sábado, 6 de fevereiro de 2010
Salmodia Exclusiva: Uma Defesa Bíblica
Capítulo 1
O Princípio Regulador do Culto
Há uma quantidade de doutrinas importantes na Bíblia que são deduzidas de muitas partes da Escritura e não podem ser provadas conclusivamente por um ou dois versos. O cântico exclusivo dos Salmos é uma dessas doutrinas. A salmodia exclusiva flui diretamente de todo ensino da Escritura com referência ao culto de Jeová. A Bíblia ensina que “a maneira aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituída por ele mesmo, e é tão limitada pela sua própria vontade relevada, que ele não pode ser cultuado de acordo com as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem por meio de qualquer representação visível, ou qualquer outra forma não prescrita nas Sagradas Escrituras”[3] Quando falamos de elementos de culto e do conteúdo do louvor, devemos ter uma autorização da palavra de Deus. Deus é quem fixa os parâmetros daquilo que é permitido no culto, não o homem. Em outras palavras, qualquer coisa que a igreja faça no culto deve ser provada pela Bíblia. Essa prova pode ser alcançada por um mandamento explícito de Deus (e.g., “Fazei isto em memória de mim,” Lucas 22:19); ou por inferência lógica da Escritura (i.e., não há um mandamento explícito mas quando muitas passagens são comparadas elas ensinam ou inferem uma prática escriturística); ou por exemplo bíblico histórico (e.g., a mudança da adoração pública corporativa do sétimo para o primeiro dia da semana).
A doutrina Reformada da adoração chamada de lei bíblica da adoração; princípio puritano da adoração; ou, princípio regulador do culto é claramente ensinada tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos.[4] Em Gênesis 4:3-5 lemos que Deus rejeitou a oferta de frutos da terra de Caim, mas aceitou a oferta de sacrifício de animais de Abel. Por quê? Porque mesmo não sendo a oferta de frutos proibida, não fora ordenada. Levítico 10:1-2 registra que Deus matou Nadabe e Abiu porque eles ofereceram fogo estranho, o qual Deus “não os autorizou”. A oferta de fogo estranho não é proibida na Escritura, mas também não é ordenada. Em Deuteronômio 12:32, com a intenção específica de evitar as falsas práticas de adoração dos pagãos, Deus disse, “Tudo o quanto eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” (cf. Deuteronômio 4:2; Jeremias 7:24,31; 19:5; 1 Reis 12:32-33; Números 15:39-40). Em 2 Samuel 6:3-7 lemos do juízo de Deus sobre os homens de Davi que transportavam a arca. Por que eles foram julgados? Deus irou-se porque eles não fizeram “a ordem devida...como Moisés ordenou de acordo com a palavra do Senhor” (1 Crônicas 15:13-15). Jesus repreendeu os Fariseus por acrescer a lei de Deus: “Por que transgredis vós também o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” (Mateus 15:3). Jesus disse à mulher no poço que “aqueles que o adoram [a Deus] devem adorá-lo em espírito e em verdade” (João 4:24). Quando Jesus Cristo deu ordens aos apóstolos antes de sua ascensão aos céus, ele deu à igreja autoridade para criar sua própria doutrina, governo, culto, e dias santos? Absolutamente não! Ele disse para ensinar “[as nações] a observar tudo aquilo que vos tenho ordenado” (Mateus 28:20) Jesus disse aos fariseus que criavam suas próprias normas de adoração, “Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:9). Paulo disse que acrescentar mandamentos e doutrinas de homens ao Cristianismo é “sujeitar-se a ordenanças, falsa humildade” e é de “nenhum valor contra os desejos da carne” (Colossenses 2:20-23).
O ensino bíblico concernente à adoração é cristalino. O trabalho da igreja não é inovar e criar novas ordenanças ou formas de culto, mas simplesmente enxergar aquilo que Deus declarou em Sua palavra e obedecer a isto. “O poder da igreja é puramente ministerial e declarativo. Ela simplesmente expõe a doutrina, obriga às leis, e executa o governo que Cristo lhe deu. Ela não adiciona nada por si mesma, nem subtrai nada do que seu Senhor estabeleceu. Ela não possui poder discricionário.”[5]
John W. Keddie escreve,
O grande historiador da Igreja William Cunningham apontou que a implicação deste [princípio] ‘se fosse levado a cabo completamente seria somente a Igreja permanecer na condição em que foi deixada pelos Apóstolos, até onde temos notícia – um resultado que, seguramente, não precisa ser muito repetido, exceto para aqueles que pensam ter poderes superiores para incrementar e adornar a Igreja com suas próprias invenções’ [The Reformers and the Theology of the Reformation (Os reformadores e a teologia da reforma), p. 32]. É quase desnecessário mostrar que as conseqüências da adoção de uma visão frouxa – basicamente permissiva, e inquestionavelmente a predominante hoje até mesmo nas igrejas evangélicas – tem sido a tendência para a retirada do material bíblico do culto e a introdução, não tendo nenhuma autorização da palavra de Deus, de toda sorte de inovações sem conta. [6]
O princípio regulador do culto é crucial no entendimento da salmodia exclusiva, pois enquanto há abundante evidência bíblica de que os Salmos eram usados para louvor tanto na época do Velho quanto do Novo Testamento, não há evidência na Bíblia de que o povo de Deus jamais tenha usado composições humanas não-inspiradas no culto público. Igrejas que usam hinos não-inspirados na adoração pública devem provar que isto é uma prática que possui autorização bíblica seja por um mandamento, por exemplo histórico, ou por dedução. No momento nós iremos examinar os principais argumentos usados por autores reformados para justificar o uso de cânticos não-inspirados no culto público. Isto irá mostrar que esses argumentos são baseados ora em uma exegese capenga da Escritura, ora em um falso-entendimento ou perversão do princípio regulador (e.g. louvor como uma circunstância de culto), ou sobre uma especulação não comprovada (e.g., o argumento dos fragmentos de hinos). Iremos ver que os reformadores calvinistas, os presbiterianos escoceses, os huguenotes franceses, os reformados holandeses, e os puritanos ingleses e americanos estavam biblicamente corretos em manter a salmodia exclusiva.
Capítulo 2
O Testemunho da Escritura:
O Cântico dos Salmos é Ordenado?
O Cântico de Hinos Não-inspirados é Autorizado?
A questão sobre se Deus requereu ou não de sua igreja o cântico dos Salmos no culto público pode parecer absurda, ainda há pastores e estudiosos reformados apostos à salmodia exclusiva que de fato argumentam que o cântico dos Salmos não é requerido.[7] Certo pastor argumentou que embora a Escritura requeira dos crentes cantar louvores, não requer o cântico dos Salmos no culto. Um estudioso Batista Reformado disse que, “uma vez que nem o Antigo nem o Novo Testamento diretamente ordenam o cântico dos Salmos pela congregação no culto público de Deus, podemos ver que isto é mais um privilégio do que um dever.”[8] A razão dos oponentes da salmodia exclusiva argumentarem que o cântico dos Salmos não é ordenado é que se o cântico de hinos não-inspirados não é divinamente ordenado, então alguém pode objetar que o conteúdo do louvor é uma circunstância de culto. Argumentar que os Salmos não são ordenados é um atentado frontal ao princípio regulador do culto. Se eu puder mostrar pela Escritura que o cântico de hinos inspirados for ordenado por Deus, então o cântico de composições humanas não-inspiradas está automaticamente excluído da adoração pública. Alguém deve mostrar uma prescrição divina para o uso de cânticos não-inspirados na Escritura. E isso (como veremos adiante) é impossível.
Aqueles que argumentam que o cântico dos Salmos não é ordenado e, portanto, é meramente uma circunstância de culto devem estar ignorando a rica evidência escriturística. O cântico dos Salmos divinamente inspirados é amparado por mandamento específico, exemplo histórico, e dedução.
1. Mandamento Específico
O livro dos Salmos contém diversas ordens de louvor a Jeová com o cântico dos Salmos.
Celebrai com júbilo ao Senhor, toda a terra; Bradai em cânticos, regozijai-vos e cantai louvores. Cantai ao Senhor com a harpa; com a harpa e a voz de um salmo. Com trombetas e som de buzinas; Exultai perante a face do Senhor, do Rei. (Salmo 98:4-6)
Cantai-lhe, cantai-lhe salmos; Narrai a todos os seus assombrosos feitos! (Salmo 105:2)
Vinde, cantemos ao Senhor! Saiamos perante a sua presença com ações de graças, celebremo-lo com salmos. (Salmo 95:1-2; cf. Salmos 81:1-2; 100:2).
2. Designado por Deus para o cântico
Que o livro dos Salmos é claramente designado por Deus para ser cantado é indicado pela terminologia musical encontrada nos títulos dos Salmos e em cada parte dos próprios Salmos. Há a menção de chefes de música e vários tipos de instrumentos musicais bem como os nomes de melodias pelas quais certamente os Salmos foram cantados. Os Salmos são constantemente denominados como cânticos, salmos (cânticos melodiosos), e hinos. Enquanto é verdade que os Salmos podem ser lidos, entoados, orados, e assim por diante, eles eram e claramente são para ser cantados pelo povo de Deus.
3. Exemplos Históricos
Há diversos exemplos bíblicos históricos do uso dos Salmos no culto público registrado na Bíblia (cf. 1Crônicas 16; 2 Crônicas 5:13; 20:21; 29:30; Esdras 3:11). “São, de fato, numerosas indicações nas Escrituras de que os Salmos ou seus similares (inspirados) de então eram não somente utilizados pelo cântico levítico antes do povo de Deus, mas também diligentemente ensinados para as pessoas “comuns” (e.g. Êxodo 15:1; 2Samuel 1:18; 2Crônicas 23:13; Salmos 30:4; 137:1 ff.; Mateus 26:30; Tiago 5:13).”[9]
4. Fixado no Cânon
O fato de que Deus colocou dentro do cânon da Escritura inspirada uma coleção de 150 hinos de adoração por si mesmo prova que Deus requer que esses hinos sejam usados na adoração pública. Bushell escreve,
O Senhor nos deu na Escritura um livro completo de salmos inspirados e então nos ordenou a “cantar salmos.” Deixe de lado a questão sobre se devemos ou não cantar outras canções no culto, não é o cúmulo da impiedade e tolice chegar diante de Deus, como se faz, e insistir que não temos obrigação de cantar os singulares salmos que ele graciosamente pôs em nossas mãos? Poderíamos argumentar que a inclusão de uma coleção de cânticos no cânon da Escritura, sem qualquer indicação dos limites para seu uso, constitui uma ordem divina para usar todo este livro nos serviços do culto. Se o Senhor pôs em nossas mãos um livro de salmos, como ele fez, e nos ordenou que cantássemos salmos, não temos nenhum direito, sem termos instrução adicional, de excluir aqueles salmos que são postos à disposição da Igreja. [10]
Argumentar que o fato de pôr um livro de cânticos inspirados no meio do cânon não é significante e não é uma indicação clara de que Deus pretende usá-los na adoração da Igreja “seria como argumentar que a composição de um cânon não fornece nenhuma indicação específica de que os 66 livros são aqueles que devem ser usados quando a palavra de Deus é lida na adoração da igreja.” [11]
5. O Uso de Somente Canções Inspiradas
Um exame cuidadoso das passagens da Escritura que falam sobre os cânticos usados na adoração, e de como esses cânticos foram compostos, revela que Deus somente autoriza e aceita ser louvado com canções divinamente inspiradas. “Se quando a Bíblia fala da origem dos cânticos de adoração, retrata o texto como algo produzido por inspiração divina, então a inspiração deve ser uma norma bíblica para esta ordenança.” [12] Há tantos exemplos na Bíblia que mostram a conexão entre escrever cânticos de louvor para a igreja e a inspiração profética que é inacreditável como este ponto tem sido tão largamente ignorado por aqueles que reivindicam praticar o princípio regulador do culto. Há o exemplo da profetiza Mirian que, por inspiração divina, compôs um cântico para celebrar a libertação que Deus deu a Israel do Egito (Êxodo 15:20-21). Nós também temos o cântico de Débora, a profetiza (Juízes 5). Há as canções divinamente inspiradas do profeta Isaías (e.g. 5:1, 26:1 ff.,etc.) como também a canção divinamente inspirada de Maruá (Lucas 1:46 ff.). Se 1 Coríntios 14:26 se refere a cristãos compondo canções para o culto público, essas canções eram, “como é universalmente admitido, canções carismáticas, e portanto produto da inspiração direta do Espírito Santo.”[13] (A questão sobre se a igreja da nova aliança deve cantar hinos divinamente inspirados afora os do livro dos Salmos é tratada adiante.)
Os santos do Antigo Testamento que Deus usou para escrever o saltério escreveram por inspiração do Espírito Santo. Note mais uma vez que a inspiração profética e a escrita de cânticos de louvor andam de mãos dadas. O rei Davi, que a Bíblia chama de profeta (2 Crônicas 29:25-30), escreveu seus cânticos por um dom especial do Espírito Santo (2 Samuel 23:1,2; Atos 1:16). O Novo Testamento repetidas vezes se refere a Davi como um profeta quando cita seus cânticos (cf. Mateus 22:43-44; Marcos 12:36; Atos 1:16-17; 2:29-31; 4:24-25). A adoração dos músicos e cantores do templo é chamada de profecia na Bíblia (1 Crônicas 25:1-7). Essa designação, quando aplicada ao conteúdo do cântico, obviamente significa que o que eles cantavam era o produto da inspiração divina. Assim, os músicos e cantores do templo que estavam envolvidos com escrever cânticos para o culto fizeram isto debaixo da ação especial do Espírito. Hemã (que foi designado por Davi como um chefe da adoração do santuário) é chamado na Bíblia de vidente (1 Crônicas 25:5); um termo que é sinônimo de profeta.
