entendida por aqueles que já estavam familiarizados com seus Saltérios Hebraicos do Velho Testamento e a Septuaginta, onde os títulos dos salmos são distinguidos como salmos, hinos e cânticos. Esta interpretação faz justiça à analogia da Escrituras, isto é, a Escritura é seu melhor intérprete" (J.W. Keddie, Why Psalms Only? , p. 7) .
A interpretação de que "salmos, hinos e cânticos espirituais" se referem ao livro inspirado de Salmos, também recebe apoio da gramática e do contexto imediato e onde se encontram estas passagens. Em Colossenses 3:16, somos exortados: "Que a palavra de Cristo habite em vós ricamente... " nesta passagem a palavra de Cristo é claramente sinônimo da Palavra de Deus. "Em I Pedro 1:11 é dito que " o espírito de Cristo " estava nos profetas do Velho Testamento e através deles testificava de antemão dos sofrimentos de Cristo e da glória que os seguiriam. Se, como é dito, o Espírito de Cristo testificou dessas coisas através dos profetas, então Cristo foi o verdadeiro autor das Escrituras. Proeminente entre estas profecias referentes a Cristo está o livro de Salmos; conseqüentemente, Cristo é o autor dos Salmos" (M.C. Ramsey , Purity of Worship [Presbyterian Church of Eastern Australia: Church Principles Committee, 1968 ], p. 20 ) . Depois de Paulo exortar a Igreja de Colossos a que a palavra de Cristo habite ricamente neles, imediatamente lhes aponta o livro de Salmos; o livro que compreende "de maneira mais sucinta e bela tudo que se contém em toda a Bíblia;" (Martin Luther, "Preface to the Psalter, [1528] 1545 " Luther's Works (tr. C.M. Jacobs; Philadelphia: Muhlenberg Press, 1960) Vol. XXXV, p. 254) um livro muito superior a qualquer livro devocional humano, sobre o qual Calvino declarou ser, "uma anatomia de todas as partes da alma" (John Calvin ,Commentary on the Book of Psalms (tr. James Anderson; Edinburgh: Calvin Translation Society, 1845), Vol. I, pp. xxxvi-xxxix. ) , um livro que é "um compêndio de toda divindade" ( Basil, citado in Michael Bushell, The Songs of Zion , p. 18 ) . Você acha que as Escrituras, a palavra de Cristo, está habitando em nós, quando cantamos hinos de composições não-inspiradas em nossos cultos? Não, não está! Se temos que cantar e meditar na palavra de Cristo, temos que cantar as palavras que Cristo escreveu pelo Seu Espírito – o livro de Salmos.
A gramática também apóia a afirmação de que Paulo estava falando do livro de Salmos. Na Bíblia em inglês, o adjetivo "espiritual" aplica-se somente à palavra cânticos (cânticos espirituais). Na língua grega, no entanto, quando um adjetivo imediatamente segue dois outros substantivos, isto se aplica a todos os outros substantivos precedentes. John Murray escreve, "Porque a palavra pneumatikos – espiritual – (Devemos ter muito cuidado para não dar à palavra "espiritual" dessas passagens o moderno significado de "religioso". A palavra "espiritual" aqui se refere a alguma coisa que procede do Espírito de Deus, e é, portanto, "inspirada" ou "soprada por Deus". B. B. Warfield escreve o seguinte sobre pneumatikos : "das vinte e cinco vezes em que a palavra ocorre no Novo Testamento, em nenhuma dessas referências ela desce tanto a ponto de referir-se ao espírito humano; e em vinte e quatro delas deriva-se depneuma , o Espírito Santo. O uso neotestamentário da palavra com o significado de pertencer a, ou de ser ordenada pelo Espírito Santo é uniforme, com a exclusiva exceção de Efésios 6:12 onde, ao que parece, ela se refere a inteligências superiores, mas sobre-humanas. Em cada um dos casos, a sua tradução apropriada é: concedida pelo Espírito, ou conduzida pelo Espírito, ou determinadas pelo Espírito" (The Presbyterian Review , Vol. 1, p. 561 [July 1880] quoted in Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 90-91 ) , qualifica odaise não salmoi e himnoi? A resposta mais razoável a esta questão é que a palavra pneumatikoi , qualifica todos os três dativos, e que o seu gênero (feminino), é devido a atração ao gênero do substantivo que está mais próximo. Uma outra possibilidade distinta, feita particularmente plausível pela omissão da copulativa em Colossenses 3:16, é que "cânticos espirituais", são gêneros e "salmos" e "hinos" são espécies. Esta, por exemplo, é a visão de Meyer. Em qualquer dessas afirmações, salmos, hinos e cânticos, são todos "Espirituais" e portanto, todos inspirados pelo Espírito Santo. A relação disso com o assunto em questão é perfeitamente visível. Hinos não-inspirados estão conseqüentemente excluídos " (John Murray, "Song in Public Worship" emWorship in the Presence of God , (ed. Frank J. Smith and David C. Lachman, Greenville Seminary Press, 1992), p. 188) . Se alguém quiser argumentar que espiritual não se aplica a salmos e hinos, então precisa responder duas questões pertinentes.
Primeira, porque Paulo insistiria nas inspirações dos cânticos, e ao mesmo tempo permite hinos não-inspirados? Podemos assegurar tranqüilamente que Paulo não era irracional.
Segunda, admitindo como fato, que salmos se referem a cânticos divinamente inspirados, seria não-bíblico não aplicar a "espirituais" o mesmo sentido. E depois, desde que já admitimos que salmos, hinos e cânticos espirituais se referem ao livro divinamente inspirado dos Salmos, é apenas natural aplicar espiritual, como sendo inspirados, a todos os três termos. Desde que o livro de Salmos é composto de salmos, hinos e cânticos espirituais ou divinamente inspirados, obedecemos a Deus somente quando O adoramos utilizando o saltério bíblico; hinos não-inspirados, não satisfazem o critério da adoração autorizada.
Uma outra questão que precisa ser considerada, tendo em vista essas passagens, é: "Essas passagens se referem ao culto, ou aos ajuntamentos informais dos crentes? Uma vez que Paulo está discutindo a mútua edificação dos crentes através do louvor inspirado, seria inconsistente de sua parte, permitir cânticos não inspirados no culto ou em qualquer outro ajuntamento. "O que é impróprio ou próprio para ser cantado em um caso, deve ser impróprio ou próprio para ser cantado em outro. Adoração é ainda adoração, sejam quais forem as circunstâncias, não importando o número de pessoas envolvidas" (Michael Bushell, The Songs of Zion, pp. 83-84) . "Se salmos, hinos e cânticos espirituais são os limites do material de cânticos para o louvor de Deus, nos atos menos formais de adoração, quanto mais eles serão limites no ato mais formal de adoração" (J. Murray e W. Young, "Minority Report," Minutes of the Orthodox Presbyterian Church (14 th General Assembly, 1947), p. 61, conforme citado em Michael Bushell , The Songs of Zion , p. 84) .
[3] Ver meu artigo, "Leadership in Worship", The Outlook , Dec. 1992, para o argumento.
[4] John Updike, A Month of Sundays (New York: Alfred A. Knopf, 1975), 136.
Nota sobre o autor: W. Robert Godfrey (Ph.D., Stanford), um membro do conselho da Alliance of Confessing Evangelicals, é presidente e professor de história da igreja no Westminster Theological Seminary na Califórnia.
Fonte: http://www.monergismo.com/textos/liturgia/musica_aceitavel_geoffrey.htm.
Dr. W. Robert Godfrey
Na guerra da adoração dos anos recentes, batalhas as mais sórdidas têm surgido com ímpeto em relação à música. O que devemos cantar? Quem deve cantar? Quais melodias devemos cantar? Quais instrumentos devem acompanhar o cântico da igreja – se algum? Via de regra parece que exércitos que se prepararam nos lados diversificados da questão têm lutado debaixo da bandeira da preferência. O que gostamos e o que nos toca? Preferências têm levado a tendência de colocar pessoas mais velhas contra as mais jovens e as experientes contra as inexperientes.
