sábado, 6 de março de 2010

Os Hinos do Apocalipse

O livro de Apocalipse contém numerosos exemplos de cânticos de adoração (e.g., 4:8, 11; 5:9-13; 7:10-12; 11:17-18; 14:2-3; 15:3-4; 19:1, 2, 5, 8). A questão que precisa ser respondida sobre esses cânticos é: “Essas alusões à adoração nos céus nos ensinam alguma coisa sobre como devemos cantar no culto público e como devemos conduzir a adoração pública em nossos dias?” Não, claramente não.


O livro de Apocalipse é literatura apocalíptica, e conseqüentemente não foi feita para ser um guia literal ou padrão para a adoração pública. Se fosse assim, teríamos de ser todos romanistas, pois o Apocalipse descreve um altar (6:9; 8:3, 5; 9:13; 11:1; 14:18; 16:7); incenso (8:4); trombetas(1:10; 4:1; 8:13; 9:14); harpas (5:8; 14:2; 15:2) e ainda a arca da aliança (11:19). Também teríamos de ser místicos, porque no Apocalipse cada criatura, incluindo os pássaros, insetos, águas-vivas, e minhocas, etc., louva a Deus (5:13). A literatura apocalíptica usa linguagem figurada e imaginação dramática para ensinar lições espirituais. “O mais importante ao assistir um drama não é a representação em si mas a mensagem que ele ajuda a retratar.”

O livro de Apocalipse está cheio até a borda com os ritos obscuros, com os tronos e os templos, e com um número inteiro de atos litúrgicos que não podem ser relacionados às nossas circunstâncias de adoração. A tentativa de extrair elementos de culto dessa literatura apocalíptica só pode conduzir ao caos litúrgico.
 
Além do mais, ainda que alguém queira tomar as cenas apocalípticas de adoração nos céus como normativa para a igreja hoje, elas ainda não autorizariam o uso de hinos não-inspirados, pois os cânticos entoado pelos anjos, os quatro seres viventes, e os santos purificados “são por natureza composições inspiradas, procedendo como eles do próprio céu e do mais alto trono da presença de Deus” Mas (como notado) as cenas da adoração apocalíptica com seus altares, incenso, harpas, e outras imagens cerimoniais claramente não podem se aplicar à igreja da nova aliança sem que a Escritura contradiga a si mesmo, o que é impossível.


Alguns escritores apelam ao novo cântico mencionado em Apocalipse 14:3 como autorização da escritura para a composição de novos cânticos hoje. Um estudo deste termo na Escritura, entretanto, provará que a expressão bíblica novo cântico nada tem a ver com novas composições não-inspiradas depois que foi fechado o cânon.

O termo novo cântico no Velho Testamento pode referir-se a um cântico que tenha as novas misericórdias ou novas maravilhas do poder de Deus como tema (e.g., Salmo 40:3; 98:1). Mas tenha em mente que essa expressão é usada somente para descrever cânticos escritos sob inspiração divina. Este fato limita novo cântico aos cânticos inspirados da Bíblia. Uma vez que o termo novo cântico é usado somente para descrever cânticos escritos por pessoas que tinham o dom profético, e não se aplicava a qualquer israelita, certamente ele não se aplica a Isaac Watts, Charles Wesley, ou qualquer outro escritor de hinos não-inspirado.
 
Outro significado de novo cântico não se refere a um cântico descrevendo novas misericórdias, mas a cantar um cântico de forma nova; isto é, com devoção, coração rejubilante; com um novo impulso de gratidão. A canção pode de fato ser bastante velha, mas como aplicamos o cântico inspirado experimentalmente a nossa própria situação, nós o cantamos novamente. Esse é provavelmente o significado de cantar um cântico novo nos Salmos, que usam o termo, ainda que não se refiram a novas misericórdias. Por exemplo, o Salmo 33 usa o termo cantar um cântico novo, e então fala de doutrinar bastante conhecidas: criação, providência, e esperança e confiança em Deus. E, há um sentido no qual todos os cânticos do Velho Testamento são novos cânticos para o cristão da nova aliança: nós cantamos os Salmos com um entendimento e perspectiva desconhecidas dos crentes do Velho Testamento. Por conta da expressão do amor de Deus em Cristo, Jesus e o Apóstolo João puderam até se referir a um bastante conhecido mandamento do Velho Testamento (Levítico 19:18) como um “novo mandamento” (João 13:34; 1João 2:7; 2João 5).

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