Bushell escreve,
Títulos e funções proféticas são constantemente atribuídos ao chefe de música do templo e cantores. Asafe, por exemplo, um dos principais músicos de Davi (1 Crônicas 6:39; 15:17; 16:5 ff.; 2 Crônicas 5:12), encarregado por ele do serviço de cântico e por Salomão do serviço do templo, é também chamado um ‘vidente’ e colocado ao lado de Davi, tendo tanta autoridade quanto ele no que diz respeito à música no templo. (2 Crônicas 29:30). Nós também não devemos perder de vista o fato de que cerca de 12 salmos do Velho Testamento (50,78-83) são atribuídos a Asafe, confirmando assim seu papel como um escritor de cânticos de adoração inspirados. Jedutum, outro chefe de cântico do templo, é também chamado de ‘vidente’ (2 Crônicas 35:15; cf. 25:1; e os títulos dos salmos 39,62, e 77).[14]
A ato de escrever canções de adoração no Antigo Testamento estava tão intimamente ligado com a inspiração profética que 2 Reis 23:3 e 2 Crônicas 34:30 usam o termo Levita e “profeta” intercambiavelmente. A adoração de Jeová é tão importante que nada a não ser letras inspiradas pelo espírito são aceitáveis para louvor na igreja.
James A. Kennedy escreve,
O que é louvor? A palavra é derivada de ‘preço.’ Mas quem conhece o valor ou preço de Deus? Quem quiser preparar um manual completo e suficiente de louvor deve conhecer, por um lado, todas as excelências divinas, pois elas devem estar divididas em proporções e medidas suficientes; e, por outro lado, a gama inteira dos sentimentos humanos de devoção despertados pela contemplação das perfeições divinas. Mas um conhecimento tão vasto somente é possível a alguém que tenha recebido uma revelação divina. E para dar expressão adequada a esse conhecimento, inspiração divina é um pré-requisito indispensável. Deus julgou necessário que os seus louvores fossem assim preparados, pois ele de fato inspirou David, Asafe, e outros para compô-los. E ele nunca delega poder divino a menos que isto seja necessário. Deus manteve o manual de louvor sob seu controle estrito. Por que ele deveria ser indiferente quanto a este assunto agora? E porque deveríamos ser deixados sem um livro divino para esta dispensação? Nós não somos merecedores de um livro perfeito tal como a igreja do Velho Testamento?[15]
Tentou-se (por parte dos oponentes da salmodia exclusiva) refutar a afirmação de que a inspiração divina era uma exigência para a composição de canções de adoração a serem usadas pela igreja. Um autor argumenta que o que a Bíblia tão somente requer é precisão teológica na composição das músicas para o culto. O problema com seu argumento é que ele não oferece qualquer texto ou exemplo bíblico que o apóie – nem um. Outro autor cita vários exemplos de cânticos de adoração que não se encontram no livro dos Salmos como prova de que a inspiração divina não é necessária. O problema com o argumento desse indivíduo é que todos os cânticos que ele cita foram dados por inspiração divina (e.g. Êxodo 15:20-21; Juízes 5; Isaías 5:1; 26:1 ff.; Lucas 1:46 ff.; 1 Coríntios 14:26). Seu próprio argumento se refuta. Outro autor cita Isaías 38:20 (“O Senhor veio salvar-me; portanto nós cantaremos nossos cânticos com instrumentos de corda todos os dias de nossa lida, na Casa do Senhor.”) como prova de que hinos não-inspirados foram usados no culto público do Velho Testamento. [16] Este autor assume que como essas canções, escritas pelo rei Ezequias, nunca foram inscritas no cânon, então, elas não devem ter sido inspiradas. Esse argumento cai por terra quando consideramos que muitas profecias e escritos inspirados não foram incluídos em nossas bíblias. (Há profetas do Antigo Testamento dos quais nenhuma profecia sobreviveu até nós. Há a carta perdida de Paulo aos Coríntios bem como os volumes das afirmações, provérbios e ensinos que Cristo disse a seus discípulos, etc .). O fato de os hinos de Ezequias (exceto aquele registrado em Isaías 38) não terem sido registrado não nos diz nada sobre se eles foram ou não inspirados. De fato, a passagem em discussão, se indicar algo, indica que esses cânticos foram inspirados. Note a transição do singular (eu) para o plural (nós). O rei se identifica com o coro levítico do templo, que, como notado acima, funcionava como um grupo musical profético. Em todo caso, não há certamente qualquer evidência de que Ezequias compôs hinos não-inspirados. Aquela afirmação é assumida, não provada.
Há pastores “reformados” que alegam não significar nada para a igreja de hoje o fato de que todos os casos de canções de adoração na bíblia se tratarem de canções divinamente inspiradas. Eles raciocinam que uma vez a os hinos de adoração estão na Bíblia, que em si mesma é inspirada, eles necessariamente tem de ter sido inspirados. Esse raciocínio é falacioso por duas razões. Primeiro, a bíblia contêm muitos registros infalíveis de orações de pessoas não-inspiradas. A bíblia registra pessoas mentindo, pessoas com uma péssima teologia, e até mesmo Satanás mentindo para Jesus. Ninguém questionaria se as mentiras de Satanás foram divinamente inspiradas. Segundo, e até mais significante, é o fato de que o Espírito enfatiza que as canções de adoração não vieram de qualquer um que decidiu escrever uma canção, mas somente dos videntes e profetas. A única maneira de argumentar contra o uso de somente canções inspiradas na igreja é abandonando o princípio regulador do culto, seja explicitamente ou por meio de subterfúgios. Abandonar as leis bíblicas da adoração é sair do campo do Cristianismo Reformado (com respeito à adoração) e ir habitar no arraial episcopal, luterano e anabatista.
6. Os Salmos e o Culto Apostólico
A Bíblia ensina que os salmos eram cantados na adoração pública e privada na igreja apostólica. O cântico de canções divinamente inspiradas no culto é não só uma ordenança do culto do Velho Testamento, mas também uma ordenança da era da nova aliança.
Mateus 26:30
De fato, foi o próprio Cristo quem especificamente usou os Salmos para louvar quando introduziu a ordenança neo-testamentária da Ceia do Senhor. Tanto Mateus quando Marcos nos falam que imediatamente após a instituição da Ceia do Senhor Jesus e os apóstolos cantaram um hino. “E tendo eles cantado um hino [lit. ‘tendo eles hinodiado’], saíram para o Monte das Oliveiras.” (Mateus 26:30; cf. Marcos 14:24). Deve-se notar, como iremos demonstrar adiante, que a palavra hino, como usada em nossas bíblias, freqüentemente se refere a algo do Livro dos Salmos. Assim a maioria dos comentadores crê que a palavra hino aqui se refere ao Salmo ou Salmos do Hallel (i.e., os Salmos 113-118).
James Morison escreve,
Há margem para se dizer, como está na Genebra: Salmo; mas se pode também dizer muito literalmente: E tendo cantado um hino (humnesantes). A expressão não deixa claro se foi cantado um hino ou um salmo. E se a tradição, preservada entre os judeus, for de algum peso em tal assunto, o hino à conclusão da ceia abarcaria os Salmos CXV., CXVI., CXVIII., que constituem a segunda parte da Aleluia judia, ou Hallel, como eles a chamam. A outra parte do Hallel consistia dos Salmos CVIII., CXIV., que eram comumente cantados no início do banquete. [17]
Matthew Henry mostra (em seu comentário sobre a passagem) que se Jesus e os discípulos tivessem abandonado a prática judaica normal de cantar os Salmos depois da comida pascoal, provavelmente isto teria sido registrado nos Evangelhos, porque estaria sendo uma prática nova. Ele então escreve: O cântico dos salmos é uma ordenança do evangelho. Cristo remover o hino do fim da Páscoa para o fim da Ceia do Senhor é a notificação clara de que aquela ordenança deveria continuar em sua igreja, que, como não teve seu nascimento com a lei cerimonial, não deve morrer com ela. [18]
O Espírito Santo nos fala que o Senhor da Glória cantou Salmos na instituição da Ceia do Senhor.
Bushell escreve,
A salmodia e a Ceia do Senhor não são mais separáveis agora do que a salmodia e o ritual da páscoa o foram nos termos do Velho Testamento. Assim, não há nenhum exemplo na Escritura que mostre mais claramente do que este a significação permanente dos Salmos do Velho Testamento para a Igreja do Novo Testamento. [19]
A sua igreja segue o exemplo de Jesus Cristo e os Apóstolos pelo cânticos de Salmos divinamente inspirados da Escritura sempre que você participa do corpo e do sangue de nosso precioso Salvador?
É providencial que quando Jesus estava a ponto de iniciar a humilhação, tortura, agonia, abandono, e escuridão do Gólgota ele teve as palavras de vitória em seus lábios.
A pedra que os edificadores rejeitaram veio a ser a pedra angular. Isto foi feito pelo Senhor; Isto é maravilhoso aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. Salva-nos agora, te pedimos, ó Senhor; Ó Senhor, te pedimos, concede-nos prosperar. Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor. Bendito seja aquele vem da casa do Senhor. O Senhor é Deus, ele é a nossa luz; ata a vítima com cordas até às pontas do altar. Tu és o meu Deus, render-te-ei graças; tu és o meu Deus, exaltar-te-ei. Daí graças ao Senhor, porque ele é bom! Porque a sua benignidade dura para sempre! (Salmo 118:22-29).
Se o cabeça da Igreja escolheu os salmos divinamente inspirados para louvor, conforto, e edificação, a sua noiva não deveria fazer o mesmo? Quem somos nós para pormos de lado a ordenança do Filho de Deus?
Atos 16:25
Em Atos 16 Paulo e Silas são lançados “na prisão interior” (v.24) como resultado da influência da turba sobre o magistrado civil em Filipo. Lucas registra que “por volta da meia noite Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus” (v.25). O verbo usado nesta passagem (humneo) traduzido como “cantar hinos” (NKJV, NIV, RSV), “entoar louvores” (KJV), “entoar hinos” (ASV), “entoar hinos de louvor” (NASB) é a mesma palavra usada para descrever o salmo cantado em Mateus 26:30 e Marcos 14:24 (cf. também a seção a seguir sobre Efésios 5:19 e Colossenses 3:16). Dado o fato de que os judeus piedosos freqüentemente memorizavam muitos dos salmos para o uso devocional, muitos comentadores crêem o que Paulo e Silas estavam cantando vinha do livro dos Salmos.
Kistemaker escreve,
Paulo e Silas não somente se edificavam e fortaleciam, mas também deixavam um testemunho e fonte de encorajamento para os outros prisioneiros que escutavam duas orações e salmos (compare Efésios 5:19; Colossenses 3:16; Tiago 5:13).[20]
Lenski escreve,
Que hinos eles cantaram, é óbvio, não sabemos; mas os Salmos de Davi sempre foram queridos daqueles que sofrem, especialmente daqueles que sofrem injustamente.[21]
Hackett escreve,
...sua adoração consistia principalmente em ação de graças, cuja linguagem eles mais ou menos extraíram dos Salmos.[22]
Alexandre diz,
Orando, cantando (ou entoando) a Deus, parece expressar, não dois atos distintos, mas, um único ato lírico de adoração, ou orando cantando ou cantando, como uma ou mais passagens no Livro dos Salmos peculiarmente adaptadas e intencionadas ao uso de prisioneiros e outros debaixo de perseguição.[23]
Embora não tenhamos meios de saber de forma definitiva o que Paulo e Silas cantaram, dado o fato de que não há a menor evidência para a hinodia não-inspirada dentro do Novo Testamento, é bastante provável que eles estavam cantando Salmos. Adicionalmente, temos de ter em mente que a palavra hino como usada nas Escrituras freqüentemente se refere ao conteúdo do Livro dos Salmos, e em nenhuma ocasião se refere claramente a hinos de composição humana não-inspirados. “Em todo caso, não há certamente nenhuma evidência aqui sustentando a suposição de que material diferente dos Salmos Bíblicos estaria sendo usado – senão o contrário.”[24]
Efésios 5:19 e Colossenses 3:16
Duas passagens cruciais no debate sobre a salmodia exclusiva são Efésios 5:19 e Colossenses 3:16. Essas passagens são importantes porque são usadas como texto de prova tanto por aqueles que cantam exclusivamente os salmos quanto pelos que usam hinos não-inspirados na adoração. Paulo escreveu:
“E não vos embriagueis com vinho, no qual há contenda, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais” (Efésios 5:18-19).
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão ao Senhor em vossos corações” (Colossenses.3:16).
Antes de considerarmos a questão de como essas passagens estão relacionadas com a adoração pública, vamos considerar primeiro a questão “o que Paulo quis dizer com as expressões, Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais?” Esta questão é muito importante para os defensores da hinodia não-inspirada que (dizendo-se adeptos do Princípio Regulador) apontam para essas passagens como prova de que os hinos não-inspirados são permitidos por Deus na adoração pública. Ao examinar passagens como Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 não se deve cometer o erro comum de importar nosso significado ou uso moderno de uma palavra, tal como “hino”, ao que Paulo escreveu há mais de dois mil anos atrás. Quando uma pessoa hoje ouve a palavra “hino”, ela imediatamente pensa nos hinos extrabíblicos, os hinos não-inspirados encontrados nos bancos de muitas igrejas. A única forma de se determinar o real significado do que Paulo quis dizer com as palavras, “salmos, e hinos, e cânticos espirituais”, é determinar como esses termos foram usados pelos cristãos de língua grega no primeiro século.