Mas, quão seriamente temos pensado teológica e biblicamente sobre a música? Em que quantidade as nossas convicções e práticas são moldadas pelo Novo Testamento? Neste artigo, examinaremos alguns dos ensinamentos-chave da Bíblia sobre música e cântico, e tentaremos relacioná-los com a história da reflexão reformada e assuntos contemporâneos.
Música na Bíblia:
A música não é um elemento proeminente no Novo Testamento. Bandas e corais não acompanhavam a pregação de Jesus. Não há evidência de instrumentos musicais nas sinagogas descritas no Novo Testamento. Música na igreja parece estar ausente nos Atos dos apóstolos – embora Paulo tenha cantado na prisão e louvores tenham sido apresentados nas igrejas. A única referência, não ambígua, de música nas igrejas é em I Coríntios 14:26 – embora Colossenses 3:16 (e.g., Efésios 5:19) possa muito bem refletir as atividades de adoração pública. Nenhum instrumento é mencionado em relação com o culto das igrejas do Novo Testamento.
A música parece de alguma forma mais proeminente no culto celestial descrito no livro de Apocalipse. Esta proeminência adicionada reflete provavelmente a correspondência entre o templo celestial e a música do templo terreno do Antigo Testamento. No templo veterotestamentário , instrumentos musicais e corais acompanhavam especialmente a oferta de sacrifícios (II Crônicas 29:25-36). Mesmo assim, na adoração celestial como descrito no livro de Apocalipse, o único instrumento musical citado é a harpa (e.g., Apocalipse 5:8.) – e a harpa é provavelmente colocada como um símbolo de louvor ao invés de uma referência literal de harpas no céu (ver Apocalipse 14:2).
Se o culto da igreja do Novo testamento é um modelo para a igreja de hoje, sério re-exame de práticas contemporâneas se faz necessário. A música – tão periférica no Novo Testamento – tornou-se central e crucial em nossos dias. Corais, solos e música especial ocupam um tempo considerável no culto. Debates logo "pegam fogo" no que diz respeito ao estilo de música entre os campeões desde o clássico ao contemporâneo.
Para muitos membros das igrejas parece que a música tem se tornado um novo sacramento. Um cântico intenso e prolongado é visto como um meio em que Deus vem abençoar o adorador e em que o cantor busca experiências transcendentais com Deus. Esta experiência é tão importante que muitos julgam uma igreja com base no caráter e qualidade de sua música. Em muitas igrejas a quantidade de tempo gasto em oração, leitura da Bíblia e pregação são reduzidos para que mais tempo possa ser dado à música.
Cristãos reformados em particular têm buscado seguir o ensinamento da Escritura na adoração. Eles acreditam que apenas as orientações ou exemplos da Bíblia podem guiar nossa adoração. Esta convicção flui das palavras da própria Bíblia (e.g., Colossenses 2:23 e Mateus 15:6) . Teologicamente, a paixão reformada pelo culto fiel e bíblico flui de avisos fortes na Escritura contra a idolatria. Idolatria é tanto o culto a um falso deus quanto o culto falso ao verdadeiro Deus. Idolatria é uma violação do primeiro ou do segundo dos Dez Mandamentos. O compromisso reformado com o culto bíblico deve ser aplicado à música como a todos os outros aspectos do culto.
Embora a música pareça ser um elemento relativamente secundário no Novo Testamento, é ainda um dos elementos. Jesus cantou com seus discípulos na Última Ceia e a Igreja de Corinto claramente cantou (como a Igreja de Colossos muito provavelmente cantou). Cantar é um elemento que tem sua propriedade, um ato distintivo na adoração. Pode funcionar de um jeito similar aos outros elementos. Pode compartilhar funções com o ensino e a pregação, por exemplo, mas mesmo assim permanece como um elemento distinto (Do mesmo modo, a leitura da Bíblia, pregação e a benção podem todos usar as mesmas palavras da Bíblia e todos têm em parte uma função de ensinamento, embora permaneçam elementos distintos de adoração). Como um elemento distinto, precisa ser entendido em termos de sua função singular no culto sendo dirigido pelas Escrituras.
Que tipo de cântico deve ser um elemento do culto Cristão? As palavras usadas para cântico no Novo Testamento ("salmos", "hinos" e "cânticos") não são termos técnicos, mas simplesmente parecem referir-se a músicas. (No grego do Antigo Testamento, estas três palavras são usadas para referir-se aos Salmos Canônicos.) Por exemplo, é dito que Jesus contou um hino (Mateus 26:30) em que certamente um dos salmos canônicos foi utilizado. Em contra partida, o salmo citado em I Coríntios 14:26 provavelmente não é um salmo canônico (alguns acham que se tratava de um cântico revelacional – NE). Veja também as referências de cânticos em Romanos 15:9, I Coríntios 14:15 e Tiago 5:13. O tipo de cântico usado no Novo Testamento não pode ser confirmado pelas palavras disponíveis. Outras indicações são necessárias para saber o que deve ser cantado.
Muitos argumentam que os cristãos estão livres para compor e cantar qualquer música que seja ortodoxa em seu conteúdo. O argumento permeia o raciocínio de que cantar louvores ao Senhor é semelhante à oração. Visto que estamos livres para formular nossas orações, estamos livres para compor músicas. Mas não é auto-evidente que a música deva ser semelhante a oração. Talvez deva ser similar à leitura das Escrituras. [1] O elemento cúltico da leitura da Escritura é limitado à leitura da Palavra inspirada, canônica. Tal limitação pode não parecer ser necessariamente severa, logicamente. Muitos escritos ortodoxos e edificantes produzidos por cristãos podem talvez ser lidos no culto. Porém, a maioria concordaria que deveríamos ter como um ato de culto a leitura das palavras inspiradas de Deus (veja I Timóteo 4:13).
Como reflexão, pelo menos na adoração veterotestamentária , cantar parece mais com a leitura da Escritura do que com a oração, porque enquanto o Velho Testamento não tem um livro de oração, ele tem um livro de cânticos. Deus, por uma razão que possa nos frustrar, providencia cânticos inspirados para o culto, mas não orações. Verdadeiras razões podem ser levadas em conta para a necessidade de músicas inspiradas. A música é uma atividade do povo de Deus que os une em uma atividade de resposta altamente emocional a Deus. A emoção elevada da música e seu potencial para abusos talvez possam ser uma razão para que Deus tenha inspirado as palavras para aquela resposta do povo de Deus. Também, a oração e pregação no culto público nas igrejas reformadas são elementos executados por líderes ordenados. A igreja separou líderes que são vocacionados, examinados, chamados e ordenados para a obra. Os cânticos que são "livres" raramente possuem estes padrões de cuidado e supervisão.
Claramente os Salmos canônicos foram designados para cantar, o que Jesus e seus discípulos fizeram na última ceia. Certamente, a chamada de Paulo para cantar "salmos, hinos e cânticos espirituais" abrange o convite para cantar Salmos canônicos [2]. No mínimo, portanto, devemos concluir dos exemplos e ensinamentos da Escritura que cantar os Salmos canônicos devem ser uma parte significativa do cântico da Igreja.
Demonstrações do Valor em Cantar os Salmos.
Deixe-me listar alguns dos argumentos mais fortes para se cantar os Salmos:
Os Salmos são inspirados, foram feitos para serem cantados, e são certamente ortodoxos no conteúdo. Cantar Salmos é ordenado por Deus; é certo que Lhe é agradável e é um excelente meio de guardar Sua Palavra em nossos corações. Pelo menos os Salmos precisam ser um elemento central do cântico da igreja e deve ser um modelo para tudo que é cantado. Eles são o padrão inspirado de louvor.
Os Salmos são cânticos equilibrados. Eles equilibram a declaração da verdade de Deus e Sua obra com nossa resposta emocional. O equilíbrio entre verdade e resposta do coração é delicado e difícil. Nossos cânticos podem ser ou muito informativos e doutrinários ou muito subjetivos e antropocêntricos.
Os Salmos nos providenciam cânticos que têm o alcance completo das respostas emocionais apropriadas para com a obra de Deus e nossa situação. Em algumas épocas da Igreja, hinos pareciam primariamente cheios de arrependimento. Em nossa época, eles parecem primariamente cheios de alegria. Os Salmos equilibram a confusão humana, frustração, aflição, tristeza e raiva com alegria, louvor, benção e ações de graça.
Os Salmos nos relembram que vivemos em um mundo de conflito. Eles imprimem em nós um mundo bíblico de pensamento em que há uma antítese já presente entre o justo e o ímpio, o santo e o iníquo. (Apenas dois Salmos, acredito, não fazem esta oposição explicitamente). Quão infrequentemente esta antítese é encontrada em muitos hinos.
Os Salmos nos relembram que somos o verdadeiro Israel de Deus. Nós herdamos a história, as promessas e a condição de Israel do Velho Testamento e devemos nos identificar com aquele Israel (cf. Efésios 2-3, Romanos 9-11, Hebreus 11-12, I Pedro 1-2, Tiago 1:1, Gálatas 6:16). Especialmente quando nos encontramos num mundo politeísta crescente, o foco monoteísta dos Salmos é valioso para a Igreja.
Os Salmos são cristocêntricos. Jesus testificou que os Salmos foram escritos sobre Ele (Lucas 24:44-45). Martinho Lutero chamou o Salmo de "uma pequena Bíblia" e o achou cheio de Cristo. Um ditado antigo da Igreja declara: " Sempre in ore psalmus, sempre in corde Christus " ("sempre um salmo na boca, sempre Cristo no coração"). Os Salmos contêm profecias explícitas de Cristo (e.g., Salmos 22 e 110). Eles são cheios de tipos que iluminam a pessoa e obra de Cristo. Eles descortinam sua obra redentiva em várias perspectivas. A Igreja deve evitar a tendência do liberalismo e dispensacionalismo, de ambos, e perder de vista Cristo nos Salmos além de perder a continuidade de Israel do Velho Testamento no Novo Testamento.
João Calvino reconhecia o valor de se cantar os Salmos. Ele instituiu grandes reformas litúrgicas na Igreja de Genebra depois da reflexão cuidadosa no caráter e papel da música na Igreja. (Em Genebra, a Igreja cantava os Salmos em uníssono sem qualquer acompanhamento musical). A maioria das igrejas reformadas na Europa seguiu a prática de Genebra e o cântico de Salmos tornou-se uma das marcas distintivas das igrejas Reformadas.
Alguns Calvinistas foram além de Calvino, argumentando que os Salmos eram os únicos cânticos permitidos no culto divino. Esta posição era argumentada com um particular vigor na Escócia, onde os Presbiterianos enfrentaram repetidas pressões governamentais para abandonarem suas formas distintivas de culto. Os escoceses responderam que deveriam obedecer a Deus ao invés do homem e aplicaram este princípio na defesa da salmodia exclusiva. Sérios debates nesta questão tomaram lugar entre os Calvinistas nos séculos XVIII e XIX quando algumas Igrejas Reformadas introduziram o uso de hinos no culto.
Objeções contra Maior Uso da Salmodia:
Pode ser útil considerar seis objeções comuns contra o maior (ou possivelmente até exclusivo) uso dos Salmos, e oferecer respostas justas a elas.
Objeção 1: "As imprecações dos Salmos (i.e., aquelas frases chamando Deus para julgar seus inimigos) reflete uma posição ética sub-cristã".
Esta objeção falha em entender a natureza das imprecações bíblicas. As imprecações não são a oração pessoal do cristão contra inimigos pessoais, mas são as orações de Cristo e da Igreja contra os inimigos de Deus. Eles, realmente, não são diferentes das orações da Igreja para o retorno de Cristo que trará tanto benção quanto julgamento.
Objeção 2: "O Novo Testamento autoriza o uso de hinos não-inspirados: Colossenses 3:16 (Efésios 5:19), I Coríntios 14:26 e hinos fragmentados citados no Novo Testamento".
Esta objeção não é tão clara quanto parece. A) Nem Colossenses 3:16 nem Efésios 5:19 referem-se sem ambigüidade ao culto público ou uso livre de cânticos não-inspirados nesta adoração. As palavras nestes versos para cântico podem todas referissem aos Salmos canônicos – ver NE. B) I Coríntios 24:26, acredito, realmente refere-se a outros cânticos além dos Salmos canônicos. Mas, estes outros cânticos são muito provavelmente cânticos inspirados pelo Espírito por meio da liderança dotada pelo Espírito na igreja primitiva. (O salmo, doutrina, revelação, línguas e interpretação das línguas neste texto tudo parece para mim inspirados divinamente).[3] Aqueles cânticos inspirados, porém, não foram preservados como uma parte da Escritura para o uso da Igreja Universal. C) Fragmentos de poemas na realidade parecem ser referências de autores bíblicos em partes no Novo Testamento. Estes fragmentos não podem, com qualquer certeza, serem vistos como cânticos, muitos menos cânticos usados no culto público.
Objeção 3: "Os Salmos parecem estranhos quanto a sua forma poética e o fluir de pensamento".
Esta observação é verdadeira até certo ponto. Aqueles familiarizados com hinos estão acostumados com um fluir de pensamento e forma poética que são comuns ao mundo ocidental. Em tal mundo, os Salmos realmente parecem estranhos. Mas, visto que os Salmos são inspirados por Deus, devemos desprender mais esforços para apreciar o porquê deles terem a forma que possuem e o que podemos aprender deles. (Devemos resistir a tendência comum, com respeito as músicas da igreja, e apenas gostar do que é familiar porque é familiar! Esta tendência é encontrada entre os devotos a todos os tipos de música da igreja). Certamente, a própria estranheza dos Salmos pode revelar a nossa necessidade deles. Talvez John Updike tenha capturado este raciocínio quando escreveu sobre "as pontas dos dedos sensibilizados pela lixa de um credo abrasivo".[4]
Objeção 4: "Cantar os salmos metrificados não é o mesmo que cantar os verdadeiros Salmos canônicos".
Uma boa versão metrificada dos Salmos não apenas dá uma tradução bem próxima dos Salmos, mas também busca traduzir poesia hebraica em uma forma poética ocidental. Comunicar algo em forma poética juntamente com a tradução verbal é um ponto forte dos salmos metrificados.
Objeção 5: " Nós não temos melodias inspiradas para cantar os Salmos ".
Verdade, não temos melodias inspiradas. Deus deixou livre seu povo para compor melodias de várias culturas e bases históricas para ajudar no cântico dos Salmos. Dois critérios deveriam salvaguardar adequadamente a Igreja em escrever e escolher suas melodias: primeiro , as melodias devem ser apropriadas ao conteúdo dos Salmos, e segundo , elas devem ser fáceis de cantar pela congregação.
Objeção 6: "Os Salmos não são suficientemente Cristocêntricos".
A elaboração desta objeção sugere que em cada estágio da história da redenção no Velho Testamento (e.g., estabelecimento da economia Mosaica, a celebração do reinado Davídico e o exílio), novos cânticos foram adicionados no cânon. É mais provável, então, no mais importante desenvolvimento da história da redenção – a real revelação do Salvador – que novos cânticos acompanhariam a Nova Aliança em Cristo. A objeção argumenta que devemos obviamente celebrar o nome e obra do Salvador nos termos mais explícitos possíveis. Esta objeção é certamente a mais significativa e pesada contra qualquer salmodia exclusiva (ou quase na totalidade exclusiva). Várias respostas podem ser oferecidas.