Quando interpretamos a terminologia usada por Paulo em suas epístolas, há certas regras de interpretação que precisam ser observadas. Primeiro, o pensamento religioso e a cosmovisão do Apóstolo era essencialmente a mesma do Velho Testamento e de Jesus Cristo, não a do paganismo grego. Portanto, quando Paulo discute doutrina ou adoração, o primeiro lugar onde devemos buscar auxílio para o entendimento dos termos religiosos é no Velho Testamento. É comum encontramos expressões ou termos hebraicos expressos em grego coinê. Segundo, devemos ter em mente que as Igrejas que Paulo fundou na Ásia consistiam de judeus convertidos, gentios prosélitos do Velho Testamento (tementes a Deus) e gentios pagãos. Essas Igrejas possuíam a versão grega do Velho Testamento chamada de Septuaginta. Quando Paulo expressou idéias do Velho Testamento, para uma audiência de gentios de fala grega, ele usou a terminologia religiosa usada pela Septuaginta. Se os termos hinos (humnois) e cânticos espirituais (odais pneumatikois), tivessem sido definidos dentro do Novo Testamento, não haveria necessidade de procurarmos significados para eles na Septuaginta. Mas, uma vez que esses termos são raramente usados no Novo Testamento e não podem ser definidos dentro do contexto imediato à parte do conhecimento do Velho Testamento, seria exegeticamente irresponsável ignorar como esses termos eram usados na versão Septuaginta do Velho Testamento.
Quando examinamos a Septuaginta, verificamos que os termos usados por Paulo: salmos (psalmos), hinos (humnos) e cânticos (odee), claramente se referem ao livro dos Salmos do Antigo Testamento e não a antigos e modernos hinos ou cânticos não-inspirados.
Bushell escreve:
Psalmos ocorre 87 vezes na Septuaginta, desses, 78 aparecem nos próprios salmos, sendo que 67 são títulos de salmos. Da mesma forma, o título da versão grega do saltério. Humnos ocorre 17 vezes na Septuaginta, 13 das quais estão nos Salmos, sendo seis delas nos títulos. Em 1 Samuel , 1 & 2 Crônicas e Neemias há cerca de 16 exemplos nos quais os Salmos são chamados “hinos” (humnoi) ou “cânticos” (odai) e o cântico deles é chamado “cantar louvor” (humneo, humnodeo, humnesis). Odee ocorre umas 80 vezes na Septuaginta, 45 das quais nos Salmos, 36 nos títulos dos Salmos.[25]
Em doze títulos nós encontramos tanto salmo quanto cântico; e em dois outros salmo e hino. “O salmo 76 é designado como ‘salmo, hino e cântico’. E no final dos primeiros setenta e dois salmos, nós lemos: ‘Findam-se os hinos de Davi, filho de Jessé” (Sl.72:20). Em outras palavras, não há razão alguma para se pensar que o Apóstolo estava se referindo a algo diferente dos salmos quando disse ‘salmos,’ ou quando disse ‘hinos’ e ‘cânticos,’ pois todos os três termos, no próprio livro dos Salmos, se referem a salmos.”[26] Ignorar como a audiência de Paulo estes termos são definidos pela Bíblia e como a audiência de Paulo os entenderia; e aplicar-lhes significados modernos, não-bíblicos, é uma péssima prática exegética.
Uma das objeções mais comuns contra a idéia de que em Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 Paulo está falando do livro dos Salmos é que seria absurdo ele dizer, “cantando salmos, salmos e salmos”. Essa objeção falha em considerar o fato de que um método comum de se expressar na antiga literatura judaica era o uso da forma triádica de expressão para designar uma idéia, ação ou objeto. A Bíblia contém muitos exemplos da forma triádica de expressão. Por exemplo: Êxodo 34:7 – “iniqüidade, transgressão e o pecado”; Deuteronômio 5:31 e 6:1 – “mandamentos, estatutos e juízos”; Mateus 22:37 – “de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento” (cf. Marcos 12:30; Lucas 10:27); Atos 2:22 – “milagres, prodígios e sinais”; Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 – “salmos, hinos e cânticos espirituais”. “A distinção triádica usada por Paulo, seria prontamente entendida por aqueles que já estavam familiarizados com seus Saltérios Hebraicos do Velho Testamento e a Septuaginta grega, onde os títulos dos salmos são distinguidos como salmos, hinos e cânticos. Esta interpretação faz justiça à analogia da Escrituras, isto é, a Escritura é seu melhor intérprete”.[27]
A interpretação de que “salmos, hinos e cânticos espirituais” se referem ao livro inspirado de Salmos, também recebe apoio da gramática e do contexto imediato dessas passagens. Em Colossenses 3:16, somos exortados: “Que a palavra de Cristo habite em vós ricamente”. Nesta passagem a palavra de Cristo é claramente sinônimo da Palavra de Deus.
Em 1 Pe 1:11 é dito que “o espírito de Cristo” estava nos profetas do Velho Testamento e através deles testificava de antemão dos sofrimentos de Cristo e da glória que os seguiriam. Se, como é dito, o Espírito de Cristo testificou dessas coisas através dos profetas, então Cristo foi o verdadeiro autor das Escrituras. Proeminente entre estas profecias referentes a Cristo está o livro de Salmos; e portanto Cristo é o autor dos Salmos.[28]
Depois de Paulo exortar a Igreja de Colossos a que a palavra de Cristo habite ricamente neles, imediatamente lhes aponta o livro de Salmos; o livro que compreende “de maneira mais sucinta e bela tudo que se contém em toda a Bíblia;”[29] um livro muito superior a qualquer livro devocional humano, sobre o qual Calvino declarou ser, “uma anatomia de todas as partes da alma;”[30] um livro que é “um compêndio de toda divindade.”[31] Você acha que as Escrituras, a palavra de Cristo, está habitando em nós quando cantamos hinos de composições não-inspiradas em nossos cultos? Não, não está! Se temos de cantar e meditar na palavra de Cristo, temos de cantar as palavras que Cristo escreveu pelo Seu Espírito – o livro de Salmos.
A gramática também apóia a afirmação de que Paulo estava falando do livro de Salmos. Na Bíblia em inglês, o adjetivo “espiritual” aplica-se somente à palavra cânticos (cânticos espirituais). Na língua grega, no entanto, quando um adjetivo imediatamente segue dois outros substantivos, isto se aplica a todos os outros substantivos precedentes.
John Murray escreve,
“Porque a palavra pneumatikos [espiritual][32] qualifica odais e não psalmoi e hymnois? A resposta mais razoável a esta questão é que a palavra pneumatikais qualifica todos os três dativos, e que o seu gênero (feminino), é devido a atração ao gênero do substantivo que está mais próximo. Uma outra possibilidade distinta, feita particularmente plausível pela omissão da copulativa em Colossenses 3:16, é que ‘cânticos espirituais’, são gêneros e “salmos” e “hinos” são espécies. Esta, por exemplo, é a visão de Meyer. Em qualquer dessas afirmações, salmos, hinos e cânticos, são todos “Espirituais” e portanto, todos inspirados pelo Espírito Santo. A relação disso com o assunto em questão é perfeitamente visível. Hinos não-inspirados estão automaticamente excluídos.”[33]
Se alguém quiser argumentar que espiritual não se aplica a salmos e hinos, então precisa responder duas questões pertinentes. Primeira, porque Paulo iria insistir na inspiração divina para os cânticos, e, contudo, permitir hinos não-inspirados? Podemos assegurar tranqüilamente que Paulo não era irracional. Segunda, dado o fato de que salmos se referem a cânticos divinamente inspirados, não seria bíblico deixar de aplicar a “espirituais” o mesmo sentido. Além do que, uma vez que já demonstramos que “salmos, hinos e cânticos espirituais” se referem ao livro divinamente inspirado dos Salmos, é apenas natural aplicar espiritual a todos os três termos. Como o livro de Salmos é composto de salmos, hinos e cânticos espirituais (isto é, divinamente inspirados), obedecemos a Deus somente quando O adoramos utilizando o saltério bíblico. Hinos não-inspirados, não satisfazem o critério da adoração autorizada.
Uma outra questão que precisa ser considerada, tendo em vista essas passagens, é: “Essas passagens se referem ao culto, ou aos ajuntamentos informais dos crentes? Uma vez que Paulo está discutindo a mútua edificação dos crentes através do louvor inspirado, seria inconsistente de sua parte, permitir cânticos não inspirados no culto ou em qualquer outro ajuntamento. “O que é próprio ou impróprio para ser cantado em um caso, deve ser próprio ou impróprio para ser cantado em outro. Adoração ainda é adoração, sejam quais forem as circunstâncias e o número de pessoas envolvidas.”[34] “Se salmos, hinos e cânticos espirituais são os limites do material de cânticos para o louvor de Deus, nos atos menos formais de adoração, quanto mais eles serão limites no ato mais formal de adoração.”[35]
Tiago 5:13
Tiago 5:13 diz “Alguém dentre vós está sofrendo? Faça oração. Alguém está alegre? Cante salmos.” A palavra traduzida por cante salmos na KJV pode ser traduzida sem problemas por cante louvores. A expressão cante louvores (psalleto) não identifica em si o conteúdo do que é usado para louvar. Portanto, se deve deixar a Escritura interpretar a Escritura para se determinar seu significado. Em efésios 5:19 e Colossenses 3:16 a forma substantiva dessa palavra (psalmois) se refere aos Salmos do Velho Testamento. Em 1 Coríntios 14, se refere aos Salmos do Velho Testamento ou a cânticos divinamente inspirados não preservados no cânon do Novo Testamento. Em Romanos 15:9, ela é usada em uma citação da versão da Septuaginta do Salmo 18:49. Esta citação faz alusão ao Messias louvando a Deus entre as nações. Quando Cristo louvou a Jeová durante seu ministério terreno ele usou um Salmo do Velho Testamento (cf. Mateus 26:30).
Não há a mínima evidência bíblica de que Tiago 5:13 se refere a louvores não-inspirados. Todas as evidências bíblicas apontam na direção oposta: Cânticos de louvor inspirados. Portanto, esta passagem não pode ser usada como um texto-prova para material não-inspirado na adoração.
1 Coríntios 14:15, 26
Em 1 Coríntios 14 Paulo trata com os dons revelacionais e a necessidade de inteligibilidade na assembléia para a edificação do corpo. Ele também trata da estreita relação disto com a ordem apropriada na adoração pública. Nesse contexto Paulo fala do louvor como praticado em Corinto:
15 Cantarei com o espírito, e também cantarei com o entendimento.
26 Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, outro língua, outro revelação, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para a edificação.
Embora haja escritores que acreditam que essa passagem se refere a um Salmo do Antigo Testamento, a maioria dos intérpretes crê que Paulo está se referindo a um tipo de hinodia carismática. Isto é, havia crentes em Corinto que receberam cânticos de louvor por inspiração direta do Espírito Santo. Seja qual for o posicionamento que se assuma diante dessa passagem, uma coisa é certa: a inspiração divina era um pré-requisito para escrever cânticos de adoração em Corinto. Então, essas passagens não podem ser usadas para apoiar a hinodia não-inspirada praticada hoje. E uma vez que pela providência de Deus nenhuma destas canções inspiradas foi fixada na escritura, seu uso foi limitado ao primeiro século antes do fechamento do cânon.
Porém, essas passagens são freqüentemente usadas para levantar uma questão com respeito à suficiência do livro dos Salmos para o louvor na era da nova aliança. Se o livro dos Salmos é suficiente para o louvor na igreja da nova aliança, então porque outros cânticos de louvor inspirados foram usados? Essas passagens não contestam a salmodia exclusiva por duas razões. Primeiro, essas passagens não dizem respeito ao cântico congregacional, mas ao de um único indivíduo que fala em línguas ou profecias enquanto canta. E considerando que os dons revelacionais cessaram, essa prática não é mais uma parte da adoração congregacional. Segundo, as igrejas no período apostólico tiveram que funcionar sem um Novo Testamento completo para interpretar o Velho Testamento, por isso a revelação direta foi necessária.
Bushell escreve,
Os Salmos do Velho Testamento são em certo sentido insuficientes para as necessidades da adoração da Igreja nesta dispensação, mas somente no sentido em que eles exigem a interpretação do cânon do Novo Testamento completo para serem corretamente entendidos, usados, e cantados. Deus pode muito bem ter dado aos Coríntios tais canções carismáticas para ‘completar a medida’ até que essa necessidade fosse suprida. Na realidade, os dons carismáticos sempre foram para isto. Por isso a existência do cântico carismático nos primeiros dias da Igreja não pode servir como justificativa para compor novos cânticos hoje; da mesma forma que o exercício de dons proféticos seria visto como sugerindo a necessidade de novas profecias em nossos dias.[36]
Além disso, ainda que alguém aceite a interpretação de que 1 Coríntios 14:15, 26 prova que a igreja hoje pode cantar outras canções além do livro dos Salmos, essas passagens permitiriam somente as poucas canções inspiradas contidas na Escritura que não estão no livro dos Salmos e nenhuma outra. Quando os dons revelacionais cessaram com a morte dos apóstolos, cessou também a possibilidade de hinodia divinamente inspirada.
Os Hinos do Apocalipse
O livro de Apocalipse contém numerosos exemplos de cânticos de adoração (e.g., 4:8, 11; 5:9-13; 7:10-12; 11:17-18; 14:2-3; 15:3-4; 19:1, 2, 5, 8). A questão que precisa ser respondida sobre esses cânticos é: “Essas alusões à adoração nos céus nos ensinam alguma coisa sobre como devemos cantar no culto público e como devemos conduzir a adoração pública em nossos dias?” Não, claramente não.
O livro de Apocalipse é literatura apocalíptica, e conseqüentemente não foi feita para ser um guia literal ou padrão para a adoração pública. Se fosse assim, teríamos de ser todos romanistas, pois o Apocalipse descreve um altar (6:9; 8:3, 5; 9:13; 11:1; 14:18; 16:7); incenso (8:4); trombetas (1:10; 4:1; 8:13; 9:14); harpas (5:8; 14:2; 15:2) e ainda a arca da aliança (11:19). Também teríamos de ser místicos, porque no Apocalipse cada criatura, incluindo os pássaros, insetos, águas-vivas, e minhocas, etc., louva a Deus (5:13). A literatura apocalíptica usa linguagem figurada e imaginação dramática para ensinar lições espirituais. “O mais importante ao assistir um drama não é a representação em si, mas a mensagem que ele ajuda a retratar.” [37]
O livro de Apocalipse está cheio até a borda com os ritos obscuros, com os tronos e os templos, e com um número inteiro de atos litúrgicos que não podem ser relacionados às nossas circunstâncias de adoração. A tentativa de extrair elementos de culto dessa literatura apocalíptica só pode conduzir ao caos litúrgico.[38]
Além do mais, ainda que alguém queira tomar as cenas apocalípticas de adoração nos céus como normativa para a igreja hoje, elas ainda não autorizariam o uso de hinos não-inspirados, pois os cânticos entoados pelos anjos, os quatro seres viventes, e os santos purificados “são por natureza composições inspiradas, procedendo como eles do próprio céu e do mais alto trono da presença de Deus”[39] Mas (como notado) as cenas da adoração apocalíptica com seus altares, incenso, harpas, e outras imagens cerimoniais claramente não podem se aplicar à igreja da nova aliança sem que a Escritura contradiga a si mesma, o que é impossível.
Alguns escritores apelam ao novo cântico mencionado em Apocalipse 14:3 como autorização da escritura para a composição de novos cânticos hoje. Um estudo deste termo na Escritura, entretanto, provará que a expressão bíblica novo cântico nada tem a ver com novas composições não-inspiradas depois que foi fechado o cânon.
O termo novo cântico no Velho Testamento pode referir-se a um cântico que tenha as novas misericórdias ou novas maravilhas do poder de Deus como tema (e.g., Salmo 40:3; 98:1). Mas tenha em mente que essa expressão é usada somente para descrever cânticos escritos sob inspiração divina. Este fato limita novo cântico aos cânticos inspirados da Bíblia. Uma vez que o termo novo cântico é usado somente para descrever cânticos escritos por pessoas que tinham o dom profético, e não se aplicava a qualquer israelita, certamente ele não se aplica a Isaac Watts, Charles Wesley, ou qualquer outro escritor de hinos não-inspirado.
Outro significado de novo cântico não se refere a um cântico descrevendo novas misericórdias, mas a cantar um cântico de forma nova; isto é, com devoção, coração rejubilante; com um novo impulso de gratidão. A canção pode de fato ser bastante velha, mas como aplicamos o cântico inspirado experimentalmente a nossa própria situação, nós o cantamos novamente. Esse é provavelmente o significado de cantar um cântico novo nos Salmos, que usam o termo, ainda que não se refiram a novas misericórdias. Por exemplo, o Salmo 33 usa o termo cantar um cântico novo, e então fala de doutrinar bastante conhecidas: criação, providência, e esperança e confiança em Deus. E, há um sentido no qual todos os cânticos do Velho Testamento são novos cânticos para o cristão da nova aliança: nós cantamos os Salmos com um entendimento e perspectiva desconhecidas dos crentes do Velho Testamento. Por conta da expressão do amor de Deus em Cristo, Jesus e o Apóstolo João puderam até se referir a um bastante conhecido mandamento do Velho Testamento (Levítico 19:18) como um “novo mandamento” (João 13:34; 1João 2:7; 2João 5). [40]
E Quanto aos Fragmentos de Hino no Novo Testamento?
Um método comum de argumentar contra a salmodia exclusiva é apelar para a existência de fragmentos de hinos dentro do Novo Testamento. A existência desses fragmentos de hinos, nos dizem, ensina que a igreja apostólica se dedicava a escrever hinos, e assim nós também devemos compor nosso próprios hinos. O problema com esse argumento é que ele não é baseado em sólida evidência escriturística, mas é basicamente especulação de teólogos e comentadores modernistas.
Delling, o estudioso do grego, escreve:
Foram feitas tentativas no sentido de identificar vários hinos ou fragmentos de hinos cristãos primitivos no N.T. Mas tais identificações devem permanecer como hipotéticas, particularmente porque no N.T. não há a tentativa – e isto logo se percebe – de uso do estilo grego de hinos métricos. As partes no N.T. que tomam a forma de louvor são em geral tão pouco controladas por quaisquer leis discerníveis que o julgamento sobre seu caráter enquanto hinos tem validade bastante limitada.[41]
Um estudo da literatura que fala dos assim chamados fragmentos de hinos revela que a metodologia para determinar o que é e o que não é um fragmento de hino é totalmente subjetiva e incerta. Especulações subjetivas não servem de fundamento bíblico para a prática da igreja, especialmente à luz da evidência bíblica em favor da salmodia exclusiva.
Além do mais, se essa hinologia floresceu na igreja apostólica, “é realmente inacreditável que nem sequer um destes hinos tenha sobrevivido intacto fora dos escritos do Novo Testamento. Nem há um único vestígio de uma evidência histórica não-questionável sugerindo o uso de tais hinos na Igreja no segundo século. Da mesma maneira que não surpreende que nem um único deste único destes ‘hinos’ seja identificado como tal nos próprios escritos do Novo Testamento.” [42]
Uma vez que a Escritura nunca identifica as passagens poéticas ou rítmicas como fragmentos de cânticos ou hinos, e uma vez que não há vestígio de evidência de que esses fragmentos eram usados como cânticos de adoração na igreja apostólica, ou mesmo no segundo século, podemos dizer que usar esse argumento dos fragmentos de hinos contra a salmodia exclusiva é dar murro no vento.
7. Conclusão
Desse modo, examinamos o fundamento da adoração bíblica (o princípio regulador) e o testemunho da Escritura com respeito ao tema dos cânticos de adoração. O princípio regulador do culto, que é claramente ensinado na Escritura e claramente estabelecido em todos os credos Reformados e Presbiterianos, deixa o ônus da prova para o uso de hinos não-inspirados no culto sobre os crentes que advogam tal uso. Para o crente reformado, não é suficiente dizer que os hinos não-inspirados não são proibidos; alguém deve dar uma autorização bíblica da Escritura para seu uso.
Quando examinamos o testemunho da Escritura acerca dos cânticos do culto, percebemos que o cântico dos Salmos de inspiração divina é ordenado tanto no Antigo quanto no Novo testamento. Há exemplos históricos tanto no Antigo quando no Novo testamento do uso dos Salmos no culto. Há também abundante evidência de que a inspiração divina foi um pré-requisito para escrever cânticos para o culto da igreja. Entretanto, quando procuramos por uma autorização na Escritura para o uso de cânticos não-inspirados, não encontramos um mandamento, um exemplo histórico, ou uma autorização de qualquer espécie. Aqueles que procuram justificar o uso de cânticos não-inspirados no culto por Efésios 5:19 ou Colossenses 3:16, ou por meio do argumento dos 'fragmentos de hinos', estão deixando sua pressuposições e afeição aos hinos não-inspirados influenciar sua exegese. Simplesmente saiba: é impossível encontrar uma autorização na Escritura para o cântico de hinos não-inspirados no culto. O debate sobre a Salmodia Exclusiva, em sua essência, só irá adiante quando aqueles que se dizem reformados estiverem realmente dispostos a se submeterem ao princípio regulador do culto.
Capítulo 3
Objeções a Salmodia Exclusiva:
1. O Saltério é um Manual de Louvor Suficiente?
Um dos argumentos mais comuns usados contra a salmodia exclusiva é “que o saltério é doutrinaria e espiritualmente insuficiente para satisfazer as necessidades do culto da igreja do Novo Testamento.”[43] Argumenta-se que a igreja precisa de hinos de adoração escritos depois que a obra redentiva de Cristo sobre a terra foi completada para que se olhe para o que Cristo realizou, e se reflita sobre isto. Este argumento seria válido se os Salmos não tratassem e refletissem sobre a obra de Cristo. Porém, quando examinamos o saltério, encontramos mais informação e doutrina a respeito da pessoa e obra de Cristo do que em qualquer livro de cânticos inventado pelos homens. A idéia de que o livro dos Salmos não é adequado como um manual de louvor para a igreja da nova aliança é uma suposição que ignora completamente o rico conteúdo dos Salmos (esse fato será considerado mais adiante). E uma vez que entendemos que os salmos são suficientes e adequados como um manual de louvor para a igreja da nova aliança, qualquer idéia de que necessitamos de um novo livro de louvor não-inspirado, ou adições que tornem o saltério adequado, são imediatamente descartadas. Quando nos aproximamos de um Deus que é santo, santo, santo, infinito em perfeições, não deveríamos usar tão-somente os melhores hinos de adoração disponíveis? E já que os Salmos são escritos pelo Espírito de Deus e são infalíveis, teologicamente perfeitos, e totalmente suficientes, porque alguém haveria de querer substituí-los ou complementá-los com falíveis composições não-inspiradas?
Bushell escreve,
Aquele que prefere um hino humanamente composto a um escrito pelo Espírito de Deus, quando é este o que se ajusta totalmente a Seus propósitos, está, para dizer o mínimo, carente de discernimento espiritual. E aquele que misturar em um só livro os cânticos inspirados de Deus com os cânticos não-inspirados de homens pecadores (como se estes pudessem ser de algum modo comparáveis àqueles em majestade, santidade, e autoridade) é, quer ele saiba disso ou não, culpado de sacrilégio, de trazer as coisas de Deus ao nível dos homens pecadores. A única maneira de evitar essa acusação é alegar que os Salmos são, em um sentido muito real, antiquados, de tal forma que até mesmo homens débeis e pecadores podem aperfeiçoá-los.[44]
O saltério revela um tão claro retrato de Cristo e de Sua obra que qualquer sugestão de que eles são inadequados em sua exposição da obra de Cristo demonstra a carência de entendimento quanto a seu conteúdo. Os salmos ensinam a divindade de Cristo (Salmos 45:6; 110:1), Sua filiação eterna (Salmo 2:7), Sua encarnação (Salmos 8:5; 40:7-9), Seu ofício de mediador como Profeta (Salmo 40:9-10), Sacerdote (Salmo 110:4), e Rei (Salmos 2:7-12; 22:28; 45:6; 72; 110:1). Os Salmos nos dão detalhes inspirados pelo Espírito a respeito da traição de Cristo (Salmo 41:9), Sua agonia no jardim (Salmo 22:2); Seu teste (Salmo 35:11), Sua rejeição (Salmos 22:6; 118:22), Sua crucificação (Salmo 22; 69), Seu sepultamento e ressurreição (Salmo 16:9-11), Sua ascensão (Salmos 24:7-10; 47:5; 68:18), e Sua segunda vinda e julgamento (Salmos 50:3-4; 98:6-9). Eles também nos falam da vitória do reino de Cristo (Salmos 2:6-12; 45:6 ff.). Alguns salmos revelam informações tão vitais sobre a pessoa e obra de Cristo que eles são chamados de salmos messiânicos (Salmos 2, 8, 16, 22, 40, 45, 69, 72, 110).[45]
Os Salmos são uma casa da moeda de doutrina bíblica. Pode-se aprender mais sobre Deus do saltério do que de cem hinários. Os Salmos nos falam sobre: A auto-existência de Deus (Salmos 94:8; cf. 33:11; 115:3), Sua perfeição absoluta (Salmo 145:3), Sua imutabilidade (Salmo 102:26-28), Sua eternidade (Salmos 90:3; 102:12), Sua onipresença (Salmo 139:7-10), Sua onisciência (Salmos 94:9; cf. 1:6; 37:18; 119:168; 81:14,15; 139:1-4), Sua onipotência (Salmos 115:3), Sua veracidade (Salmos 25:10; 31:6), Sua soberania (Salmos 22:28; 47:2, 3, 7, 8; 50:10-12; 95:3-5; 115:3; 135:5-6; 145:11-73), Sua sabedoria (Salmos 19:1-7; 33:10, 11; 104:1-34), Sua bondade (Salmos 36:6, 9; 104:21; 145:9, 15, 16), Sua clemência (Salmos 136; 86:5; 145:9), Sua natureza compassiva (Salmo 86:15), Sua santidade (Salmos 22:3; 33:21; 51:11; 71:22; 78:41; 89:18-19; 98:1; 99:3, 5, 9,; 103:1; 105:3; 106:47; 111:9, etc.), Sua retidão (Salmo 119:137, etc.), Sua justiça retributiva (Salmo 58:11). Os Salmos ensinam que Deus é o Criador (Salmos 89:47; 90:2; 96:5; 102:25; 104), e o Salvador (Salmos 19:14; 28:35; 106:21). Eles ensinam a Sua providência (Salmos 22:28; 104:14; 104), o Seu ódio pelo pecado (Salmos 5:4; 11:5), o Seu castigo ao mau (Salmos 7:12, 13; 11:6), e o Seu castigo sobre o Seu povo (Salmos 6:1; 94:12; 118:18, etc.).