Esta objeção, como dita, é abstrata e especulativa, uma falta na reflexão teológica Reformada. Apenas a Escritura pode nos falar quais cânticos são precisos para celebrarem a Nova Aliança. Muitos elementos no culto da Igreja serão explicitamente da Nova Aliança: algumas leituras da Bíblia, algumas bênçãos, sermões, orações, Sacramentos. Mas, devem todos ser? O culto como um todo deve ser explicitamente da Nova Aliança, mas todo elemento deve ser? Apenas a própria Escritura pode responder esta questão.
Os Salmos não são uma exposição completa e explícita e uma celebração da Antiga Aliança. Muitos aspectos da história de Israel, lei e sacrifícios não são mencionados nos Salmos. Instituições chaves como o Sábado cerimonial e os ofícios proféticos são quase que totalmente ausentes. Ninguém poderia realmente reconstruir a economia mosaica pela evidência apenas nos Salmos. Claramente, os Salmos não buscaram comportar o caráter inteiro da Antiga Aliança.
Os cânticos inspirados da Nova Aliança, tal como aqueles que estão no livro de Apocalipse, não são mais Cristocêntricos explicitamente do que os Salmos. O nome de Jesus não é usado e Ele é chamado de Cordeiro (Ap. 5 e 19), o Cristo (Ap. 11), Deus e Rei (Apocalipse 15). Tudo isto são títulos encontrados no Antigo Testamento. A distinção entre velho cântico da criação e o novo cântico da redenção, encontrados no livro de Apocalipse (caps. 4 e 5), é um distintivo tomado do Saltério (Salmos 40:3, 96:1, 98:1, 149:1). O Saltério é rico em novas canções da redenção.
Os títulos e tipos usados sobre Cristo no Antigo Testamento de forma genérica e no Saltério particularmente, não O esconde, mas na realidade O revela, explicando quem Ele é e o que Ele fez. (Títulos e tipos tais como: Senhor, Pastor, Rei, Sacerdote, templo, etc). Sem o rico pano de fundo da religião do Antigo Testamento, não entenderíamos a pessoa e obra de Cristo tão completos quanto conhecemos. Na verdade, estes títulos e tipos não são completamente compreensíveis até a vinda de Jesus. Neste sentido, o Saltério pertence mais a Nova Aliança do que a Velha. Também; neste sentido, o Saltério é mais útil para a Igreja do Novo Testamento do que era para o povo da Antiga Aliança.
Opiniões provavelmente continuarão a divergir sobre a persuasão dos argumentos para o uso exclusivo dos Salmos para o cântico no culto público. Espero que estas reflexões sobre o valor dos Salmos, contudo, encorajem todos os Cristãos para o maior uso dos Salmos. Minha própria experiência tem sido que quanto mais eu os canto, mais os amo e mais sinto a plenitude da expressão religiosa deles em louvor a Deus. Na guerra da música que assedia a Igreja hoje, os Salmos são pouco considerados ou apreciados. Certamente é irônico que aqueles que amam a Bíblia pareçam freqüentemente desinteressados em cantá-los – e aprendê-los daquela maneira. Nós certamente precisamos dos Salmos para o nosso bem-estar espiritual.
Notas:
[1] Ver os artigos do Sherman Isbell sobre o cântico dos Salmos na The Presbyterian Reformed Magazine , começando no verão, edição de 1993.
[2] Nota do Editor – Extraído de Exclusive Psalmody, Brian M. Schwertley, pp 19-25 – Duas passagens cruciais no debate sobre a exclusividade do cântico de Salmos, são Efésios5:19 e Colossenses 3:16. Essas passagens são importantes, porque são usadas por ambos os lados, os que defendem o uso exclusivo dos Salmos e os que defendem o uso de hinos não inspirados na adoração. Paulo escreveu:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos , entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais (Efésios 5:18-19).
"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais , com gratidão, em vosso coração" (Colossenses 3:16).
Antes de considerarmos a questão de como essas passagens estão relacionadas com a adoração pública, vamos considerar primeiro a questão "o que Paulo quis dizer com as expressões, Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais?" Estas questões são muito importantes para os defensores da hinodia não-inspirada (aqueles que dizem ser adeptos do Princípio Regulador) que apontam para essas passagens como prova de que os hinos não-inspirados são permitidos por Deus para serem utilizados na adoração pública. Quando examinamos passagens como Efésios 5:19 e Colossenses 3:16, não podemos cometer o erro comum de tomar o significado moderno de uma palavra, como "hino" hoje, aplicando-o àquele em que Paulo escreveu a dois mil anos atrás. Quando uma pessoa ouve a palavra "hino", ela imediatamente pensa nos hinos extrabíblicos, os hinos não-inspirados encontrados nos bancos das Igrejas de hoje. A única forma de se determinar o real significado do que Paulo quis dizer com as palavras, "salmos, e hinos, e cânticos espirituais", é determinar como esses termos foram usados pelos cristãos de língua grega no primeiro século.
Quando interpretamos a terminologia usada por Paulo em suas epístolas, há necessidade de observarmos algumas regras de interpretação.
Primeiro, o pensamento religioso que dominava a mente e a cosmovisão do Apóstolo, era a mesma do Velho Testamento e de Jesus Cristo, não a do paganismo grego. Portanto, quando Paulo discute doutrina ou adoração, o primeiro lugar onde devemos buscar auxílio para o entendimento dos termos religiosos, é no Velho Testamento. É comum encontramos expressões ou termos hebraicos expressos em grego coinê.
Segundo, temos que ter em mente, que as Igrejas que Paulo fundou na Ásia, consistia de judeus convertidos, gentios prosélitos do Velho Testamento (tementes a Deus) e gentios pagãos. Essas Igrejas possuíam a versão grega do Velho Testamento chamada de Septuaginta. Quando Paulo expressou idéias do Velho Testamento, para uma audiência de gentios de fala grega, ele usou a terminologia religiosa usada pela Septuaginta. Se os termos hinos (hymnois) e cânticos espirituais (odais pneumatikois), tivessem sido definidos dentro do Novo Testamento, não haveria necessidade de procurarmos significados para eles na Septuaginta. Mas, uma vez que esses termos são raramente usados no Novo Testamento e não podem ser definidos dentro do contexto imediato à parte do conhecimento do Velho Testamento, seria, no mínimo irresponsável exegeticamente, ignorar como essas palavras eram usadas na versão Septuaginta do Velho Testamento.
Quando examinamos a Septuaginta, verificamos que os termos salmos (psalmos), hinos (hymnos) e cânticos (odee), referem-se claramente ao livro dos Salmos do Antigo Testamento e não a antigos e modernos hinos ou cânticos não inspirados. Bushell escreve: " Psalmos (...) ocorre 87 vezes na Septuaginta, desses, 78 aparecem nos salmos mesmos, sendo que 67 são títulos de salmos. Da mesma forma, o título da versão grega do saltério (...) hymnos (...) ocorre 17 vezes na Septuaginta, 13 das quais estão nos Salmos, sendo que 6 são títulos. Em I Samuel , I e II Crônicas e Neemias há cerca de 16 exemplos nos quais os Salmos são chamados "hinos"( hymnoi ) ou "cânticos"( odai ) e para o cântico deles a palavra utilizada significa "cantar louvor" (hymneo, hymnodeo, hymnesis )N.T.. Odee (...) ocorre umas 80 vezes na Septuaginta, 45 das quais nos Salmos, 36 nos títulos dos Salmos (Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 85-86) . Em doze títulos nós encontramos ambos, "salmos" e "cânticos"; e em dois outros "salmos" e "hinos". O Salmo 76 é designado como "salmo, hino e cântico" (na versão portuguesa ARA não aparece a palavra hino, N.T.). No final dos primeiros setenta e dois salmos, nós lemos: " Findam-se os hinos(ARA: orações) de Davi, filho de Jessé " (Salmos72:20). Não há razão alguma para pensarmos que o Apóstolo Paulo estava se referindo a "salmos" como coisa diferente de "hinos e cânticos", pois todos os três termos se referem a salmos no próprio livro de Salmos (G.I. Williamson, The Singing of Praise in the Worship of God , p. 6.) . Ignorar como a audiência de Paulo, na época, teria entendido estes termos, bem como a forma como são definidos pela Bíblia, e aplicar-lhes significados modernos, não-bíblicos, seria uma prática exegética deficiente.