É surpreendente o equilíbrio e plenitude teológica dos Salmos. Do Saltério aprendemos sobre a revelação geral e especial (Salmos 19:1-2; 103:7), pecado original (Salmo 51:5), depravação total e a universalidade de pecado (Salmos 14:1-3; 53:1-3), justificação por fé e o perdão gratuito dos pecados (Salmos 32:1 ff.; 51:1-5; 103:1-13; 106; 130:4; 143:2), arrependimento (Salmos 51: 1-4; 39), vitória do reino (Salmos 2, 45, 46:7-11, 47, 72), e o julgamento do mau e a bênção do íntegro (Salmos 9:16; 37:28; 59:13; 73:26-27). O Saltério nos informa que o evangelho alcançará todas as nações (Salmos 67:1-7; 72:6-17; 87:4-6; 98:1-9; 106:5; 148:11).
Bushell escreve,
O Saltério reconhece a realidade de santificação, por um lado, mas nunca perde de vista, por outro, a depravação inerente do homem. Ao lado de afirmações enfáticas de integridade pessoal (e.g., 7:3 ff, 17:1 ff, 18:20 ff; 26:1 ff; cf. Atos 20:26 ff; 23:1; etc.) se acha ‘o total reconhecimento da pecaminosidade pessoal (51:5; 69:5), da inabilidade do homem em justificar-se perante Deus (130:3 ff; 143:2), de sua necessidade de perdão, limpeza e renovação (32:1; 65:3), de sua dependência de Deus para preservação do pecado (19:12 ff.), da barreira que o pecado ergue entre ele e Deus (66:18; 50:16); como também as expressões mais fortes de absoluta auto-entrega e dependência de Deus e inteira confiança nEle.’[46]
Uma objeção comum à suficiência do Saltério é a de que a igreja da nova aliança não deveria confiar somente em um livro de louvor que usa tipos, símbolos, e profecias para descrever a obra de Cristo. Quando consideramos que nós agora temos o cânon completo no qual os tipos, símbolos, e profecias são interpretadas e totalmente entendidas, essa objeção é de nenhum valor. É absurdo sugerir que justamente quando o Saltério pode ser completamente entendido, e usado para a edificação do povo de Deus de uma forma como nunca foi antes, ele não seja suficiente. Os Salmos são muito mais úteis no Novo Testamento do que jamais foram.
Nossa crença na suficiência do saltério para o culto do Novo Testamento é em grande parte conseqüência de nosso entendimento da conexão orgânica que existe entre os dois Testamentos. Eles anunciam o mesmo Evangelho, exaltam o mesmo Cristo, e confirmam a mesma aliança (Gálatas 3:6-18; Romanos 4:9-25), e é uma falta de discernimento inconcebível não perceber que eles ordenam o uso de um mesmo saltério no culto.[47]
Outra objeção à suficiência do Saltério é a idéia de que os Salmos imprecatórios são inapropriados para adoração na nova dispensação. Os salmos imprecatórios são cânticos nos quais o salmista clama a Deus (geralmente de uma maneira forte) para derramar Sua ira sobre seus (os do salmista) inimigos e/ou inimigos do povo da aliança.[48] Issac Watts (que destroçou a salmodia exclusiva entre os crentes reformados mais do que qualquer outra pessoa) escreveu,
Enquanto estivermos ardendo em amor pelas meditações da bondade de Deus e a multidão das Suas tenras misericórdias, as maldições terríveis que se encontram em alguns versos não são próprias para os nossos lábios.[49]
A idéia de que os salmos imprecatórios são inapropriados para o cânticos dos cristãos é totalmente anti-bíblica por vários motivos. Primeiro, os salmos foram escritos pelo Espírito Santo; portanto, a idéia de que essas petições imprecatórias são bárbaras ou antiéticas é totalmente perversa. Segundo, alguém só pode considerar os salmos imprecatórios como impróprios para os crentes da nova aliança sustentando uma hermenêutica dispensacionalista ou modernista. Essas duas perspectivas teológicas são anti-bíblicas e destoam da fé Reformada.[50] Terceiro, os salmos imprecatórios são freqüentemente citados no Novo Testamento (e.g., Salmos 69 e 109). “O Salmo 69, que comporta mais do caráter imprecatório do que qualquer outro salmo, exceto o 109, é citado em cinco lugares diferentes e referido em vários outros. Nem um outro salmo é citado com maior freqüência no Novo Testamento do que os salmos imprecatórios, com exceção dos salmos messiânicos.”[51] Jesus até mesmo aplica o salmo 69 como uma profecia sobre Sua própria situação (cf. João 15:25).
Muitos crentes têm argumentado que os salmos imprecatórios são uma razão excelente para que a igreja tenha hinos amáveis, mais suaves, para complementar o Saltério. Esse tipo de pensamento não é bíblico. Ele ignora tanto a Escritura quando a história. Deve-se sempre ter em mente que o Saltério foi escrito e organizado pelo Espírito Santo. Portanto, ele contém uma ênfase apropriada e equilibrada nos atributos de Deus e Seu procedimento com o homem que é exatamente conforme Deus deseja. Os atributos de Deus, como por exemplo a Sua ira, não são ignorados ou subestimados, mas ganham a ênfase apropriada. O ódio de Deus para com os perversos e Seus terríveis juízos contra eles são uma parte importante do saltério. “Deus é tanto soberano quanto justo; ele possui o direito inquestionável de destruir o mal em seu universo; se Deus achar por bem planejar e efetuar esta destruição, então também é correto para os santos orar por isto.”[52]
Quem quer que esteja familiarizado com a mudança da salmodia exclusiva para as imitações dos salmos e hinos não-inspirados nas igrejas presbiterianas e reformados sabe como um fato da história que o equilíbrio próprio do saltério foi imediatamente perdido quando composições de feitura humana foram permitidas. Os escritores de hinos evitam o aspecto judicial do caráter de Deus em favor do amor e da felicidade divina, etc. A história da hinologia humana é uma história de decadência. É um tanto óbvio que homens pecadores negligenciem doutrinas que não são populares em seus hinos. Mesmo se um hino humanamente produzido não contiver doutrinas não-ortodoxas, ainda pode ser monstruosamente desequilibrado em sua teologia devido à ênfase em doutrinas populares enquanto ignora os ensinos menos populares. O saltério centrado em Deus foi paulatinamente substituído pela adoração centrada no homem.
Historicamente, as igrejas só usaram os Salmos e os hinos juntos, em quantidade equivalente, por uma geração. Além dessa primeira geração, predominam os hinos. Por que isto é assim? Não temos certeza, mas, imaginamos que os hinos exigem menos do adorador do que os Salmos o fazem. Quando os cantamos, os salmos nos ensinam de um modo como os hinos não o fazem. E como os hinos de um período se ajustam melhor aos preconceitos e preferências daquele período do que os salmos, os santos imperfeitos resistem às duras lições dos salmos e abraçam o mais fácil, o freqüentemente incompleto retrato de Deus e da vida cristã que se encontra em seus hinos. [53]
Em outras palavras, os imperfeitos hinos produzidos pelos homens eventualmente sobrepõe os Salmos perfeitos, balanceados, e soprados por Deus. Por muito tempo, esse tem sido um fato trágico da história.
Como o século XX a se fechar, a adoração se degenerou a ponto de, em muitas denominações Presbiterianas e Reformadas, as igrejas estarem imitando as danças, as palmas para Jesus e os urros santos inventados pelos heréticos arminianos e carismáticos. Tal adoração é freqüentemente chamada culto de celebração. O abandono do princípio regulador do culto e do saltério nos conduziu a um ponto em que o que se vê em toda parte é a palavra icabode escrita. A sóbria majestade do saltério foi substituída por sentimentalismo de acampamento de mocidade. Muitos antigos crentes mais conservadores estão tentando nadar contra a maré dessa nova forma de culto. Eles reconhecem que essa adoração é vento; que é ração teológica. Eles querem voltar a Hat, Toplady, ou Newton. Eles querem se libertar dos violões e tambores e voltar ao piano e ao órgão. E enquanto estão pouco dispostos a obedecer ao princípio regulador do culto e retornar à salmodia exclusiva, vão sendo pisoteados pelas novas formas de culto que apelam à carne.
Está na hora das igrejas presbiterianas e reformadas se submeterem ao princípio regulador do culto e reconhecerem a suficiência, superioridade, equilíbrio, e perfeição teológica do Saltério. “O saltério é inspirado por Deus; é uma coleção que não se iguala, nem muito menos é ultrapassada, em qualidade ou reverência pelas produções similares de homens não-inspirados; é um manual de louvor suficiente; ele não requer nem suplementação nem simplificação.”[54] Deus escreveu os salmos, os colocou no meio de nossas Bíblias, e nos ordenou cantá-los. Pôr de lado o livro de cânticos que Deus nos deu, ou simplificá-lo e misturá-lo com composições humanas (e.g., o Cantor Cristão), é tolo, arrogante, e pecaminoso.
2. Outras objeções
Cristãos que dizem praticar o princípio regulador, e ainda cantam hinos não-inspirados no culto, devem (a menos que estejam dispostos a admitir que abandonaram o princípio regulador ou que sua prática de culto é não-autorizada e pecaminosa) justificar por meio da Bíblia o uso de hinos não-inspirados. E como não há evidência para o uso de hinos não-inspirados na Bíblia, a saída que muitos desses pastores encontra é driblar o princípio regulador. E fazem isto de várias maneiras.[55]
I. O Argumento de que Não é um Elemento de Culto Distinto
O mais comum ataque contra a Salmodia exclusiva hoje é baseado na idéia de que o cântico não é um elemento de culto distinto, mas é meramente uma circunstância de culto. Greg Bahnsen escreve,
O cântico é um ‘elemento’ distinto de culto ou uma ‘circunstância’ de culto? Se for uma circunstância, não necessita de uma autorização bíblica, de acordo com o princípio regulador. Eu tenho argumentado que o cântico é mais um meio para (uma circunstância para) oração, louvar, exortação, ou ensino – do que um elemento de culto em si. [56]
O que Bahnsen está dizendo é que a ordem geral para louvar a Deus é um elemento de culto, mas a forma como essa ordem é cumprida é uma mera circunstâncias de culto. Assim, alguém pode louvar a Deus por meio do cântico, ou de meditação silenciosa, ou falando, ou mesmo através de uma peça ou dança, pois as circunstâncias de culto não são estritamente reguladas pela palavra de Deus. O motivo pela qual Bahnsen e outros[57] tentam colocar os hinos de adoração fora da categoria de elementos de culto é para que possam colocar o conteúdo dos hinos de adoração na mesma categoria da oração ou pregação. A razão para este subterfúgio é simples. Se os hinos de adoração forem somente meios ou circunstâncias tal qual a “oração, louvor, exortação, ou ensino,” como Bahnsen alega, então os homens estão autorizados a compor seus próprios hinos de louvor não-inspirados. A Bíblia claramente permite que os crentes componham o conteúdo da oração e pregação; assim, os homens podem compor o conteúdo de seus cânticos (contanto que tal conteúdo seja bíblico).
Embora seja verdade que o cântico, o ensino, a oração e a pregação possuem certamente aspectos em comum (e.g., muitos Salmos contêm oração, orações podem conter louvor, sermões podem conter oração e súplica, etc.), a idéia de que os cânticos de louvor não são um elemento distinto de culto deve ser rejeitado pelas seguintes razões. Primeiro, a idéia de que o cântico de louvor não é um elemento distinto de culto é claramente contraditada pela Escritura. Quando a Bíblia ordena um ato religioso e regula esse ato quanto ao conteúdo e a maneira de desempenhá-lo, esse ato não pode ser considerado como mera circunstância de culto, mas imediatamente se torna um elemento de culto. As Escrituras contêm muitos ordens para louvar a Deus por meio de cânticos (Êxodo 15:21; 1 Crônicas 16:9, 23; Salmos 9:11; 30:4; 33:2, 3; 47:6, 7; 66:2; 68:4, 32; 81:1; 95:1; 96:1, 2; 98:1, 4, 5; 105:2; 135:3; 147:7; 149:1, 3, etc.). Deus colocou um livro de hinos, um livro de cânticos de adoração inspirado no meio de nossas Bíblias, mas ele não nos deu um livro de orações. Cantar louvores foi um importante e necessário aspecto do culto ao longo da história registrada do povo da aliança. Além disso, as Escrituras enfatizam que a inspiração divina era necessária para escrever hinos de adoração. Este fato imediatamente coloca o conteúdo do louvor fora das circunstâncias de culto. Afirmar que a ordem específica de Deus para cantar louvores pode ser cumprida ensinando escola dominical, ou pregando um sermão, ou mesmo conduzindo a congregação em oração é absurdo.
Segundo, a idéia de que cantar louvores não é um elemento distinto de culto, pode, se consistentemente sustentada, levar ao caos litúrgico. Em outras palavras, alguns pastores em seu ardor por refutar a salmodia exclusiva tem inventado uma idéia que se, levada às suas conclusões lógicas, conduz ao absurdo. Por exemplo, se louvar a Deus por meio de cânticos é somente uma circunstância de culto (i.e., é meramente uma maneira possível entre outras de louvar a Deus), então cultuar a Deus louvando-O é opcional. Lembre-se, as circunstâncias de culto são aquelas coisas que não são ordenadas nem estritamente reguladas pela palavra de Deus. Se uma igreja decidisse jogar seus saltérios na lata do lixo e parar de cantar juntos, então, de acordo com Greg Bahnsen, Vern Poythress, e outros, essa igreja não pode ser disciplinada pelo Presbitério. Se cantar louvores é somente uma circunstância de culto, então disciplinar uma igreja que se recusa a cantar louvores seria o mesmo que disciplinar uma igreja por usar poltronas acolchoadas ao invés de cadeiras de madeira.
Além do mais, se cantar e ensinar não são partes ou elementos separados do ato de culto, então as mulheres estão proibidas pela Escritura de cantar na igreja, porque as mulheres são explicitamente proibidas de ensinar e pregar no culto público (1 Timóteo 2:12; 1 Coríntios 14:34-35). A tentativa de colocar o cântico sob a categoria geral de ensino para que se possa compor letras não inspiradas de louvor conduz a dificuldades insuperáveis. Se cantar, ensinar, ou orar não são elementos distintos ou partes do culto religioso, então se poderia ter legalmente um ato na igreja no qual tudo (incluindo o sermão) poderia ser cantado, ou então nada poderia ser cantado. Aqueles autores que tentam obscurecer a distinção bíblica entre elementos separados ou partes do culto não podem sequer construir um serviço de adoração sem condenar sua própria posição. Quando conduzem a adoração, eles fazem “rígidas distinções entre oração, a pregação da Palavra, a leitura das Escrituras, e o cânticos de salmos ou hinos.”[58] Se não fizessem distinções entre os elementos ou partes do culto, eles seriam despedidos – e eles sabem disso.
Terceiro, o argumento inteiro de que cantar louvores é uma circunstância de culto é baseado sob uma perversão do significado de circunstância. Quando os teólogos Puritanos e Presbiterianos do passado, bem como os Teólogos de Westminster falaram sobre circunstâncias de culto, eles deixaram bastante claro que estavam discutindo somente coisas no culto que não possuíam significado religioso.
A Confissão de Fé diz,
O completo conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para sua própria glória, a salvação, fé e vida do homem, ou está expressamente declarado na Escritura ou pode ser deduzido dela por conseqüência boa e necessária: ao que nada, em tempo algum, se acrescentará a ela. Entretanto, reconhecemos que há algumas circunstâncias concernentes ao culto a Deus, e ao governo da igreja, comuns às ações e sociedades humanas, que devem ser ordenados pela luz da natureza e prudência cristãs, de acordo com as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas.[59]
Quando a Confissão fala sobre circunstâncias comuns às ações e sociedades humanas, ela está se referindo à atividades não-religiosas e assuntos tais como o local de encontro, cadeiras, luzes, a hora de se reunir, a duração da reunião, etc. Cantar louvores a Jeová é comum às ações e sociedades humanas? E pregar a palavra ou orar? É óbvio que assuntos que dependem de instrução da palavra de Deus, tais como oração, pregação, cântico de louvores, e assim por diante, não podem ser circunstâncias de culto. Isto é, eles não podem ser determinados simplesmente à luz da natureza. Portanto, o princípio regulador se aplica a próprio culto e à todas as ordenanças de culto (oração, leitura das Escrituras, pregação, sacramentos, cântico de louvores); mas, as circunstâncias, incidentais, ou condições sob as quais o culto é conduzido não estão sob o princípio regulador, mas sob a luz da natureza e da prudência cristã ou senso comum. Portanto, a Escritura regula estritamente o conteúdo completo da adoração (i.e., não é permitido aos homens adicionar, subtrair, ou alterar o que Deus ordenou).
Essa distinção entre as circunstâncias e partes (ou elementos) da adoração religiosa foi a posição Reformada do século dezessete. A definição dada na Confissão de Westminster é claramente refletida nos escritos dos grandes teólogos daquele tempo. George Gillespie (1613-1648) escreveu:
Ao lado de tudo isto, nada há que pertença ao culto a Deus que tenha sido deixado às determinações das leis humanas, além das meras circunstâncias, as quais não têm qualquer santidade em si, nem nenhum outro uso e louvor no que é sacro além do que tem no secular, não sendo sequer especificadas na Escritura, porque são infinitas; contudo as cerimônias de significado religioso, tais como a cruz, o ajoelhar-se, a túnica, dias santos, bispado, etc., que não têm nenhum uso e louvor exceto somente na religião, e que, também, eram mais facilmente determinadas (ainda que não sendo) dentro daqueles limites que a sabedoria de Deus fixou em sua palavra escrita, tais coisas Deus nunca deixou à determinação de qualquer lei humana.[60]
Samuel Rutherford (c. 1600-1661) escreveu:
Por ações ou meios de adoração religiosa, ou circunstâncias físicas, não morais, nem religiosas, como sendo o púlpito de pedra ou de madeira, o sino desse ou daquele metal, a casa de adoração desse ou daquele jeito.[61]
William Ames (1576-1633) escreveu:
As circunstâncias externas são todas aquelas que pertencem à ordem e a decência. 1 Coríntios 14:40. Que todas as coisas sejam feitas decentemente e com ordem. Porém a regra geral destas que estão sendo ordenadas é que seja feito para maior edificação. 1 Coríntios 14:26. Desta natureza são as circunstâncias de lugar, tempo, e semelhantes, que são comuns nos ajuntamentos religiosos e atos civis. Portanto, embora tais circunstâncias venham a ser chamadas de ritos, e cerimônias religiosas ou eclesiásticas, contudo, elas nada tem por natureza que seja próprio à religião, e portanto o culto religioso não consiste propriamente delas.[62]
John Owen (1616-1683) escreveu:
É dito que os homens nada podem acrescentar à substância da adoração a Deus, mas que eles podem ordenar, dispor, e apontar as coisas que pertencer ao modo e às circunstâncias desta [adoração], isto é, tudo quanto é feito na prescrição da liturgia. Das circunstâncias da e na adoração a Deus nós temos dito antes, e distinguido o que pretendemos: que não é fazer distinção das coisas de Deus onde elas mesmas não são distinguíveis. Nada há, realmente, que em toda sua natureza seja apropriada para o sentido geral das coisas circunstancias, caso tenha sido apontada por Deus para sua adoração, [pois desse modo,] torna-se parte da substância desse culto; nem pode qualquer coisa que é assim apontada ser de qualquer modo feita uma circunstância de sua adoração. [63]
Quando eminentes presbiterianos e puritanos do passado cuidadosamente delinearam as diferenças entre as circunstâncias de culto e as partes ou elementos de culto, eles freqüentemente estavam refutando a noção antibíblica com respeito ao culto defendida pelos teólogos episcopais. Dado o fato de que os argumentos usados por Gillespie, Rutherford, Ames, e Owen também refutam os ensinos de Bahnsen, Poythress, Coppes, Gentry, Jordan, Crampton, Frame, e a maioria dos autores da OPC [Igreja Presbiteriana Ortodoxa] relatados (1947), etc., alguém pode honestamente afirmar que a maioria dos conservadores presbiterianos em nossos dias abandonou o ensino da Confissão (1:4) e têm despreocupadamente abraçado uma concepção Episcopal ou Luterana de adoração. Se você pensa que isto é um exagero, me diga quais as igrejas na PCA [Igreja Presbiteriana da América] ou OPC que não celebram dias extrabíblicos (e.g., Natal e Páscoa), e que não usam instrumentos e hinos não-inspirados no culto público.
Quando tais homens argumentam que somente a categoria geral de ensino e louvor são elementos de culto, enquanto todas as várias detalhadas ordenanças de culto[64] são apenas circunstâncias, eles têm todas as intenções e propósitos de destruir o princípio regulador. Se o objetivo geral do serviço de adoração é ensinar, embora os vários métodos de alcançar esse objetivo sejam circunstâncias que são unicamente determinadas pela luz da natureza, então virtualmente casa inovação sob o sol sob ser introduzida no culto público desde que sirva ao propósito de ensino (e.g., grupo de teatro, filmes, comédia satírica, grupos musicais, exibições de arte, jogos, e por aí vai). “Se a igreja julga que sacramentos adicionais podem ser benéficos para o ensino ou louvor, por que os homens não devem instituí-los?”[65] Portanto, estes homens (se tiveram a intenção ou não) têm aberto as portas do dilúvio para virtualmente qualquer coisa que os homens possam pôr sob a categoria geral de louvor: dança litúrgica, incenso, velas, o calendário da igreja, dias santos, etc. Quando homens arbitrariamente redefinem o princípio regulador para introduzir composições humanas não autorizadas no culto, introduziram o fermento do Romanismo e/ou do movimento Carismático em suas denominações. O declínio é inevitável.
Quarto, a idéia de que a Escritura só regula a função geral do culto, tal como louvor ou ensino, é contrária a Confissão de Fé de Westminster. A Confissão não só distingue uma categoria geral, tal como louvor ou ensino como elementos de culto; ao invés disto ela descreve cada ordenança particular de culto que serve como parte ordinária da adoração religiosa.
A Confissão nomeia a “oração com ação de graças,”[66] “a leitura das Escrituras com santo temor; a sã pregação, e a consciente atenção à palavra, em obediência a Deus, com entendimento, fé, e reverência; o cântico dos salmos com graça no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo; são todas partes do culto comum oferecido a Deus: além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes, e ações de graças em ocasiões especiais, que são, em seus vários tempos e ocasiões próprias, para serem usados de um modo santo e religioso.”[67]
Os autores da Confissão claramente criam que uma autorização ou prova bíblica era requerida para cada parte distinta do culto. Isto porque casa elemento distinto de culto é textualmente provado pela Confissão.
Isbell escreve,
Muitas das ordenanças de culto cumprem uma função pedagógica. Entre elas estão a leitura das Escrituras, a pregação da Palavra, o cântico de Salmos, o batismo e a ceia do Senhor. Já que a Escritura instituiu cada uma dessas partes da adoração, o princípio regulador se origina dessas ações, requerendo o uso específico delas, e excluindo quaisquer outras formas de adoração da igreja.[68]
A tentativa de alargar a definição das circunstâncias de culto e obscurecer as distinções entre os elementos distintos de culto é anticonfessional e antibíblica. Quando falamos de culto, a Palavra de Deus é bastante específica. A bíblia nos diz o que os elementos de culto são: pregação da Bíblia (Mateus 26:13; Marcos 16:15; Atos 9:20; 17:10; 20:8; 1 Coríntios 14:28; 2 Timóteo 4:2), leitura da Bíblia (Marcos 4:16-20; Atos 1:13; 13:15; 16:13; 1 Coríntios 11:20; 1 Timóteo 4:13; Apocalipse 1:13), oração a Deus (Deuteronômio 22:5; Mateus 6:9; 1 Coríntios 11:13-15; 1 Tessalonicenses 5:17; Filemon 4:6; Hebreus 13:18; Tiago 1:5), o cântico de Salmos (1 Crônicas 16:9; Salmos 95:1-2; 105:2-1; 1 Coríntios 14:26; Efésios 5:19; Colossenses 3:16). Ela nos diz a quem é lícito participar ou conduzir cada parte: tanto homens quanto mulheres podem ser batizados (Atos 8:12), tanto homens quanto mulheres podem orar (Atos 1:13-14, 1 Coríntios 11:5) e cantar louvores (Efésios 5:19; Colossenses 3:16; Tiago 1:5), mas somente ao homem é permitido pregar e ensinar (1 Coríntios 14:34-35; 1 Timóteo 2:11-14).
A Bíblia também nos fala do conteúdo próprio de cada elemento. A leitura da Escritura requer a leitura de somente a Bíblia. A leitura de apócrifos ou Shakespeare ou livros não-inspirados de teologia não podem ser qualificados como leitura da Escritura. O cântico de louvor requer o cântico de hinos inspirados, e escrever hinos de adoração para o culto público requer inspiração divina, como apontamos anteriormente. Pregação, que é um elemento distinto da adoração, envolve raciocínio bíblico (cf. Atos 17:2-3; 18:4, 19; 24:25); ela envolve explanar ou expor a Palavra de Deus (cf. Marcos 4:34; Lucas 24:27; Atos 2:14-40; 17:3; 18:36; 28:23). Mestres da nova aliança não falam por inspiração divina, mas interpretam a Escritura divinamente inspirada. Essa prática era a mesma no Antigo Testamento; mestres levitas explanavam e interpretavam as leis registradas ao povo da aliança (cf. Neemias 8:7-8; Levítico 10:8-11; Deuteronômio 17:8-13; 24:8; 31:9-13; 33:8; 2 Crônicas 15:3; 17:7-9; 19:8-10; 30:22; 35:3; Esdras 7:1-11; Ezequiel 44:15; 23-24; Oséias 4:6; Malaquias 2:1, 5-8). Outro elemento de culto é a oração. A Bíblia autoriza o uso de nossas próprias palavras na oração contanto que sigamos o padrão ou modelo que nos foi dado por Cristo (cf. Mateus 6:9). Deus prometeu a seu povo que o Espírito Santo iria assisti-los quando eles fizessem suas orações (cf. Zacarias 12:10; Romanos 8:26-27).