Uma das objeções mais comuns contra a idéia de que Paulo em Efésios5:19 e Colossenses 3:16, está falando do livro dos Salmos, é que seria absurdo ele dizer, "cantando salmos, salmos e salmos". Essa objeção falha ao considerarmos o fato que um método comum de se expressar na antiga literatura judaica, era a forma triádica de expressão para designar uma idéia, ação ou objetos. A Bíblia contém muitos exemplos da forma triádica de expressão, a saber: Ex.34:7 – " iniqüidade, transgressão e o pecado "; Deut 5:31 e 6:1 – " mandamentos, estatutos e juízos "; Mt 22:37 – " de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento " (Marcos 12:30; Lucas 10:27); Atos 2:22 – " milagres, prodígios e sinais "; Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 – " salmos, hinos e cânticos espirituais ". "A tríplice distinção usada por Paulo, seria prontamente entendida por aqueles que já estavam familiarizados com seus Saltérios Hebraicos do Velho Testamento e a Septuaginta, onde os títulos dos salmos são distinguidos como salmos, hinos e cânticos. Esta interpretação faz justiça à analogia da Escrituras, isto é, a Escritura é seu melhor intérprete" (J.W. Keddie, Why Psalms Only? , p. 7) .
A interpretação de que "salmos, hinos e cânticos espirituais" se referem ao livro inspirado de Salmos, também recebe apoio da gramática e do contexto imediato e onde se encontram estas passagens. Em Colossenses 3:16, somos exortados: "Que a palavra de Cristo habite em vós ricamente... " nesta passagem a palavra de Cristo é claramente sinônimo da Palavra de Deus. "Em I Pedro 1:11 é dito que " o espírito de Cristo " estava nos profetas do Velho Testamento e através deles testificava de antemão dos sofrimentos de Cristo e da glória que os seguiriam. Se, como é dito, o Espírito de Cristo testificou dessas coisas através dos profetas, então Cristo foi o verdadeiro autor das Escrituras. Proeminente entre estas profecias referentes a Cristo está o livro de Salmos; conseqüentemente, Cristo é o autor dos Salmos" (M.C. Ramsey , Purity of Worship [Presbyterian Church of Eastern Australia: Church Principles Committee, 1968 ], p. 20 ) . Depois de Paulo exortar a Igreja de Colossos a que a palavra de Cristo habite ricamente neles, imediatamente lhes aponta o livro de Salmos; o livro que compreende "de maneira mais sucinta e bela tudo que se contém em toda a Bíblia;" (Martin Luther, "Preface to the Psalter, [1528] 1545 " Luther's Works (tr. C.M. Jacobs; Philadelphia: Muhlenberg Press, 1960) Vol. XXXV, p. 254) um livro muito superior a qualquer livro devocional humano, sobre o qual Calvino declarou ser, "uma anatomia de todas as partes da alma" (John Calvin ,Commentary on the Book of Psalms (tr. James Anderson; Edinburgh: Calvin Translation Society, 1845), Vol. I, pp. xxxvi-xxxix. ) , um livro que é "um compêndio de toda divindade" ( Basil, citado in Michael Bushell, The Songs of Zion , p. 18 ) . Você acha que as Escrituras, a palavra de Cristo, está habitando em nós, quando cantamos hinos de composições não-inspiradas em nossos cultos? Não, não está! Se temos que cantar e meditar na palavra de Cristo, temos que cantar as palavras que Cristo escreveu pelo Seu Espírito – o livro de Salmos.
A gramática também apóia a afirmação de que Paulo estava falando do livro de Salmos. Na Bíblia em inglês, o adjetivo "espiritual" aplica-se somente à palavra cânticos (cânticos espirituais). Na língua grega, no entanto, quando um adjetivo imediatamente segue dois outros substantivos, isto se aplica a todos os outros substantivos precedentes. John Murray escreve, "Porque a palavra pneumatikos – espiritual – (Devemos ter muito cuidado para não dar à palavra "espiritual" dessas passagens o moderno significado de "religioso". A palavra "espiritual" aqui se refere a alguma coisa que procede do Espírito de Deus, e é, portanto, "inspirada" ou "soprada por Deus". B. B. Warfield escreve o seguinte sobre pneumatikos : "das vinte e cinco vezes em que a palavra ocorre no Novo Testamento, em nenhuma dessas referências ela desce tanto a ponto de referir-se ao espírito humano; e em vinte e quatro delas deriva-se depneuma , o Espírito Santo. O uso neotestamentário da palavra com o significado de pertencer a, ou de ser ordenada pelo Espírito Santo é uniforme, com a exclusiva exceção de Efésios 6:12 onde, ao que parece, ela se refere a inteligências superiores, mas sobre-humanas. Em cada um dos casos, a sua tradução apropriada é: concedida pelo Espírito, ou conduzida pelo Espírito, ou determinadas pelo Espírito" (The Presbyterian Review , Vol. 1, p. 561 [July 1880] quoted in Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 90-91 ) , qualifica odaise não salmoi e himnoi? A resposta mais razoável a esta questão é que a palavra pneumatikoi , qualifica todos os três dativos, e que o seu gênero (feminino), é devido a atração ao gênero do substantivo que está mais próximo. Uma outra possibilidade distinta, feita particularmente plausível pela omissão da copulativa em Colossenses 3:16, é que "cânticos espirituais", são gêneros e "salmos" e "hinos" são espécies. Esta, por exemplo, é a visão de Meyer. Em qualquer dessas afirmações, salmos, hinos e cânticos, são todos "Espirituais" e portanto, todos inspirados pelo Espírito Santo. A relação disso com o assunto em questão é perfeitamente visível. Hinos não-inspirados estão conseqüentemente excluídos " (John Murray, "Song in Public Worship" emWorship in the Presence of God , (ed. Frank J. Smith and David C. Lachman, Greenville Seminary Press, 1992), p. 188) . Se alguém quiser argumentar que espiritual não se aplica a salmos e hinos, então precisa responder duas questões pertinentes.
Primeira, porque Paulo insistiria nas inspirações dos cânticos, e ao mesmo tempo permite hinos não-inspirados? Podemos assegurar tranqüilamente que Paulo não era irracional.
Segunda, admitindo como fato, que salmos se referem a cânticos divinamente inspirados, seria não-bíblico não aplicar a "espirituais" o mesmo sentido. E depois, desde que já admitimos que salmos, hinos e cânticos espirituais se referem ao livro divinamente inspirado dos Salmos, é apenas natural aplicar espiritual, como sendo inspirados, a todos os três termos. Desde que o livro de Salmos é composto de salmos, hinos e cânticos espirituais ou divinamente inspirados, obedecemos a Deus somente quando O adoramos utilizando o saltério bíblico; hinos não-inspirados, não satisfazem o critério da adoração autorizada.