O fato de que Deus autorizou o uso de fala não-inspirada quando um cristão prega, ensina, ou ora não significa que Deus também autoriza o uso de material não-inspirado para a leitura das Escrituras e o cântico dos Salmos. Por quê? Porque, como notamos acima, a Escritura (e a Confissão de Fé) trata cada um desses aspectos do serviço de adoração como elementos ou partes diferentes de culto, e também estabelece diferentes regras para cada um desses elementos. Uma vez que alguém atenta para o lugar dos diferentes elementos, ou partes do culto religioso, sob categorias gerais de modo que as regras que se aplicam a um elemento podem ser aplicadas a outro, então se está deturpando o culto apostólico. Usando essas categorias gerais (estabelecidas por Bahnsen e Poythress), alguém pode questionar se, uma vez que é permitido às mulheres orar e cantar louvores, elas também podem pregar. A objeção imediata a essa afirmativa é: “Mas Paulo claramente proíbe as mulheres de pregar e ensinar na igreja.” Essa afirmação é verdade. Contudo, ela é uma admissão tácita de que o Novo Testamento tem diferentes partes de culto que estão sob diferentes regras.
Bushell escreve:
Claramente, se pregar, cantar, e ensinar requerem todos autorizações distintas sobre quem pode executar tais atos no culto, então eles também requerem autorizações distintas sobre seu conteúdo verbal. Observações similares podem ser feitas a respeito do paralelo freqüentemente mencionado entre oração e cântico. Questiona-se que, como nossas orações contêm palavras não-canônicas, nossos hinos também podem. Mas ninguém questionaria que, pelo fato de orarmos no culto nós não precisamos cantar no culto (tomando essas palavras aqui como são geralmente entendidas), ou que pelo fato de termos um “livro de cânticos” para uso na adoração, deveríamos, portanto, permitir um “livro de oração.” O paralelo simplesmente não pode ser mantido de forma consistente. O problema todo com essa linha de raciocínio é que ela abstrai os termos “oração,” “ensino,” “pregação,” e “cântico” de seu contexto bíblico e os trata como se fossem nada mais que fenômenos lingüísticos, ao invés de aspectos bíblicos da adoração. Tal procedimento não é válido e, ao invés de ajudar, conduz a conclusões errôneas. “Cantar,” “pregar,” e “ensinar” assumem todos um conteúdo e um contexto. Não pode se fazer jus a estes conceitos se não se tiver em mente seus contextos.[69]
Como crentes reformados, não devemos abandonar as realizações bíblicas relativas à adoração alcançadas por nossos antepassados espirituais. Abandonar o princípio regulador ou redefini-lo de modo a torná-lo insignificante é abandonar a adoração bíblica e a nossa confissão. Aqueles que semeiam vento irão colher tempestade. Aqueles que pervertem a Escritura para ter Watts, Toplady, e Newton terminarão com Roma, Cantuária, ou Vegas.
II. O Argumento de que Deus não Ordena o Cântico dos Salmos
Outra objeção ao cântico exclusivo dos Salmos é baseada em um falso entendido de como os adeptos da salmodia exclusiva aplicam o princípio regulador. Um panfleto feito por um pastor presbiteriano ortodoxo veiculou que os cantores dos salmos apóiam-se na idéia de que somente os salmos são ordenados pela Bíblia para serem usados na adoração. Os cantores dos salmos sempre reconheceram que outras canções divinamente inspiradas além dos salmos foram usadas para adoração antes do fechamento do cânon. Entretanto, os cantores dos salmos não cantam hinos bíblicos que estão fora do saltério porque eles crêem que Deus pretendeu que somente os salmos fossem para uso perpétuo na igreja. Quem organizou o livro dos Salmos foi o Espírito Santo. Ele não incluiu qualquer hino da Bíblia dentro do Saltério. O fato de que Deus não colocou qualquer hino inspirado dentro de Seu hinário provavelmente indica que alguns hinos inspirados eram para uso somente em ocasiões específicas ou por um período limitado de tempo.
Keddie escreve:
Contesta-se que outras expressões vocais inspiradas como as canções de Moisés (Êxodo 15: 1-19; Deuteronômio 32: 1-43) e Ana (1 Samuel 2: 1-10) no Testamento Velho, e de Maria (Lucas 1: 46-55) e Simeão (Lucas 2: 29-32) no Testamento Novo, eram efusões excepcionais de louvor, de natureza inspirada, em conexão com ‘atos de Deus’ específicos (de modo algum comparáveis a algo como o Magnificat) e não necessariamente para uso perpétuo no [livro de] cântico da Igreja. O ponto é que o livro completo dos Salmos deve ser considerado como o livro de cânticos final[izado] da Igreja. Ele satisfaz as demandas de provisão divina, e é a única coleção de canções de louvor como tal que pode reivindicar inspiração primária e verbal.[70]
Alguém pode discordar deste argumento. Pode ser que alguém o considere uma dedução pouco convincente. Mas, uma vez que não existe a menor evidência bíblica de que hinos não-inspirados jamais tenham sido usados no louvor a Jeová, se tem de haver um debate entre os crentes reformados, este debate deveria ser entre os que cantam exclusivamente os salmos e os cristãos que querem incluir o punhado de outras canções de adoração inspiradas que se encontram fora do Saltério.[71]
Stephen Pribble, no desejo de remover o princípio regulador do culto como o fundamento da Salmodia, exagera seu caso e afirma assim algo totalmente anti-bíblico, que o cântico de Salmos não é claramente prescrito na Escritura. Ele escreve:
Será verdade que ‘os Salmos são claramente prescritos para adoração na Escritura?’ Tão surpreendente quanto isto possa parecer, a resposta é não. É altamente significante que em nenhuma parte na Bíblia somos especificamente ordenados a cantar mizmor, o termo técnico para Salmo. Enquanto há ordens gerais para louvar a Deus, não há nenhum comando para cantar especificamente os Salmos, e uma análise dos hinos de adoração na Bíblia revela que outros materiais além dos Salmos são cantados na adoração.[72]
Pribble argumenta que alguém deve encontrar na bíblia uma ordem específica para cantar mizmor para que possa ter uma reivindicação legítima de que a Bíblia nos ordena a cantar Salmos. Então ele argumenta que as palavras hebraicas traduzidas por salmo (e.g., NKJV), usadas pelos cantores dos salmos como prescrição divina para cantá-los, nada mais são que termos genéricos que significam "cantar" ou "cantar louvor" (zammerv), ou "cantar canções" (zemirot, zimrah).[73] Pribble também mostra (corretamente) que a expressão "cantar louvor" é usada de canções de louvor que estão fora do saltério bíblico.[74]
Com respeito ao argumento de Pribble, a primeira questão é que nós devemos responder é, “é necessário encontrar um imperativo divino ligado à palavra mizmor para concluir que o cântico de Salmos é ordenado por Deus?” Há várias estrondosas razões exegéticas pelas quais o argumento de Pribble deve ser enfaticamente rejeitado. Primeira, quando lemos repetidamente no livro dos Salmos que Deus ordena seu povo a cantar louvores, como podemos identificar o conteúdo destes louvores? O que Deus tinha em mente quando disse “cante louvores”? Dado o fato de que a ordem para cantar louvores e cantar hinos é encontrada ao longo dos Salmos (9:11; 18:49; 27:6; 30:4, 12; 47:7; 59:17; 75:9; 95:2; 98:5; 101:1; 104:33; 105:2; 119:54; 135:3; 146:2), é um conceito absurdo discutir que a ordem para cantar louvores ou cantar salmos não se aplica ao Saltério. Quando um profeta divinamente inspirado escreve um hino de adoração e o hino de adoração contém a ordem para cantar louvores qualquer um usando a lógica simples concluiria que a ordem nem que seja minimamente se aplica à canção na qual foi dada.[75] Se Shakespeare desse um livro de ensaios a um amigo e dissesse “leia ensaios” a pessoa imediatamente concluiria que Shakespeare queria que ela lesse os ensaios ligados à exortação.
Segundo, a tentativa de Pribble de limitar a ordem para cantar Salmos à ordem para cantar mizmor não se ajusta à informação bíblica com respeito ao louvor. A palavra hebraica tehillah significando louvor e traduzida por cântico de louvor ou salmo de louvor (KJV) é usada nos Salmos (e.g., Salmos 22:25; 33:1; 34;1, etc.), como título de um salmo (Salmo 145), e em sua forma plural no Saltério inteiro. O verbo é usado como um chamado à adoração a Jehovah – “Vós que temeis ao Senhor, louvai-o” (Sl. 22:23). E também, é usado no louvor na congregação (Salmo 22:22). (Note, a tradução da Septuaginta traz a palavra hebraica ekklesia para congregação.) Apesar deste termo (tehillah) ser aplicado a cânticos fora do Saltério não há dúvidas de que a ordem para louvar a Jehovah inclui o Saltério.
James Limburg escreve:
O substantivo tehillim, ‘louvores’, é derivado da raiz hebraica hll, ‘louvor’. Aquela raiz também aparece em ‘hallelujah’ (‘louve Yah, ou ‘Yahweh’), encontrada unicamente no Saltério, sempre no início ou no fim dos salmos (104:35; 106:1, 48; 113:1, 9; 146-50, iniciando ou fechando os tais, etc.). O substantivo ‘louvor’ ocorre freqüentemente nos salmos: ‘E pôs um cântico novo em minha boca, um cântico de louvor (tehilla) ao nosso Deus’ (40:3; e também 2:25; 33:1; 34:1; 48:10, etc.). O Salmo 145 é o único salmo designado como tehilla em seu título, traduzido como ‘Cântico de Louvor’. De 206 ocorrências de hll, ‘louvor’ no Velho Testamento (146 verbais, 60 nominais), cerca de dois terços estão nos salmos ou em frases tiradas dos salmos... Porque a coleção dos salmos contêm tantas expressões de louvor a Deus, ficou conhecida como ‘louvores’ ou Tehillim.[76]
Os cantores de salmos podem reivindicar ter uma prescrição clara na Escritura para cantar os Salmos no culto? Absolutamente! Por acaso somos nós que acreditamos que o termo hallelujah que significa louve Yahweh, e que só ocorre no Saltério, é um termo geral que não diz respeito aos Salmos? Tal raciocínio é absurdo.[77]
Terceiro, (como dissemos no início de nosso estudo) todo exemplo histórico na Escritura de santos escrevendo hinos de adoração envolvem inspiração divina (e.g., Êxodo 15:20-21; 2 Samuel 23:1, 2; 1 Crônicas 6:39; 15:17; 16:5ff.; 25:1-7; 2 Crônicas 5:12; 29:25-30; 34:30; 35:15; 2 Reis 23:3; Salmos 39, 62, 77 [títulos]; Mateus 22:34-44; Marcos 12:36; Atos 1:16-17; 2:29-31; 4:24-25). Davi, Hemã, Asafe, e Jedutum são chamados profetas ou videntes. E também, todo exemplo histórico do povo de Deus na bíblia cantando louvores envolve tão-somente hinos divinamente inspirados (e.g., Êxodo 15:1; 2 Samuel 1:18; 1 Crônicas 16; 2 Cr. 5:13; 20:21; 23:13; etc.). Dado o registro bíblico, não há, sob hipótese alguma, permissão divina para definir “cantar louvores” de maneira a abranger hinos não-inspirados. Uma vez que a revelação divina cessou com a morte dos apóstolos e o fechamento do cânon, o muito que Pribble poderia argumentar seria pela inclusão da leva de outros cânticos de louvor divinamente inspirados que não foram incluídos no saltério bíblico. Se alguém seguir os padrões bíblicos de interpretação da Escritura (i.e., a hermenêutica gramatical-histórico-teológica) e princípios simples de lógica, o argumento de Pribble deve ser rejeitado. O contexto (tanto o geral quanto o específico) é o que determina o significado de uma palavra, não nossas próprias preconcepções.
III. O Argumento quanto a não poder Cantar o Nome de Jesus
Um dos argumentos mais populares contra a salmodia exclusiva é que "se nós cantamos somente os salmos então tiramos da igreja a oportunidade de louvar nosso Salvador usando Seu nome como o mediador entre Deus e os homens (Jesus)." Embora muitas pessoas considerem este como um poderoso argumento contra a salmodia exclusiva, na realidade ele não é mais do que um apelo sentimentalista sem fundamento bíblico. Há uma série de razões pelas quais esse argumento é falacioso.
Primeira, em nenhum lugar da Bíblia somos ordenados a cantar o nome "Jesus". Se Deus preferisse o nome Jesus acima de outras designações bíblicas para nosso Senhor (e.g., Emanuel, Yahweh, Senhor, Salvador, Jeová Tzidkenu [cf. Jr. 23:5-6], o Príncipe da Paz, Messias, o Cordeiro de Deus, o Filho de Deus, o Filho do Homem, etc.), então ele teria revelado Sua vontade para nós a esse respeito na Bíblia.
Segunda, não é à palavra "Jesus" que nós devemos servir, exaltar, adorar e glorificar, mas o que ou quem a palavra representa ou aponta. Não há nada de intrinsecamente sacro, místico ou santo em torno da palavra "Jesus." Nós respeitamos este nome e não o usamos de maneira irreverente por conta da Pessoa por trás dele. Estudiosos da Bíblia admitem que a expressão bíblica em o nome se refere sempre ao reconhecimento da pessoa que é nomeada. Quando Paulo diz, "que ao nome de Jesus todo joelho se dobre" (Filipenses 2:10), ele se refere ao reconhecimento do poder, autoridade e majestade de Jesus.
Matthew Henry escreve:
Ao nome de Jesus; não ao som da palavra, mas à autoridade de Jesus; todos devem prestar uma solene homenagem. E toda língua deve confessar que Jesus Cristo é Senhor – toda nação e língua deve publicar o império universal do Redentor exaltado, pois todo poder nos céus e na terra é dado a ele, Mateus 28:18.[78]
João Calvino concorda:
...Paulo fala da completa dignidade de Cristo, restringir seu significado a duas sílabas é o mesmo que examinar atentamente as letras da palavra Alexandre para encontrar nelas a grandeza de nome que Alexandre adquiriu para si. Sua sutileza, portanto, não é consistente, e essa invenção foge à intenção de Paulo. Porém mais ridícula ainda é a conduta dos sofistas de Sorbonne, que inferem da passagem que nós devemos dobrar os joelhos sempre que o nome de Jesus for pronunciado, como se fosse uma palavra mágica que possuísse em seu som todas as virtudes. Paulo, por outro lado, fala da honra que deve ser prestada ao Filho de Deus – não a meras sílabas.[79]
John Gill faz esta importante observação:
Que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, &c.] Isto se entende, não pelo ato de dobrar os joelhos ao ouvir o nome, e as sílabas do mero nome Jesus pronunciadas; pois o nome sozinho não pode incitar um tão peculiar respeito; esse era um nome comum entre os Judeus: Josué é assim chamado em Hb. iv. 8 e o nome de Elimas, o feiticeiro, era Barjesus; que é, o filho de Jesus, Atos xiii. 6. Ora, não seria monstruosamente ridículo e estúpido, para um homem, ao ouvir essa passagem, e o pronunciar dessa palavra, dobrar seus joelhos? Além do mais, as palavras não modificam nada, mas o nome de Jesus; isto é, em e por razão do poder, autoridade, e dignidade de Jesus, como exaltado à mão direita de Deus, toda criatura deve sujeitar-se a ele.[80]
Uma vez que os Salmos reconhecem de forma eloqüente e abundante o poder, autoridade e majestade de Cristo tão bem quanto definem Suas características e ministério, eles exaltam Seu glorioso nome porque exaltam Sua pessoa. Ignorar esse ponto e querer que se use a palavra "Jesus" nos cânticos de louvor é supersticioso e irracional.
Terceira, a idéia de que os sinônimos da palavra "Jesus" são biblicamente inadequados para o louvor é desaprovada pelo fato de que o próprio Deus não considerou a preservação de Seu nome pactual como importante. O nome pactual de Deus (YHWH) é a mais freqüente designação do Deus triuno na Escritura, ocorre 5.321 vezes. Esse nome foi dado pessoalmente a Moisés quando ele pediu que Deus revelasse Seu nome aos filhos de Israel (Êxodo 3:13). Deus responde pela revelação de Seu nome da aliança – o tetragrama hebraico (i.e., quatro consoantes) YHWH traduzido como "Senhor" (KJV, NKJV, RSV, NIV, NASB, A New Translation of the Holy Scriptures according to the Masoretic Text [A Nova Tradução da Escritura Sagrada de acordo com o texto Massorético]), "Jeová" (ASV), ou "Yahweh" (Bíblia de Jerusalém). Quando Deus falou esse nome a Moisés, Moisés ouviu a pronúncia apropriada (i.e. ele soube que vogais apropriadas eram) e transmitiu a pronuncia correta ao povo da aliança. Com o tempo, porém, a pronúncia correta da palavra se perdeu para sempre porque os Judeus, por medo de violarem o terceiro mandamento, nunca pronunciavam o nome pactual de Deus. Ao invés disso, se eles tivessem de dizer YHWH ele diriam Adonai ou Senhor, ou outro nome para Deus. Como resultado disto, todas as modernas transliterações de YHWH (e.g., Jeová, Yahweh) são, na melhor das hipóteses, suposições. Portanto, as várias seitas que consideram a Bíblia Protestante como corrupta porque ela usa a palavra Senhor ao invés de Jeová ou Yahweh são ignorantes da história. O ponto central dessa discussão a respeito do nome pactual de Deus é que Deus não considerou como importante preservar Seu próprio nome pactual. Quando cantamos os salmos ou lemos nossas bíblias (não importa a tradução) não estamos lendo ou cantando o nome pactual de Deus. Nós estamos, entretanto, lendo ou cantando um sinônimo que parece ser adequado na medida em que significa Deus.
Quarta, o próprio Jesus Cristo considerou o sinônimo bíblico como perfeitamente aceitável para a adoração pública. Note a forma batismal proferida pelos próprios lábios do nosso Senhor: "batizando-os em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). As únicas pessoas que este autor tem conhecimento de que exigem que se diga a palavra "Jesus" durante o batismo são os pentecostais anti-trinitarianos do "Somente Jesus." Cristo nos ensina que não precisamos dizer a palavra " Jesus" para o batismo bíblico. A referência à segunda pessoa da trindade é suficiente. Portanto, seguindo o raciocínio de nosso Senhor, as abundantes referências à pessoa e obra de Cristo são perfeitamente aceitáveis como louvor no Novo Testamento.
Quinta, os autores do Novo Testamento escreveram sob inspiração divina substituindo a palavra grega kyrios (Senhor) pela palavra hebraica que significa o nome pactual de Deus (Yahweh ou Jeová) quando citaram passagens do Antigo Testamento (e.g., Mateus 3:3; Isaías 40:3; Atos 2:20-21; Joel 2:31,32; Marcos 1:3; Isaías 40:3; Atos 2:25; Salmo 16:8; Atos 2:34; Salmo 68:18, etc.). Ao fazer isto eles geralmente seguiam a tradução grega do Antigo Testamento (a Septuaginta) comumente usada pelos judeus falantes do grego naqueles dias. Se houvesse qualquer coisa de especial ou única em torna da palavra Jeová em si, mais do que a verdade ou significado por trás da palavra, então tal substituição não teria sido bíblica. Se sabemos que a palavra Senhor nos salmos se refere a Jesus Cristo, então cantá-la é sempre tão honroso quanto pronunciar a própria palavra "Jesus."
Sexta, aqueles que apelam à idéia de que devemos cantar o nome Jesus são inconsistentes. O mediador entre Deus e os homens nunca se chamou Jesus. Seu nome era Yehoshua, não Jesus. Não conhecemos nenhum hino não inspirado que fale de Yehoshua (com exceção do Movimento Judeu Messiânico). Alguém pode objetar o seguinte, "sim, mas Jesus é uma transliteração da palavra grega (Iesous) que é uma transliteração da palavra hebraica Yehoshua. Portanto a palavra portuguesa Jesus representa Yehoshua." Isto é verdade. Contudo, isto não prova que a palavra Jesus "é mais importante em nossos lábios do que outros nomes pelos quais Deus se fez conhecido."[81] Quando os cantores dos salmos louvam o redentor cantando os hinos inspirados da Bíblia eles estão adorando a Jesus Cristo da maneira que Ele ordenou. Isto é o que agrada a Deus. Não há evidência de que Deus prefira o nome de Jesus acima de outras designações. O argumento do nome Jesus é uma suposição sem evidência.
Sétima, o nome Jesus ou Yehoshua significa Jeová é salvação. O nome que foi dado por um anjo à Maria indicava a missão da criança. "E lhe porás o nome JESUS, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles" (Mateus 1:21). O propósito do nome é ensinar sobre a missão de Cristo como o redentor dos eleitos de Deus. Os Salmos ensinam sobre a missão de Cristo como Salvador? Sim, eles fazem isso abundantemente (e.g., Salmos 2:7-12; 8:5; 16:9-11; 22; 24:17-10; 35:11; 40:7-9; 41:9; 45:6ff.; 47:5; 50:3-4; 68:18; 69; 72; 110; etc.). Dado o fato de que o Saltério nos apresenta um claro retrato de Cristo e Sua obra redentiva, a idéia de que devemos cantar o nome de Jesus para adorá-Lo da forma correta é simplesmente falsa. Novamente deve-se enfatizar que o importante é o que o nome representa ou aponta. Depois que alguém entenda a riqueza doutrinária contida no Saltério, ele irá entender que o argumento do nome de Jesus realmente é só uma desculpa para desviar-se do todo-suficiente manual de louvor que Deus nos deu -- os Salmos.
IV. O Argumento da Métrica dos Salmos
Um argumento muito comum contra a salmodia exclusiva está baseado na suposição de que as versões metrificadas dos salmos para o cântico (i.e., os salmos traduzidos de maneira que possam ser musicados e rimados, etc) realmente não são traduções dos salmos mas, no melhor dos casos, são paráfrases grosseiras do original hebraico. Assim, argumenta-se que o cântico dos salmos metrificados é pouco ou nada diferente do cântico de hinos não-inspirados baseados na Escritura ou que ensinam a história da redenção. Em outras palavras, também são composições humanas, e se elas são permitidas as outras também têm de ser.
Embora comum, há muitos modos de refutar esse argumento. Primeiro, note que o argumento inteiro é baseado sobre uma analogia não-bíblica e imoral. O argumento assume que se um grupo de pessoas distorce o significado original dos salmos por meio de uma tradução ruim ou defeituosa essas pessoas permitam que outras utilizem hinos que são composições humanas. Em outras palavras, se um grupo A faz algo errado, o grupo B também pode fazer algo errado. Se realmente é verdade que alguns crentes reformados estão usando versões métricas defeituosas, malfeitas, dos salmos, então nossa resposta como cristãos nunca deve ser “Vamos fazer igual” ou “Nos deixe ir além ignorando completamente os salmos inspirados.” Mas deve ser, “Irmão, se arrependa! Há disponíveis saltérios excelentes, fidedignos. Você não precisa usar uma tradução defeituosa!” Aos irmãos que usam esse argumento nós fazemos uma pergunta simples, “O fato de que algumas igrejas usam paráfrases terríveis da Bíblia para a leitura da Escritura no culto público justifica o uso de textos cristãos não-inspirados ao invés da Bíblia?” Não, é claro que não! Então, traduções pobres dos salmos não justificam hinos de autoria humana.
Segundo, muitos que usam o argumento da métrica dos salmos assumem que as versões métricas dos salmos (em virtude do fato de que eles devem ser parafraseados para rimar e se ajustar à música) são necessariamente traduções ruins. Ou seja, é impossível ser fiel à Escritura com um salmo metrificado. Esse argumento deve ser rejeitado porque é baseado em uma falsa suposição. Os salmos métricos podem e têm sido traduzidos da língua original com fidelidade e precisão. Ademais, mesmo que não fosse assim, isto não justificaria o uso de hinos de composições humanas. Se um crente afirma que os salmos metrificados são inerentemente defeituosos e assim não-confiáveis para o mandamento bíblico de cantar salmos no culto, então ao invés de mudar trocá-los por canções não-inspiradas ele deveria, cantar durante o culto, os salmos em seu fraseado original (i.e., tirados de uma tradução mais literal da Bíblia)
Terceiro, o argumento dos salmos métricos, para ser consistente, requereria que no culto público a leitura da Escritura fosse feita nas línguas originais (hebraico, aramaico, grego). Qualquer um familiarizado com a tradução bíblica entenderia que uma tradução absolutamente literal, palavra por palavra, do texto grego e hebraico é impossível. Até as melhores, as mais literais traduções em uso hoje (e.g., KHV, NKJV, ASV, NASB) tem de recorrer às vezes à uma frase ou múltiplas palavras para designar com precisão o significado de uma única palavra hebraica ou grega. Ademais, é importante que uma tradução procure o tanto quanto possível a majestade de estilo e elegância da linguagem original. Deus ordena seu povo a ler as Escrituras e a cantar os salmos. Isto requer tradução.[82] No caso dos cânticos isto pode às vezes requerer uma tradução métrica. O importante é que a igreja de Cristo seja o tanto quanto for possível fiel à linguagem original na tradução da palavra de Deus. Mas uma vez, se a tradução da Bíblia ou dos salmos é imprecisa, defeituosa ou mal-feita, de qualquer maneira a solução não é descartar as santas Escrituras, basta fazer um trabalho melhor, uma tradução mais fiel. Precisão não é uma opção, mas uma exigência. Enquanto elogiamos nossos irmãos por se preocuparem com a questão da necessidade de traduções precisas dos salmos, devemos rejeitar suas tentativas de driblar a exigência de Deus quanto ao cântico de hinos inspirados na adoração pública.
3. Conclusão
Após examinar os argumentos mais comuns em uso hoje contra a salmodia exclusiva, podemos chegar a somente uma conclusão. Os argumentos contra a salmodia exclusiva não são baseados em uma exegese sã da Escritura. Mas são tentativas vãs de justificar tradições humanas que não têm nenhuma autorização divina. Pedimos a nossos irmãos que defendem o uso de hinos não-inspirados no culto para nos fornecer um mandamento bíblico ou exemplo histórico que apóie sua posição. Não há nenhum. E como não encontramos a mínima evidência bíblica para o uso de cânticos não-inspirados no culto público da nova aliança, iremos permanecer fiéis a Escritura e aos feitos de nossos pais espirituais reformados. Retornemos ao simples, ao culto sem adornos da igreja apostólica e aos padrões de Westminster. (cf. Confissão de Fé, 21:5).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Este blog tem uma defesa da Salmodia cuja lógica é ótima, se puder, leia:
ResponderExcluirhttp://lgfreire.blogspot.com/2010/02/excelencia-dos-salmos-no-canto-da.html