Uma outra questão que precisa ser considerada, tendo em vista essas passagens, é: "Essas passagens se referem ao culto, ou aos ajuntamentos informais dos crentes? Uma vez que Paulo está discutindo a mútua edificação dos crentes através do louvor inspirado, seria inconsistente de sua parte, permitir cânticos não inspirados no culto ou em qualquer outro ajuntamento. "O que é impróprio ou próprio para ser cantado em um caso, deve ser impróprio ou próprio para ser cantado em outro. Adoração é ainda adoração, sejam quais forem as circunstâncias, não importando o número de pessoas envolvidas" (Michael Bushell, The Songs of Zion, pp. 83-84) . "Se salmos, hinos e cânticos espirituais são os limites do material de cânticos para o louvor de Deus, nos atos menos formais de adoração, quanto mais eles serão limites no ato mais formal de adoração" (J. Murray e W. Young, "Minority Report," Minutes of the Orthodox Presbyterian Church (14 th General Assembly, 1947), p. 61, conforme citado em Michael Bushell , The Songs of Zion , p. 84) .
[3] Ver meu artigo, "Leadership in Worship", The Outlook , Dec. 1992, para o argumento.
[4] John Updike, A Month of Sundays (New York: Alfred A. Knopf, 1975), 136.
Nota sobre o autor: W. Robert Godfrey (Ph.D., Stanford), um membro do conselho da Alliance of Confessing Evangelicals, é presidente e professor de história da igreja no Westminster Theological Seminary na Califórnia.
Fonte: http://www.monergismo.com/textos/liturgia/musica_aceitavel_geoffrey.htm.
Perguntas Freqüentes sobre Salmodia Exclusiva
Rev. R. J. Dodd
Copyright 1998 First Presbyterian Church Rowlett
[Extraído de A Verdadeira Salmodia, Antologia da Literatura Presbiteriana & Reformada, volume 4, 1991, Naphali Press . Embora o que segue tenha sido primeiramente publicado no século dezenove, ele é ainda muito relevante à discussão.] O seguinte sumário com respostas aos argumentos para o uso de hinos e às objeções ao uso dos Salmos no culto foram tirados de um sumário condensado sobre o assunto de Salmodia, que estava anexado à réplica do Rev. R.J.Dodd a Morton.
É objetado:
1 – ‘Que o cântico de composições não-inspiradas, no culto divino, não é proibido na palavra de Deus.'
Resposta: Nem estamos proibidos de observar sete sacramentos. Quer esteja ou não determinado esse ou aquele ato particular para ser desempenhado no culto a Deus, a falta de um apontamento divino, equivale, em todos os casos, a uma proibição.
2 – ‘Que bons homens compuseram hinos não-inspirados'
Resposta: (1) O melhor dos homens está sujeito a fazer aquilo que desonra a Deus e injuria a igreja. (2) Há muitos homens bons que não ousariam compor uma música para ser cantada no culto divino, nem oferecer a Deus um cântico composto pelo homem.
3 – ‘Que aqueles que usam a salmodia humana são mais numerosos que aqueles que usam somente o livro dos Salmos no cântico de louvores a Deus.'
Resposta: (1) Isso não foi sempre assim; e poderá vir o tempo em que deixará de ser assim. (2) Nem sempre é a maioria – e ainda que fosse, isso não os faria estar corretos em matéria de fé e prática religiosa.
4 – ‘Que nos é permitido compor nossas próprias orações e, segundo esse raciocínio, deve ser também permitido compormos nossas próprias canções de louvor.'
Resposta: (1) Por bem ou por mal, é um fato que muitos adoradores nem compõem nem podem compor suas próprias canções de louvor. (2) Deus nos deu, na Bíblia, um livro dos Salmos, mas nenhum livro de Orações; e prometeu à igreja um Espírito de oração, mas não um Espírito de salmodia. (3) Na oração nós expressamos nossos anseios pessoais; no louvor nós declaramos a glória de Deus. Por podermos moldar a forma apropriada das palavras para o primeiro propósito, isso não quer dizer que estamos igualmente capacitados a compor as palavras de forma apropriada para o último propósito. (4) As ordenanças da oração e do louvor diferem nisso: na primeira os pensamentos sugerem as palavras; e deveríamos, portanto, usar as palavras que eles sugerem; enquanto que, na última, as palavras são designadas para sugerir os pensamentos e, portanto, deveríamos usar as palavras, se pudermos obter as tais, que possam sugerir nada a não ser os pensamentos apropriados. (5) Nossos anseios estão sempre mudando; e, conseqüentemente, nossas orações devem variar: mas a glória de Deus é sempre a mesma; e por isso a mesma coleção de canções irá servir para expressão de seu louvor, de geração em geração.
5. ‘Que há, no Novo Testamento, autorização para cantar canções compostas pelo homem.' Primeiro: nós nos referimos ao fato de que Cristo e seus discípulos cantaram um hino, Mateus 26:30.
Resposta: (1) Prove que o hino cantado pelo nosso Salvador e os discípulos não era um ou mais dos Salmos de Davi. Os melhores comentaristas supõem que o grande Hallel, consistia, inclusive, dos Salmos de 113º ao 118º. (2) Nosso Salvador foi mais capacitado, e teve uma melhor condição de compor hinos que o Dr. Watts, John Wesley, Philip Doddridge, etc. Segundo: Argumenta-se que Paulo autorizou o uso de salmodia não-inspirada quando ele disse, Col. 3;16, “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Alguns argumentam para a primeira parte do verso, “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo”; explicando a frase, “a palavra de Cristo”, como sendo toda a Bíblia ou o Novo Testamento; e alegam que o apóstolo autoriza o uso de cânticos fora da palavra de Deus como um todo, ou do Novo Testamento em particular. Resposta: (1) Prove que essa expressão significa toda a Bíblia, ou o Novo Testamento, e não simplesmente o princípio do evangelho. (2) Prove que o Apóstolo impôs sobre a Igreja o compor cânticos, extraindo o assunto deles a partir do que ele denomina ‘a palavra de Cristo.'
Outras razões para o uso desses três termos, “salmos, e hinos, e cânticos espirituais” na última parte do verso. Resposta: (1) Nenhuma boa razão pode ser atribuída, porque qualquer um dos salmos inspirados não deve, em referência a diferentes aspectos sob os quais possam ser considerados, ser denominados ‘salmos, hinos, e cânticos espirituais'. Pois o uso dessa linguagem não é incomum. Deus disse, Ex. 34:7, “...iniqüidade, e transgressão, e pecado” (2) Se esses três termos designam três tipos de devocional poética, prove que o Livro dos Salmos não contém cânticos desses três tipos diferentes. (3) Os judeus usaram os termos salmos, hinos e cânticos indiscriminadamente no Livro dos Salmos. – Veja Josephus, Filo, etc.; e o mesmo deve ter sido feito por Paulo e os cristãos primitivos. (4) Na Septuaginta, que era a tradução do Velho Testamento em uso nos dias de Paulo, muitos dos salmos são, em seus títulos, designados salmos – um salmo; outros, ode – uma canção; e outros, aleluia; esta última é uma palavra advinda do hebraico, e quando usada como um nome na linguagem grega, é equivalente a hinos – um hino. Por que não devemos supor que o Apóstolo faz alusão, nesse verso, a esses três termos usados na versão da Septuaginta, como diferentes títulos dos salmos?
Terceiro: se infere de 1 Cor. 14:26 que os coríntios entoavam em suas assembléias salmos compostos por eles mesmos, sob um impulso sobrenatural do Espírito, e, é claro, não contido no livro dos Salmos. Resposta: Prove que os salmos, pela expressão inoportuna com a qual eles disturbavam suas assembléias, eram compostos por eles mesmos sob um impulso do Espírito, e não selecionado do Livro dos Salmos.
6. ‘Que o Livro dos Salmos é difícil de se entender.'
Resposta; (1) Se há algumas passagens nos Salmos difíceis de entender, há também em outras partes da Escritura, 2 Pe. 3:16. (2) Não é difícil entender os Salmos quando nós os cantamos tanto quanto os lemos. (3) Quanto mais o usarmos, melhor iremos entendê-lo. (4) Temos mais chances de entendê-lo do que os adoradores do Antigo Testamento tiveram; e temos certeza de que o Livro dos Salmos foi a salmodia dekes. (5) Se não conseguirmos entender os Salmos, muito menos seremos capazes de compor cânticos para ocupar seu lugar. (6) Se um homem não entender os Salmos, deixe-o, sob a direção de seu Autor divino, esforçar-se para alcançar seu significado. (7) Os Salmos não são, de modo geral, difíceis de se entender. Há, certamente, uma profundidade insondável.... Pode haver mais verdade divina e verdadeiro sentimento devocional encontrado na própria superfície dos Salmos inspirados, do que se pode obter desses que não são inspirados quando eles forem usados e desgastados.
7. ‘Que os Salmos não são adequados ao culto do Novo Testamento'
Resposta: (1) Deus nunca muda, e, é claro, seu louvor é sempre o mesmo. (2) O Espírito de Deus podia, nos dias de Davi, preparar canções melhores para o culto do Novo Testamento do que as que fazem os homens hoje. (3) Os Salmos em toda parte falam muito claramente de Cristo e de sua obra mediadora, do seu reino e da sua glória; e eles são citados freqüentemente pelos Apóstolos para ilustrar o modo de salvação. (4) Eles fazem menos referência às peculiaridades da velha dispensação do que o fazem alguns livros do Novo Testamento. (5) Não temos Livro dos Salmos no Novo Testamento, nem nenhuma ordem para preparar um.
8. ‘Que os Salmos contêm sentimentos adversos ao espírito do Evangelho; abundando em injúrias severas contra os inimigos pessoais, e sendo, em muitos casos, expressão de vingança, etc.'
Resposta: Isso é blasfêmia.
9.'Que os Salmos não são suficientemente numerosos para fornecer um sistema completo de salmodia.'
Resposta: (1) Deus não é mais glorioso agora do que o foi nos tempos do Antigo Testamento; e se os Salmos foram suficientes para expressão de seu louvor, eles ainda são suficientes. (2) É demais um homem ousar decidir quão copioso um sistema de salmodia deveria ser. (3) O livro dos Salmos hoje contém uma incomparavelmente maior abundância e variedade de temas do que todos os hinos que foram compostos pelos homens.
10. ‘Que não temos uma boa metrificação dos Salmos'
Resposta: (1) Deixe aqueles que pensam que não temos nenhuma boa metrificação dos Salmos melhorarem alguma das versões em uso ou fazer uma melhor. É certamente mais fácil fazer uma boa tradução dos Salmos de Deus, do que compor canções melhores do que aquelas que Ele fez. (2) É melhor cantar, no culto divino, uma translação imperfeita desses cânticos que Deus compôs, do que cantar as melhores canções que os homens podem fazer. (3) Nós temos uma boa metrificação dos Salmos. Há, na versão Escocesa dos Salmos, é verdade, algumas deformidades. Eles contêm algumas forma de expressão fora de uso, e algumas palavras que hoje são obsoletas; e essa versificação muitas vezes está longe de ser concisa. Mas, na maior parte, a fraseologia e a versificação são muito boas; e deveriam ser autorizadas por aqueles que a examinaram, pois sua fidelidade ao original hebraico não é inferior àquela da tradução da prosa dos salmos, em nossa bíblia em Inglês.
Essas poucas observações estão submetidas ao julgamento do leitor honesto e inteligente. Embora elas possam não ser abençoadas como o meio de livrá-lo da prática de usar a salmodia humana, contudo, se servirem para acrescentar algo a seu entendimento dos salmos inspirados, o escritor não considerará seu trabalho perdido. Os adoradores cristãos um dia terão olhos para ver, tanto estes quanto outros pontos importantes. Enquanto isso, todos os que temem a Deus podem, com confiança, executar os interesses da verdade de Cristo, até onde eles estejam envolvidos nessa controvérsia, para a supervisão dAquele que tira ordem da confusão e luz das trevas; e orando, “Seja na terra como nos céus”, descansando assegurado que muito em breve, nas canções apontadas pela própria autoridade suprema de Jeová, os adoradores devotos por todas as partes “darão ao SENHOR a glória que é devida ao seu nome”.
‘Louvai ao Senhor; a Ele cantai
um cântico novo ; e o Seu louvor,
Na assembléia dos seus santos,
em doces salmos levantai.
Alegre-se Israel naquele que o fez,
e a Ele cantai louvores;
Que todos os filhos de Sião,
regozijem-se em seu REI'.
Traduzido por: Márcio Santana Sobrinho Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/.
Copyright 1998 First Presbyterian Church Rowlett
[Extraído de A Verdadeira Salmodia, Antologia da Literatura Presbiteriana & Reformada, volume 4, 1991, Naphali Press . Embora o que segue tenha sido primeiramente publicado no século dezenove, ele é ainda muito relevante à discussão.] O seguinte sumário com respostas aos argumentos para o uso de hinos e às objeções ao uso dos Salmos no culto foram tirados de um sumário condensado sobre o assunto de Salmodia, que estava anexado à réplica do Rev. R.J.Dodd a Morton.
É objetado:
1 – ‘Que o cântico de composições não-inspiradas, no culto divino, não é proibido na palavra de Deus.'
Resposta: Nem estamos proibidos de observar sete sacramentos. Quer esteja ou não determinado esse ou aquele ato particular para ser desempenhado no culto a Deus, a falta de um apontamento divino, equivale, em todos os casos, a uma proibição.
2 – ‘Que bons homens compuseram hinos não-inspirados'
Resposta: (1) O melhor dos homens está sujeito a fazer aquilo que desonra a Deus e injuria a igreja. (2) Há muitos homens bons que não ousariam compor uma música para ser cantada no culto divino, nem oferecer a Deus um cântico composto pelo homem.
3 – ‘Que aqueles que usam a salmodia humana são mais numerosos que aqueles que usam somente o livro dos Salmos no cântico de louvores a Deus.'
Resposta: (1) Isso não foi sempre assim; e poderá vir o tempo em que deixará de ser assim. (2) Nem sempre é a maioria – e ainda que fosse, isso não os faria estar corretos em matéria de fé e prática religiosa.
4 – ‘Que nos é permitido compor nossas próprias orações e, segundo esse raciocínio, deve ser também permitido compormos nossas próprias canções de louvor.'
Resposta: (1) Por bem ou por mal, é um fato que muitos adoradores nem compõem nem podem compor suas próprias canções de louvor. (2) Deus nos deu, na Bíblia, um livro dos Salmos, mas nenhum livro de Orações; e prometeu à igreja um Espírito de oração, mas não um Espírito de salmodia. (3) Na oração nós expressamos nossos anseios pessoais; no louvor nós declaramos a glória de Deus. Por podermos moldar a forma apropriada das palavras para o primeiro propósito, isso não quer dizer que estamos igualmente capacitados a compor as palavras de forma apropriada para o último propósito. (4) As ordenanças da oração e do louvor diferem nisso: na primeira os pensamentos sugerem as palavras; e deveríamos, portanto, usar as palavras que eles sugerem; enquanto que, na última, as palavras são designadas para sugerir os pensamentos e, portanto, deveríamos usar as palavras, se pudermos obter as tais, que possam sugerir nada a não ser os pensamentos apropriados. (5) Nossos anseios estão sempre mudando; e, conseqüentemente, nossas orações devem variar: mas a glória de Deus é sempre a mesma; e por isso a mesma coleção de canções irá servir para expressão de seu louvor, de geração em geração.
5. ‘Que há, no Novo Testamento, autorização para cantar canções compostas pelo homem.' Primeiro: nós nos referimos ao fato de que Cristo e seus discípulos cantaram um hino, Mateus 26:30.
Resposta: (1) Prove que o hino cantado pelo nosso Salvador e os discípulos não era um ou mais dos Salmos de Davi. Os melhores comentaristas supõem que o grande Hallel, consistia, inclusive, dos Salmos de 113º ao 118º. (2) Nosso Salvador foi mais capacitado, e teve uma melhor condição de compor hinos que o Dr. Watts, John Wesley, Philip Doddridge, etc. Segundo: Argumenta-se que Paulo autorizou o uso de salmodia não-inspirada quando ele disse, Col. 3;16, “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. Alguns argumentam para a primeira parte do verso, “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo”; explicando a frase, “a palavra de Cristo”, como sendo toda a Bíblia ou o Novo Testamento; e alegam que o apóstolo autoriza o uso de cânticos fora da palavra de Deus como um todo, ou do Novo Testamento em particular. Resposta: (1) Prove que essa expressão significa toda a Bíblia, ou o Novo Testamento, e não simplesmente o princípio do evangelho. (2) Prove que o Apóstolo impôs sobre a Igreja o compor cânticos, extraindo o assunto deles a partir do que ele denomina ‘a palavra de Cristo.'
Outras razões para o uso desses três termos, “salmos, e hinos, e cânticos espirituais” na última parte do verso. Resposta: (1) Nenhuma boa razão pode ser atribuída, porque qualquer um dos salmos inspirados não deve, em referência a diferentes aspectos sob os quais possam ser considerados, ser denominados ‘salmos, hinos, e cânticos espirituais'. Pois o uso dessa linguagem não é incomum. Deus disse, Ex. 34:7, “...iniqüidade, e transgressão, e pecado” (2) Se esses três termos designam três tipos de devocional poética, prove que o Livro dos Salmos não contém cânticos desses três tipos diferentes. (3) Os judeus usaram os termos salmos, hinos e cânticos indiscriminadamente no Livro dos Salmos. – Veja Josephus, Filo, etc.; e o mesmo deve ter sido feito por Paulo e os cristãos primitivos. (4) Na Septuaginta, que era a tradução do Velho Testamento em uso nos dias de Paulo, muitos dos salmos são, em seus títulos, designados salmos – um salmo; outros, ode – uma canção; e outros, aleluia; esta última é uma palavra advinda do hebraico, e quando usada como um nome na linguagem grega, é equivalente a hinos – um hino. Por que não devemos supor que o Apóstolo faz alusão, nesse verso, a esses três termos usados na versão da Septuaginta, como diferentes títulos dos salmos?
Terceiro: se infere de 1 Cor. 14:26 que os coríntios entoavam em suas assembléias salmos compostos por eles mesmos, sob um impulso sobrenatural do Espírito, e, é claro, não contido no livro dos Salmos. Resposta: Prove que os salmos, pela expressão inoportuna com a qual eles disturbavam suas assembléias, eram compostos por eles mesmos sob um impulso do Espírito, e não selecionado do Livro dos Salmos.
6. ‘Que o Livro dos Salmos é difícil de se entender.'
Resposta; (1) Se há algumas passagens nos Salmos difíceis de entender, há também em outras partes da Escritura, 2 Pe. 3:16. (2) Não é difícil entender os Salmos quando nós os cantamos tanto quanto os lemos. (3) Quanto mais o usarmos, melhor iremos entendê-lo. (4) Temos mais chances de entendê-lo do que os adoradores do Antigo Testamento tiveram; e temos certeza de que o Livro dos Salmos foi a salmodia dekes. (5) Se não conseguirmos entender os Salmos, muito menos seremos capazes de compor cânticos para ocupar seu lugar. (6) Se um homem não entender os Salmos, deixe-o, sob a direção de seu Autor divino, esforçar-se para alcançar seu significado. (7) Os Salmos não são, de modo geral, difíceis de se entender. Há, certamente, uma profundidade insondável.... Pode haver mais verdade divina e verdadeiro sentimento devocional encontrado na própria superfície dos Salmos inspirados, do que se pode obter desses que não são inspirados quando eles forem usados e desgastados.
7. ‘Que os Salmos não são adequados ao culto do Novo Testamento'
Resposta: (1) Deus nunca muda, e, é claro, seu louvor é sempre o mesmo. (2) O Espírito de Deus podia, nos dias de Davi, preparar canções melhores para o culto do Novo Testamento do que as que fazem os homens hoje. (3) Os Salmos em toda parte falam muito claramente de Cristo e de sua obra mediadora, do seu reino e da sua glória; e eles são citados freqüentemente pelos Apóstolos para ilustrar o modo de salvação. (4) Eles fazem menos referência às peculiaridades da velha dispensação do que o fazem alguns livros do Novo Testamento. (5) Não temos Livro dos Salmos no Novo Testamento, nem nenhuma ordem para preparar um.
8. ‘Que os Salmos contêm sentimentos adversos ao espírito do Evangelho; abundando em injúrias severas contra os inimigos pessoais, e sendo, em muitos casos, expressão de vingança, etc.'
Resposta: Isso é blasfêmia.
9.'Que os Salmos não são suficientemente numerosos para fornecer um sistema completo de salmodia.'
Resposta: (1) Deus não é mais glorioso agora do que o foi nos tempos do Antigo Testamento; e se os Salmos foram suficientes para expressão de seu louvor, eles ainda são suficientes. (2) É demais um homem ousar decidir quão copioso um sistema de salmodia deveria ser. (3) O livro dos Salmos hoje contém uma incomparavelmente maior abundância e variedade de temas do que todos os hinos que foram compostos pelos homens.
10. ‘Que não temos uma boa metrificação dos Salmos'
Resposta: (1) Deixe aqueles que pensam que não temos nenhuma boa metrificação dos Salmos melhorarem alguma das versões em uso ou fazer uma melhor. É certamente mais fácil fazer uma boa tradução dos Salmos de Deus, do que compor canções melhores do que aquelas que Ele fez. (2) É melhor cantar, no culto divino, uma translação imperfeita desses cânticos que Deus compôs, do que cantar as melhores canções que os homens podem fazer. (3) Nós temos uma boa metrificação dos Salmos. Há, na versão Escocesa dos Salmos, é verdade, algumas deformidades. Eles contêm algumas forma de expressão fora de uso, e algumas palavras que hoje são obsoletas; e essa versificação muitas vezes está longe de ser concisa. Mas, na maior parte, a fraseologia e a versificação são muito boas; e deveriam ser autorizadas por aqueles que a examinaram, pois sua fidelidade ao original hebraico não é inferior àquela da tradução da prosa dos salmos, em nossa bíblia em Inglês.
Essas poucas observações estão submetidas ao julgamento do leitor honesto e inteligente. Embora elas possam não ser abençoadas como o meio de livrá-lo da prática de usar a salmodia humana, contudo, se servirem para acrescentar algo a seu entendimento dos salmos inspirados, o escritor não considerará seu trabalho perdido. Os adoradores cristãos um dia terão olhos para ver, tanto estes quanto outros pontos importantes. Enquanto isso, todos os que temem a Deus podem, com confiança, executar os interesses da verdade de Cristo, até onde eles estejam envolvidos nessa controvérsia, para a supervisão dAquele que tira ordem da confusão e luz das trevas; e orando, “Seja na terra como nos céus”, descansando assegurado que muito em breve, nas canções apontadas pela própria autoridade suprema de Jeová, os adoradores devotos por todas as partes “darão ao SENHOR a glória que é devida ao seu nome”.
‘Louvai ao Senhor; a Ele cantai
um cântico novo ; e o Seu louvor,
Na assembléia dos seus santos,
em doces salmos levantai.
Alegre-se Israel naquele que o fez,
e a Ele cantai louvores;
Que todos os filhos de Sião,
regozijem-se em seu REI'.
Traduzido por: Márcio Santana Sobrinho Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/.
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